O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, deixou de comparecer na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (19), onde estava combinado que prestaria esclarecimentos sobre as ações de sua pasta durante os atos golpistas de 8 de janeiro. O ministro é encarregado de orientar a segurança do presidente da república, e era encarregado por chefiar o serviço de inteligência até então. De acordo com o gabinete, o ministro apresentou problemas de saúde e precisou se ausentar de suas funções.
O convite para comparecer na Câmara partiu dos parlamentares de oposição, que acusam ministros do governo de ter prevaricado nas ações de enfrentamento aos vândalos. Coincidentemente, na manhã do dia combinado, vazaram gravações das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, que revelaram ele e outros oficiais do GSI circulando pelo prédio em meio à invasão, e interagindo com vândalos.
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Diante da ausência do ministro, a oposição já afirmou que, na próxima semana, irá trabalhar para transformar o convite em convocação. Se aprovado, desta forma, o ministro não teria como deixar de comparecer. A mudança foi anunciada pelo presidente da Comissão, Sanderson (PL-RS).
“Por acordo de lideranças, faremos a convocação do ministro Gonçalves Dias para que ele venha no menor tempo possível falar sobre uma série de questões, sobretudo as imagens que foram hoje anunciadas pela imprensa”, disse o deputado. O líder do governo na comissão, Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), afirma que ouvir o esclarecimento do ministro é um interesse comum do bloco, uma vez que os parlamentares governistas também foram surpreendidos pelo conteúdo das gravações.
Horas antes da audiência, o GSI publicou uma nota, em que afirma que o caso já é investigado internamente. Na comissão, Dias estaria exposto a bombardeio tanto pela oposição quanto pelo governo. Nos dias que sucederam os atos golpistas, o presidente Lula acusou o aparato de inteligência do GSI e das forças armadas de falhar na prevenção às invasões, bem como de ter facilitado a entrada de vândalos.
Uma vez convocado, o único meio de fuga regimental para que Gonçalves Dias não compareça na Câmara seria uma renuncia de seu cargo. Sanderson considera que essa decisão poderia piorar sua situação. “Uma renúncia nesse momento seria quase uma confissão de culpa. Se ele renunciar, fugir do front nesse momento, na minha visão ele estará atestando culpa. Ficaria muito clara a fuga de falar à Comissão de Segurança Pública na Câmara, e de falar ao parlamento no geral”, afirmou.
Para Sanderson, o conteúdo das gravações revela um grau de cumplicidade entre o ministro e os invasores. “Está muito clara a contribuição ilegítima do ministro-chefe do GSI com aqueles criminosos. Aqueles que estavam ali eram vândalos criminosos, e deveriam ser tratados como vândalos criminosos, e não foram tratados. Foram tratados, eu diria que até como um certo assessoramento”, avalia.
A prioridade do deputado, ao receber o ministro, é descobrir se sua presença no planalto durante a invasão se deu com ou sem o conhecimento do presidente Lula.
Conteúdo da gravação
Nas imagens, Gonçalves Dias aparece no Planalto por volta das 16h29 do dia 8 de janeiro. Nas imagens, é possível ver o ministro na antessala do gabinete do presidente da República, localizada no terceiro andar do Palácio. Dias tenta abrir duas portas e depois adentra em um gabinete. A revelação deve aumentar a pressão da oposição pela instalação da CPI mista dos Atos Antidemocráticos, embarreirada pelo governo.
Em seguida, o ministro parece indicar o local de saída para os invasores deixarem o terceiro andar do Palácio. Outros integrantes do GSI aparecem nas imagens indicando a saída para os golpistas. Em nenhum momento é feita qualquer tentativa de repressão ou prisão dos golpistas. Homem de confiança do presidente Lula, de quem foi responsável pela segurança pessoal nos dois mandatos anteriores, o ministro não se manifestou até o momento.
Diante do vazamento das imagens, a oposição subiu o tom em defesa da instalação da CPMI para investigar os atos. O adiamento da sessão do Congresso, nessa terça-feira (18), empurrou para a próxima semana a decisão do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de instalar ou não a comissão parlamentar mista de inquérito.
“O GSI do Lula não apenas facilitou a entrada dos invasores no dia 8 de janeiro, como também os invasores receberam orientações do ministro chefe do GSI, Gonçalves Dias, escolhido por Lula. Alguma dúvida de que a CPMI do 8 de janeiro é prioridade?”, escreveu nas redes sociais o deputado André Fernandes (PL-CE), autor do pedido de CPI mista.
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