por Jilmar Tatto*
Em que pese todos os problemas estruturais brasileiros, nosso país sempre foi visto com atenção pelo mercado internacional. São muitos fatores que tornam o Brasil atraente e estratégico para geopolítica e economia. Porém, a eleição de Bolsonaro em 2018 representou um retrocesso nesse quesito. Seu golpismo e visão ultrapassada de mundo nos colocou em marcha ré, marcha esta que foi revertida com a eleição de Lula. Podemos dizer que voltamos a trilhar o caminho do futuro.
Em seu terceiro mandato, Lula será comparado com seus governos anteriores, além de cobrado pelos novos desafios que surgiram de uma década para cá. Para ficarmos apenas na questão da mobilidade urbana, a pandemia de 2020 evidenciou o esgarçamento do modelo atual de financiamento do transporte público, demandando uma inflexão por parte dos gestores públicos na elaboração e implementação de políticas que garantam a todas as pessoas o direito real de ir e vir. Surge assim a necessidade da defesa do Sistema Único de Mobilidade, em que repactue melhor as responsabilidades de municípios, estados e União no que diz respeito ao financiamento e prestação do serviço de transporte público.
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Tarifa zero e sustentabilidade
A tarifa zero surge como uma política pública ousada na área de mobilidade, pois ela obriga gestores públicos, iniciativa privada e usuários a fazerem o exercício de ir além do modelo estabelecido, buscando soluções especificamente desenhadas para cada realidade local para tornar o transporte público gratuito e universal.
Outra questão em que governo e sociedade devem se debruçar, é a matriz energética dos veículos, em especial de ônibus urbanos, uma vez que eles são um dos principais responsáveis pela emissão de poluentes na atmosfera. De acordo com o patologista e professor da USP Paulo Saldiva, moradores das regiões periféricas estão mais sujeitos aos efeitos da poluição, pois passam horas por dia em trajetos de deslocamento para o trabalho, muitas vezes em corredores de ônibus.
Eletromobilidade
A substituição de ônibus a diesel por veículos elétricos para o transporte de massa se mostra como uma das melhores soluções para esse problema. Esse processo não será simples, tampouco barato. No entanto, está na hora de priorizarmos políticas de sustentabilidade ambiental e saúde pública. Além disso, também tem a ver com a modernização de nossa praça industrial através do desenvolvimento tecnológico, que podem gerar melhores empregos e aumento de renda.
A indústria automobilística é uma cadeia econômica completa, que vai desde a extração mineral, passando pela montagem do veículo, até serviços bancários do pós-compra, gerando milhões de empregos diretos e indiretos. No entanto, creio que políticas setorizadas para fomentar o mercado de veículos individuais são insuficientes frente aos desafios da atualidade, necessitando dar prioridade máxima a políticas públicas voltadas à produção de veículos elétricos para o transporte de massa como ônibus, trens, metrôs, VLP e VLT.
O Brasil chama atenção do mundo pelas questões ambientais, colocando sobre nós a responsabilidade de liderar discussões e processos, ainda mais quando sediamos a Cúpula da Amazônia neste ano e a COP 30 em 2025. E o governo Lula tem totais condições de liderar o país em uma política ousada que priorize políticas de transporte público de massa de matriz elétrica.
* Jilmar Tatto é deputado federal (PT-SP) e ex-secretário municipal de Transporte de São Paulo nas gestões de Marta Suplicy e Fernando Haddad.
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