A CPI da Covid-19 ouviu, nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que voltou a depor à comissão para esclarecer principalmente pontos relacionados à Copa América e a autonomia dele no comando da pasta. Em depoimento, o ministro afirmou que a expectativa é a de que toda a população com mais de 18 anos seja vacinada até o final deste ano.
Sem citar cronograma à sabatina, Queiroga se comprometeu a enviar a documentação das vacinas ao Senado. Também destacou que está em negociações com o presente do Instituto Butantan, Dimas Covas.
O ministro evitou falar das aglomerações do presidente Jair Bolsonaro e fazer críticas à postura do presidente.
Depoimento de Queiroga
O primeiro depoimento do ministro da Saúde à comissão ocorreu em 6 de maio e durou cerca de oito horas. Na ocasião, o ministro emitiu opiniões diferentes do que é dito e praticado pelo presidente Jair Bolsonaro, e admitiu que aglomerações alastram a covid-19. Mesmo assim, parlamentares de oposição alegaram, na época, que ele não foi objetivo em suas respostas.
Leia também
Um dos principais questionamentos que será feito ao ministro Queiroga no depoimento de hoje é sobre o motivo da não efetivação, em uma secretaria da pasta, da médica Luana Araújo, que depôs na semana passada à comissão. Luana ficou dez dias no cargo e foi dispensada, sem ser nomeada, por ter tido seu nome vetado pelo Planalto.
PublicidadeCopa América
Questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), sobre as justificativas para dar aval à realização da Copa América no Brasil, O ministro reforçou que sua função não foi de “dar aval ou não para que aconteça a Copa”. Para Queiroga, essa não seria uma atribuição do Ministério. Ele respondeu ainda que o presidente Bolsonaro pediu que ele apenas avaliasse os protocolos sanitários da Conmebol e da CBF.
O ministro da Saúde também argumentou que a prática de esportes e de campeonatos no Brasil “já é liberada”. “Não existem provas de que essas práticas aumentam a contaminação dos atletas”, afirmou. Queiroga também disse que todos que entrarem no país serão testados e que os jogadores estarão utilizando equipamentos adequados contra a covid-19 no transporte à seus respectivos hotéis, onde devem ficar “isolados nos quartos”. A fiscalização dessas medidas, segundo ele, será responsabilidade dos estados e municípios que receberão os jogos.
“Todos atletas têm seguro e vão usar o sistema privado de saúde se tiverem algum problema. Sem público, não teremos muito risco de contaminação. O risco que a pessoa tem de contrair a covid-19 será o mesmo, com o jogo ou sem o jogo”, afirmou o ministro. “Não estou dizendo que não há risco [de contaminação], mas sim que não haverá risco adicional”.
Gabinete paralelo
Questionado sobre a influência do chamado “gabinete paralelo” no Ministério da Saúde, o ministro afirmou desconhecer grupos atuando dessa forma. Porém, confirmou já ter tido contatos eventuais com o empresário Carlos Wizard, com o deputado e ex-ministro Osmar Terra (MDB – RS), e com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos – RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. Todos são suspeitos de integrarem o suposto “gabinete das sombras”.
Veja vídeo do momento em que Queiroga é questionado sobre as ações do presidente Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19:
Vacinas
Durante o depoimento, o ministro Marcelo Queiroga confirmou que não leu as bulas de todas as vacinas contra Covid-19 autorizadas no país. “Lamento o senhor não ter lido, porque eu li, de todas”, disse o senador Otto Alencar, que também é médico.
Após debate com o senador, Queiroga subiu o tom e disse que o governo distribuiu cerca de 70 milhões de doses de vacinas na gestão dele. “Vossa senhoria não pode querer desqualificar a autoridade sanitária do Brasil por ter lido ou não a bula de vacinas”, apontou.
Veja:
“Comigo ele usa máscara”
Durante a audiência, o ministro foi apresentado a uma série de vídeos onde o presidente Jair Bolsonaro aparece sem máscara em público. Aos senadores, Queiroga afirmou que ele e o presidente não conversavam sobre esse tipo de atitude.
“Eu sou ministro da Saúde, não sou um censor do presidente da República. Eu faço parte de um governo. O presidente da República não é julgado pelo ministro da Saúde. As recomendações sanitárias estão postas. Cabe a todos aderir a essas recomendações”, disse.
Logo depois, o discurso do ministro mudou. Marcelo disse que cada comportamento é um ato individual.
“Quando está comigo, na grande maioria das vezes ele usa máscara. […] As imagens falam por si só. Eu estou aqui como ministro da Saúde para ajudar o meu país. É esse o meu objetivo. E não vou fazer juízo de valor a respeito da conduta do presidente da República”, completou.
> Semana na CPI da Covid deve ir de Copa América a gabinete paralelo
> Queiroga diverge do governo e admite que aglomeração alastra a covid-19
> “Politização incabível” afasta talentos do governo, diz ex-secretária da Saúde
> Falta de consenso emperra votação de quebra de sigilo em CPI
Deixe um comentário