Eleito senador em 2014 pelo PDT de Roraima, Telmário Mota se tornou alvo de uma operação da Polícia Civil de Roraima (PCRR) nessa segunda-feira (30), dez meses após o fim de seu mandato, acusado de um crime hediondo. Procurado ao longo de todo o dia em seu estado e em Brasília, Telmário foi preso em Nerópolis (GO), a 30 km de Goiânia. O ex-senador, de 65 anos, é acusado de ter mandado matar Antônia Araújo de Souza, de 52 anos, mãe de uma filha dele, que o acusou, em agosto do ano passado, de ter abusado dela sexualmente.
Natural da comunidade indígena Teso do Gavião e que atualmente faz parte do município de Normandia (RR), Telmário é economista formado pela Universidade Católica do Salvador. Ele começou sua carreira política em 2004, candidatando-se ao cargo de vereador pelo PSDC de Boa Vista (RR). Sua primeira vitória eleitoral se deu apenas em 2008, concorrendo ao mesmo cargo, mas desta vez pelo PDT, partido no qual permaneceu por quase uma década, chegando a presidir o diretório estadual.
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Os anos seguintes de sua vida pública foram marcados por mais duas eleições frustradas: em 2010, ainda no meio ao seu mandato como vereador, tentou sem sucesso se eleger ao Senado. Em 2012, concorreu à prefeitura de Boa Vista, também não se elegendo.
Em 2014, quando tentou pela segunda vez se eleger ao Senado, Telmário Mota foi condenado a uma multa de R$ 5 mil pela Justiça eleitoral por antecipação de campanha, tendo espalhado material de divulgação e carros de som em seu estado três meses antes da abertura das campanhas eleitorais.
A campanha foi bem sucedida, tendo ele recebido 41,24% dos votos de Roraima. Assumindo sua cadeira no Senado em 2015, Telmário Mota adotou uma postura de rivalidade em relação a Romero Jucá, senador de seu estado pelo MDB e aliado próximo de Michel Temer, que no ano seguinte se tornaria presidente após o impeachment de Dilma Rousseff.
Em 2015, Telmário Mota foi denunciado por agredir uma ex-amante, com 19 anos então. Apesar da jovem ter retirado a acusação, a Procuradoria-Geral da solicitou a continuidade das investigações, tendo em vista que diversos ferimentos foram identificados no exame de corpo de delito. O pedido foi acatado em 2016 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2017, ela reafirmou ter sido vítima de agressão.
Em 2016, contrariando o resto da bancada pedetista, o senador inicialmente se posicionou de forma contrária ao impeachment de Dilma Rousseff. Quando ficou determinado o fatiamento entre sua cassação e sua inelegibilidade, porém, Telmário Mota declarou voto pelo fim do mandato da ex-presidente, desde que preservados os seus direitos políticos.
No final do mesmo ano, o Senado aprovou a PEC que deu origem ao teto de gastos, proposto pelo governo Temer. A proposta era duramente repudiada tanto pelo PDT quanto por demais partidos de esquerda e centro-esquerda. Ainda assim, Telmário Mota votou favorável, decisão que, no ano seguinte, resultou em sua expulsão do partido e sua transferência para o PTB.
Em 2018, ainda pelo PTB, tentou se candidatar ao governo de Roraima, formando chapa com Marina Silva, que concorria à presidência da república pela Rede. Com apenas 3,45% de votos, não conseguiu se eleger, retornando no ano seguinte ao Senado. Em 2019, também mudou novamente de partido, desta vez indo para o Pros (atualmente incorporado ao Solidariedade).
Em 2020, ano em que começou a pandemia da covid-19, Telmário Mota declarou seu apoio ao governo de Jair Bolsonaro, passando a integrar sua base de apoio no Senado. No mesmo ano, foi investigado pela Polícia Federal na Operação Desvid-19, que buscava apurar supostos desvios de recursos oriundos de emendas parlamentares aos estados para compra de material no enfrentamento à pandemia.
Um ano depois, seu nome foi retirado do inquérito a pedido da própria Polícia Federal, afirmando não haver provas sobre seu envolvimento. O ano de 2021, porém, foi marcado por outra polêmica: no mês de janeiro, em meio ao período mais intenso de mortes decorrentes da covid-19 no Brasil, o senador promoveu uma festa com mais de mil pessoas em seu estado.
Em 2022, sem conseguir formar uma coligação forte para sua candidatura, entrou na disputa eleitoral já em uma posição frágil. Em agosto, a situação piorou: uma filha de 17 anos, fruto de uma relação fora de seu casamento, o denunciou por abuso sexual. De acordo com ela, ele a teria obrigado a entrar em seu carro e ingerir bebida alcoólica, tentando então tocar suas partes íntimas. Em entrevista ao G1, ela contou que Telmário sempre foi um pai distante, mas que ninguém na família esperava que fosse agir dessa forma.
Ainda em meio à campanha pela reeleição, Mota foi acusado pelo ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, de compor a parcela de parlamentares que tentavam facilitar o tráfico ilegal de madeira na Amazônia e proteger pessoas envolvidas, chamados por ele de “bancada do crime”. Em resposta, disse que articulava com o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL-SP), “não para defender bandidos, mas para defender trabalhadores que estavam sendo perseguidos por ações ilegais e inescrupulosas de agentes do Estado”.
Sem uma base forte de apoio à sua candidatura e com o nome associado a um escândalo de violência sexual, Telmário não conseguiu se reeleger ao Senado, perdendo seu mandato no início de 2023. Em setembro, a mãe de sua filha foi encontrada morta em Boa Vista. As câmeras de segurança identificaram dois homens, que se aproximaram dela de motocicleta e a assassinaram.
Telmário Mota agora é procurado pela Polícia Civil de Roraima, sob suspeita de ter encomendado e planejado a execução de sua ex-amante. De acordo com a executiva nacional do Solidariedade, ele não faz mais parte do partido desde o último dia 17.
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