Diante do assustador aumento no número de casos de ataques violentos contra unidades de ensino desde o início de abril, em especial após o ataque a uma creche em Blumenau (SC) que deixou quatro crianças mortas no último dia 5, diversos parlamentares protocolaram propostas de iniciativas para impedir novos atentados escolares. O Instituto Sou da Paz, ONG que trabalha no enfrentamento à violência, avaliou as propostas apresentadas e alerta que a maioria delas é ineficaz.
No mesmo dia do atentado em Blumenau, a liderança do Republicanos no Senado protocolou um projeto de lei para tornar obrigatória a contratação de um especialista em segurança pública em escolas. Outros projetos apresentam soluções da mesma natureza: adoção de câmeras, detectores de metais, inspeções em mochilas. Em alguns estados, governadores chegaram a propor a presença de policiais dentro das unidades escolares.
O Sou da Paz, porém, chama atenção em nota pública para o fato do fenômeno da violência escolar, apesar de ser uma explosão nova no Brasil, não ser novo no mundo. Os Estados Unidos enfrentam uma situação semelhante desde 1999, quando aconteceu o massacre do centro de ensino de Columbine, no estado do Colorado. Desde então, as mesmas medidas hoje propostas pelos parlamentares brasileiros passaram a ser implementadas por lá.
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Massacres ainda maiores
Os resultados, porém, não foram os esperados. “As evidências mostram que as iniciativas que direcionam investimento apenas em mais segurança dentro das escolas não funcionam”, aponta o instituto. Atentados violentos aos moldes do que aconteceu em Columbine seguiram se espalhando pelo território dos Estados Unidos desde então. O que não impediu a ocorrência de massacres ainda maiores, como ocorreu em Parkland, na Flórida, em 2018, com 17 pessoas mortas: duas a mais do que em Columbine.
O Sou da Paz, porém, não é contrário a políticas de fortalecimento da segurança pública. Rondas policiais na parte externa das entradas e saídas de escolas, especialmente nos horários de início e fim das aulas, são consideradas essenciais para impedir novos atentados, bem como a construção de canais de denúncias para ameaças e suspeitas de ataques.
Mas, para o instituto, investimentos em aparatos ostensivos de vigilância no ambiente escolar são dispensáveis. “Trazer um grande aparato de segurança que torne as escolas parecidas com prisões não resolve. O principal investimento deve ser em identificar conflitos, bullying e lidar com eles, fortalecendo a estrutura escolar e a capacidade dos professores e equipe técnica para isso, além de trazer apoio para a saúde mental dos trabalhadores e estudantes”, recomendam.
O instituto também chama atenção para a influência das plataformas digitais sobre os ataques, surtindo na necessidade de iniciativa por parte do poder público. “O envolvimento com grupos que incentivam o ódio nas redes sociais é outro elemento que marca o aumento desses episódios de violência, por isso, criar iniciativas que dêem condições para que pais e escola consigam fazer uma supervisão de uso sadio das plataformas pelos alunos é outra medida necessária”, sugerem.
Além de recomendar ao poder público uma atuação preventiva dentro da estrutura de acompanhamento psicossocial nas escolas, o instituto chama atenção para o comportamento dos pais. Ao lidar com ameaças ou supostas ameaças nas redes sociais de atentados escolares , a recomendação aos pais é que não passem a mensagem adiante nas redes sociais, mas sim que avisem a diretoria da escola para que sejam tomadas iniciativas junto às forças de segurança.
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