Há dois anos sem partido, o presidente Jair Bolsonaro definiu nesta segunda-feira (8) seu futuro partidário de olho nas eleições de 2022. Ele confirmou, em entrevista à TV CNN Brasil, que está “99% fechado” com o Partido Liberal. O PL é a segunda legenda mais fiel ao governo na Câmara. De acordo com o Radar do Congresso, a bancada votou com o Planalto em 93% das vezes desde o início do mandato. Entre os principais partidos da Casa, apenas o PSL – que ainda concentra a maior parte dos parlamentares eleitos na onda bolsonarista em 2018 – tem fidelidade maior (95%).
O Radar, ferramenta do Congresso em Foco que compila e qualifica as informações do Congresso Nacional, chegou a esse índice após análise das 1.143 votações realizadas na Câmara desde o início da atual legislatura, em fevereiro de 2019. O índice de governismo é calculado com base na coincidência entre os votos de cada deputado e a orientação do governo na mesma deliberação. O acerto de Bolsonaro com o PL foi fechado com o presidente da legenda, o ex-deputado Valdemar da Costa Neto, que cumpriu pena de prisão após ser condenado no mensalão. Essa será a décima sigla de Bolsonaro em 32 anos de trajetória política.
No PL, o deputado que menos segue as orientações do governo é Tiririca (SP), que está em seu terceiro mandato por São Paulo. Ele votou com o governo em 58% das vezes. Desafeto de Bolsonaro, o primeiro vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), votou com o governo em 93% das vezes. Os mais fiéis são Paulo Freire Costa (SP) e José Rocha (BA), que se alinharam ao Planalto em 97% das votações, e Marco Feliciano, o pastor evangélico paulista que registrou 98% de fidelidade.
A bancada do PL na Câmara é composta atualmente por 43 deputados. É a terceira mais numerosa da Casa, atrás apenas do PT (53) e do PSL (54). Vice-líder do partido e um dos líderes da bancada evangélica, o deputado Lincoln Portela (MG) conversou nesta segunda tanto com Valdemar quanto com Bolsonaro. Segundo ele, a filiação deverá ocorrer no dia 22, em referência à data, ao número do partido e ao ano da próxima eleição.
“O PL é um partido conhecido nacionalmente por cumprir com sua palavra. É fiel ao governo. Tem bases consolidadas mais no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste. Ao passo que o PP teria entraves maiores, na minha avaliação, no Nordeste. Mas eu acredito que o vice de Bolsonaro virá do PP”, afirmou o deputado ao Congresso em Foco. Segundo ele, o conservadorismo do PL casa com Bolsonaro. O vice-líder dá como certo que a bancada crescerá na próxima janela de filiação partidária para os deputados, no primeiro trimestre de 2022. “Os bolsonaristas que estão no PSL terão maior facilidade para vir para o partido”, considera.
O Progressistas (PP), que era uma das possibilidades de filiação de Bolsonaro, tem o mesmo alinhamento de 93% na Câmara dos Deputados. Mesmo Arthur Lira (AL), o presidente da Câmara, tem um índice de 89%, o que o inclui em uma das mais próximas linhas de apoio às pautas do presidente.
Em um áudio, Valdemar da Costa Neto indicou que sua legenda levou a melhor na disputa contra o PP, comandado até o meio do ano pelo ex-senador e atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Em jogo, indiciou o líder partidário, estaria um apoio de Bolsonaro e do PL à reeleição de Lira à presidência da Câmara em 2023.
As duas legendas são consideradas como parte do “Centrão” – grupo fisiológico de siglas com grande número de parlamentares – que hoje dá sustentação a Bolsonaro. O presidente já integrou as fileiras do PP durante duas oportunidades: entre 1993 e 2003 e entre 2005 e 2016. Esta será sua primeira passagem pelo PL.
Pouco muda no Senado
No Senado – Casa onde há, historicamente, maior consenso nas votações -, o alinhamento do PL com o Planalto é de 87%. Os quatro senadores que representam o partido têm mais de 75% de alinhamento com o governo. O percentual supera a média de fidelidade ao governo na Casa, que é de 83%.
Quem menos votou com o governo entre os senadores do PL foi Carlos Portinho (RJ), que seguiu a orientação do governo em 78% das deliberações. O parlamentar tem um ano de mandato, e ajudou a diminuir o alinhamento conquistado pelo seu antecessor, Arolde de Oliveira (RJ), morto em outubro do ano passado por complicações da covid-19.
A maior fidelidade cabe a Jorginho Melo (SC), vice-líder do governo, que votou com Bolsonaro em 91% das vezes. Uma das votações mais simbólicas, no entanto, não está incluída na lista: Melo, como integrante titular da CPI da Covid, votou contra o relatório final que incrimina o presidente.
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