Pela primeira vez desde a redemocratização, o MDB pode perder o título de maior bancada do Senado. O Podemos, que acaba de chegar à marca de dez senadores, segue arregimentando novos parlamentares. Segundo o líder Alvaro Dias (PR), mais quatro senadores já demonstraram a intenção de ir para o partido e podem acertar a filiação nos próximos dias. O número é suficiente para a sigla ultrapassar o MDB e sair na frente da briga pelo comando no Senado em 2021. Os emedebistas ocupam 13 cadeiras na Casa.
Sob a liderança de Alvaro Dias, que passou a defender o discurso de renovação política nos últimos anos, o Podemos começou o ano com oito senadores. Mas, no mês passado, tirou Marcos do Val (ES) do Cidadania. E, nesta semana, conseguiu filiar Reguffe (DF), que estava sem partido desde a saída do PDT, em 2016. “Tem bons senadores que devem se filiar nos próximos dias”, confirmou ao Congresso em Foco a presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP).
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O Podemos não adianta esses nomes, pois prefere deixar que os próprios senadores anunciem a filiação. Mas, nos bastidores, o que se diz é que o partido tem conversado com Carlos Viana (PSD-MG); Jorge Kajuru (Patriota-GO), que saiu recentemente do PSB; e os três parlamentares que formam a bancada do PSL junto com Flávio Bolsonaro (PSL-RJ): Major Olimpio (SP), que é líder do partido no Senado; Soraya Thronicke (MS), e Selma Arruda (MT). Caso filie todos eles, o Podemos passará a ter 14 senadores – um a mais que o MDB.
Divergências no PSL
Selma confirmou que as negociações estão avançadas e disse que vai tomar uma decisão sobre a mudança partidária nos próximos dias. “Tive algumas divergências internas no partido”, explicou a senadora, reconhecendo que o ponto alto dessas divergências veio nesta semana com a CPI da Lava Toga, já que o senador Flávio Bolsonaro pressionou os colegas de bancada a tirarem a assinatura do pedido de CPI que pede a investigação dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
A senadora diz que Flávio gritou com ela. “Eu, o Major Olimpio e a Soraya assinamos a CPI. E isso não agradou alguns membros do partido. Então, prefiro ir para um partido que me permita tomar decisões de acordo com a minha consciência, sem restrições. Temos que ter liberdade”, afirmou.
Selma entende que o fato de o Podemos não ser oposição nem base aliada lhe permitiria votar com o governo quando assim julgar necessário. “E o partido tem uma posição boa, porque está próximo de ser a maior bancada”, disse a senadora, admitindo que alguns de seus colegas de Senado também estão conversando com o partido.
Nem governo, nem oposição
Alvaro Dias acredita que o que tem levado um número maior de parlamentares a olhar para o Podemos é justamente essa pauta independente que o partido tem encampado. “É uma alternativa partidária diferente, sobretudo nesse momento crucial em que há um enfrentamento entre os que combatem a corrupção e os que querem o restabelecimento de um sistema de impunidade no país. Os que estão vindo para o Podemos estão atraídos por esta postura intransigente em relação ao combate à corrupção no país”, afirmou o líder, que foi o candidato do partido à Presidência da República em 2018. Alvaro ficou na oitava colocação entre os 12 postulantes.
Ele destacou ainda que o combate à corrupção tem sido a bandeira principal do partido. O senador é um dos integrantes do Muda Senado, Muda Brasil – movimento que tem defendido a instalação da CPI da Lava Toga, o impeachment do ministro Dias Toffoli e a reforma do poder Judiciário.
Apesar das críticas que esses senadores têm feito à postura de Davi Alcolumbre (DEM-AP) diante dessa pauta, Renata Abreu garantiu que o partido ainda não discutiu a possibilidade de reivindicar a presidência do Senado caso realmente se torne a maior bancada da Casa. A ideia é, porém, garantir que a bancada siga unida para poder ter força na definição das pautas do Senado.
Aprovação da bancada
Por isso, tanto Renata quanto Alvaro ressaltam que cada nova filiação só se efetivará se estiver alinhada aos ideias do partido e se for aprovada pelo restante da bancada. “A bancada do Senado está bem coesa. É uma bancada independente. Então, estamos olhando para o discurso desses senadores. A ideia é trazer senadores que ajam da mesma forma, para não dividir a bancada”, disse Renata, que tem conversado com os possíveis novos filiados.
“Continuaremos independentes do governo. Não queremos proximidade e também não estamos tão distantes a ponto de não aprovar aquilo que julgamos correto e importante para o país. Não estamos alinhados e não fazemos parte da base do governo porque não podemos subscrever certas atitudes, afirmações e conceitos. Mas estaremos prontos para apoiar aquilo que for importante para mudar o país, substituir esse sistema promíscuo que se instalou ao longo do tempo e promover as reformas que possam determinar a retomada do crescimento econômico”, declarou Alvaro Dias.
Renata Abreu destacou ainda que esse posicionamento será determinado sempre de acordo com os anseios da população. Ela lembrou que o Podemos tem um aplicativo para consultar seus eleitores sobre a posição que deve adotar em cada pauta. “O Podemos tem três pilares hoje: mais transparência, mais participação e a democracia direta. Nossa principal bandeira é ampliar a participação do cidadão junto dos seus representantes”, afirmou a presidente do partido.
Câmara
Não é só no Senado que o partido quer aumentar sua bancada. Na Câmara dos Deputados, pelo menos sete parlamentares também têm se aproximado do Podemos, segundo a presidente Renata Abreu.
Essas filiações, contudo, não devem ser anunciadas por agora, como pode acontecer no Senado. É que, na Câmara, só é possível trocar de partido na janela partidária. Interessada em ampliar sua bancada, Renata Abreu até tentou, por meio de uma emenda, antecipar essa janela nas últimas semanas. A ideia logo ganhou o apoio dos deputados do PSB e do PDT que foram processados pelos partidos depois que votaram a favor da reforma da Previdência. Mesmo assim, não passou pelo plenário.
Novas filiações, portanto, devem ficar para março do ano que vem. A presidente do Podemos já adianta, contudo, que a ideia é confirmar a filiação de deputados federais do PSB, do PDT e do PSL, além de nomes de outras legendas que possam surgir até lá.
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