Eleito em um pleito marcado pela polarização, o médico infectologista Francisco Cardoso foi escolhido para representar São Paulo no Conselho Federal de Medicina (CFM). Declaradamente apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, Cardoso ganhou notoriedade durante a pandemia da covid-19 por discursos favoráveis à adoção do tratamento com cloroquina e contrários à adoção de vacinas.
Francisco Cardoso se tornou uma das referências de parlamentares bolsonaristas na propagação de conteúdo em defesa de práticas contrárias às recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no enfrentamento à pandemia. Com ênfase na produção de vídeos orientando pacientes que evitem a todo custo a utilização de imunizantes contra a covid-19, em especial o fabricado pela Pfizer, seu perfil no Instagram conta atualmente com mais de 370 mil seguidores.
Sua fama enquanto defensor do uso da cloroquina lhe garantiu espaço na CPI da Covid-19, quando, em junho de 2021, foi convidado pelo bloco pró-Bolsonaro a se pronunciar em uma audiência convocada por eles. Na ocasião, elogiou a postura do CFM de ter autorizado médicos a recomendarem o uso de medicações sem comprovação científica para o tratamento da doença.
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“Não cabe a demais entes desse país definirem que tipo de tratamento pode ou não ser dado, seja na covid-19, seja em qualquer outra doença. (…) Se nesse momento eu não consigo descrever com precisão sobre o mecanismo de ação, isso é secundário, que os cientistas pesquisem e publiquem”, declarou na audiência.
Em 2024, retornou ao Senado para participar de uma audiência pública requerida por Eduardo Girão (Novo-CE), um dos parlamentares responsáveis por seu convite à extinta CPI. Desta vez, seu discurso foi direcionado ao Ministério da Saúde, que havia recém incluído a vacina contra a covid-19 no Programa Nacional de Imunizações, consequentemente tornando a imunização obrigatória para crianças de seis meses a cinco anos de idade.
“Ao contrário do que apregoa o Ministério da Saúde e algumas mídias, essas vacinas possuem efeitos colaterais relevantes, às vezes graves e não sabemos as taxas de incidência ou risco específicos da maioria delas. Se a vacina não tem benefício medido, qualquer risco que ela apresentar é inaceitável”, disse em plenário. Todas as vacinas disponíveis no Sistema Único de Saúde passaram por análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e tanto a OMS quanto a Organização Pan-Americana de Saúde recomendam a vacinação contra a covid-19 desde os seis meses de idade.
Em suas redes sociais, apesar de dar espaço para outras discussões relacionadas à infectologia, o novo conselheiro do CFM prioriza o discurso antivacina para covid-19 em sua produção de conteúdo. “Nenhuma vacina para covid-19 é confiável no ponto de vista de segurança e no ponto de vista de resultados”, chegou a afirmar em um dos vídeos, alegando que a campanha vacinal objetivou interesses políticos, e não médicos.
Como conselheiro do CFM, Cardoso passa a ter voz na autarquia encarregada tanto de fiscalizar o exercício da medicina no país, como também por definir as diretrizes éticas da categoria e julgar processos disciplinares.
Além de possuir voto, por exemplo, sobre quais técnicas podem ou ser livremente adotadas por médicos, ele passa a ter poder sobre questões ainda mais controversas, como diretrizes relacionadas a aborto ou interrupções de tratamento, discussões das quais possui posições abertamente conservadoras.
Sua própria disputa para o cargo no CFM ganhou notoriedade graças ao discurso polarizado, chegando a ser alvo de investigação pela PF: sua chapa é acusada de ter propagado, entre médicos de seu estado, mensagens de texto afirmando ser “a única chapa de direita” de São Paulo, e alegando sem provas que todos os demais candidatos teriam apoiado a campanha do presidente Lula. Ele nega ter dado orientações ou haver participação dele ou de membros de sua chapa na produção ou distribuição dessas mensagens.
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