Ex-assessor da Presidência da República, o advogado Arthur Weintraub confirmou ter assessorado “como pesquisador”, o presidente Jair Bolsonaro sobre temas sanitários no combate à pandemia de covid-19. Arthur aparece em um video publicado neste sábado (5), no canal do YouTube de Abraham Weintraub, seu irmão e ex-ministro da Educação.
Arthur disse que não chefiou nenhum gabinete paralelo no combate à pandemia. “Cara, eu não organizei gabinete – eu fazia contatos científicos e trazia as informações pro presidente. Dentro disso, eu fiz um evento, em agosto de 2020, no Palácio do Planalto”, afirmou. “E nesse evento, se se for olhar o que eu falei, eu defendi a liberdade do médico de poder receitar medicamento para seus pacientes.”
O professor reconheceu que esteve em contato com defensores de medicamentos ineficazes no combate à doença, caso da oncologista Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto. Entre defesas à postura do presidente, os irmãos consideram que fizeram um bom trabalho no combate à pandemia – que alcançou neste sábado (5) à marca de 472.531 mortes.
“Era a possibilidade que eu tinha de salvar vidas”, disse Arthur. “E acho que salvei.”
Arthur, um ex-professor universitário alçado a um dos principais assessores do presidente Jair Bolsonaro durante a primeira metade do seu mandato, é acusado por senadores de comandar uma espécie de “gabinete das sombras”, que tomou decisões contrárias ao consenso científico em âmbito federal. Hoje, ele atua como membro da delegação brasileira na Organização dos Estados Americanos (OEA), nos Estados Unidos, em um cargo indicado pelo presidente.
Histórico
No video, o ex-ministro Abraham explica que o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o procurou no início da pandemia, em março de 2020, com um relato assustador sobre a covid-19.
“Eram uma sete horas da noite no Ministério, e o Mandetta ligou, disse ‘preciso falar urgente com você, Abrahão’. Disse ‘pois não, você quer que eu va aí?’, e ele disse ‘estou indo aí com minha equipe em cinco minutos'”, recontou. “Juntei meus secretários principais que estavam no MEC, recebemos o Mandetta e o time dele, e ele me descreveu um cenário de caos: a crise estava vindo para o Brasil, era muito pior do que estava sendo divulgada pelos meios de comunicação até aqui, e que iriam morrer de dois a quatro milhões de brasileiros no ano de 2020.”
Mandetta teria procurado Abraham Weintraub, avalia o ex-ministro da Educação, por conta dos hospitais universitarios que a pasta controla. O ex-Saúde teria citado cenas com caminhões do Exército recolhendo corpos e enterrando pessoas em valas comuns.
O ministro Luiz Henrique Mandetta foi procurado pelo Congresso em Foco para comentar a citação, mas ainda não retornou aos contatos.
A avaliação de Mandetta teria irritado Arthur, que passou a estudar o tema, em sua palavras, por achar “inaceitável dizer que não havia nenhuma alternativa para tratar as pessoas”. O assessor, naquela época, já indicava o uso de remédios ao presidente – o economista não cita nomes, assim como Bolsonaro, que parou de citar o nome da Cloroquina e Hidroxicloroquina em suas falas.
“Eu comprei o remédio, e tomei por dois dias. E fui comentar com o presidente que havia coisas publicadas sobre o assunto”, disse Arthur, afirmando que conversava à época com pesquisadores da área médica sobre o tema. “E o presidente disse assim: ‘você que tem esse histórico {de pesquisador}, passa a estudar, e passa a me trazer o que você for encontrando.'”
Arthur disse que resumia os estudos que recebia e encaminhava ao gabinete presidencial. “Eu atuava em outras áreas – mas nessa, por ter uma formação de pesquisa, eu fazia para o presidente o resumo dos remédios e vitaminas que são importantes”, disse. Arthur citou análises sobre a importância da vitamina D para o combate à pandemia, mas tais estudos já foram derrubados pela literatura médica.
Enquanto Abraham diz que o irmão ajudou a salvar vidas, Arthur diz ter orgulho de sua participação no combate à pandemia – que tornou o Brasil o segundo país no mundo em número de mortes, com acusações de genocídio e negligência do governo federal na aquisição e distribuição de vacinas e insumos.
“Naquele momento, era tudo o que a gente podia fazer, era o que existia – e não havia a possibilidade de vacina”, comentou. “E agora mais recentemente começaram a colocar meu nome como chefe de um ‘gabinete paralelo’ que nunca existiu. O que existia era o contato de cientistas de universidades renomadas.”
A CPI da Covid tem requerimento aberto, aguardando votação, para ouvi-lo em depoimento. O economista disse estar aberto a esclarecimentos sobre o tema, e que tem orgulho de sua história. “As questões, na medida do possível que eu possa responder, respondo tudo, sem problema algum.”
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