Partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), o Republicanos elegeu 46 vereadores que disputaram as eleições com alguma denominação religiosa em seu nome de urna: do Irmão Mesaque Salazar, eleito vereador com 125 votos em Maraã, cidade de 18 mil habitantes a dois dias de barco de Manaus, até o Bispo João Batista, eleito com 4.679 votos em São Bernardo do Campo (SP).
Esses dados não indicam com precisão, entretanto, quantas pessoas ligadas à Universal se elegeram para cargos nesta eleição. Isso porque a igreja, cuja ação política está na origem e ainda é parte importante do Republicanos, elegeu nomes importante em capitais sem o uso de prenomes religiosos.
Em São Paulo, por exemplo, o vereador André Santos foi o décimo candidato mais votado, com 41.584 votos – ele foi o líder de votos do Republicanos na capital paulista. André, antes de tomar posse do seu primeiro mandato em 2017, era bispo da Igreja Universal. O mesmo aconteceu no Rio de Janeiro, onde o bispo Inaldo Silva teve 21 mil votos e foi o 12º mais votado.
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Em Salvador, o “Amigo” Luiz Carlos, pastor da igreja do Bispo Edir Macedo, foi o mais votado com 17.035 – a cidade também elegeu Ireuda Silva, que já atuou como diretora da IURD TV e Julio Santos, bispo na cidade, para a Câmara Municipal. Em Belo Horizonte, o pastor Jorge Santos foi reeleito para um terceiro mandato com 7.700 votos. Jorge, assim como todos os outros citados, foi eleito sem se valer das alcunhas de bispo ou pastor para conseguir votos.
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Oficialmente, a Universal diz que política e religião não se misturam. “Como instituição religiosa, a Igreja Universal do Reino de Deus não participa do processo eleitoral”, afirmou a igreja em nota enviada à reportagem. “Além disso, todo membro do corpo eclesiástico que decide ingressar na carreira política licencia-se de suas funções na Igreja, passando a se ocupar exclusivamente da atividade pública”. A entidade também disse não ter um controle de membros que se candidataram a cargos e acabaram eleitos.
Não é bem o que indica quem estuda a relação da instituição com a política. “A Universal inaugurou este tipo de política, lá na década de 1980, já na redemocratização”, explica Lívia Reis, que é pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O modus operandi para eleger pastores a cargos políticos passa pelo uso da estrutura da Igreja – cuja narrativa de nascimento no coreto ao império com canal de TV e presença mundial já está no imaginário brasileiro: “Eles [os candidatos] utilizam tanto a estrutura institucional quanto a estrutura partidária do Republicanos”, explicou Lívia, que resumiu: “Esta estratégia de candidaturas da Universal passa necessariamente pelo Republicanos.”
A fórmula do sucesso
O uso exclusivo do Republicanos – nascido em 2005 dentro da Igreja Universal e até hoje comandada por um de seus bispos licenciados, o deputado Marcos Pereira (SP) – seria a fórmula do sucesso para o aumento do seu capital político.
Uma série de dados coletados pela cientista política Flávia Babireski, pesquisadora do Laboratório de Partidos e Sistemas Partidários da Universidade Federal do Paraná (LAPeS/UFPR), aponta a proposta de organização nas eleições nacionais: na eleição de 2006, em que participou ainda sob o nome de Partido Republicano Brasileiro (PRB), a Iurd lançou menos de 15% dos seus candidatos pela legenda, valendo-se de nomes no PTB, DEM e MDB. Desde 2010, porém, 100% dos candidatos estavam vinculados ao PRB – e não há indicativo de que isso tenha mudado.
“A Universal é muito centralizada, uma instituição só no Brasil inteiro – então tem uma estrutura hierárquica muito coordenada , muito bem pensada”, explicou Flávia, que é doutoranda na UFPR e tem como objeto de estudos os partidos confessionais. “Então fazer essa coordenação política paralela é muito fácil. Saber quem é o candidato oficial da Igreja, a Universal sabe.”
Segundo Flávia, isso dá à Universal uma vantagem sobre a Assembleia de Deus (AD), que é a maior denominação evangélica do Brasil. Além de uma fragmentação partidária na hora de suas candidaturas (que passaram por 11 legendas diferentes em 2014), a AD tem autonomia em cada um dos seus ministérios e pastores. “Ela tem menos coordenação e estratégia, e fica muito mais dispersa”, ponderou.
Flávia ressalta que, em uma perspectiva geral, as denominações pentecostais têm uma diferença fundamental sobre a Igreja Católica: apesar de totalmente centralizada como a Universal, normas internas impedem a candidatura de qualquer um de seus representantes.
Bancada evangélica
Em um levantamento apresentado pelo Congresso em Foco com exclusividade em setembro, 105 deputados e 15 senadores fazem parte da bancada evangélica no Congresso Nacional. O número, que era de 21 deputados há 25 anos, hoje representa 20% das cadeiras da Casa.
A fragmentação em 5.571 municípios em 26 estados torna a criação de uma frente municipal de pastores evangélicos, como a do Congresso, uma tarefa muito mais complicada. Mas, características próprias da política municipal, influenciam nesta dinâmica. “A política local é muito mais próxima do eleitor, com contato mais direto”, argumenta Flávia.
E, por esta proximidade, que uma igreja – e seus líderes – podem fazer diferença na hora do voto. Nas eleições de 2020, o Republicanos se tornou a 10ª maior legenda do país, ganhando espaço na direita brasileira: a legenda comandará, com seus prefeitos, uma população de quase 7 milhões de pessoas e um PIB de R$ 176 bilhões.
O quanto disso fará da Universal uma igreja poderosa politicamente é difícil de medir. O Iser planeja esquadrinhar as filiações religiosas dos vereadores das 26 capitais estaduais – mas este esforço deve ser publicado apenas em meados de 2021, calcula Lívia.
Vixe….quando o “rodrigo” souber, vai fazer um haraquiri baiano!