Antes mesmo de ter seu requerimento de abertura lido no Congresso Nacional, o destino da cúpula da CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro já era motivo de disputa entre governo e oposição. Apesar da autoria de um parlamentar do PL, a presidência e a relatoria são reivindicadas pelo governo, em especial por Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder no Congresso Nacional. Para Humberto Costa (PT-PE), porém, a tendência é que nem o PL e nem o PT ocupem a direção do colegiado.
Humberto Costa foi membro titular e um dos quadros mais ativos da CPI da covid-19, que em 2021 enviou à Procuradoria-Geral da República um relatório com uma série de denúncias contra o governo de Jair Bolsonaro por indícios de sabotagem às políticas de controle da pandemia. O senador fez parte do chamado G7, bloco de senadores que atuou em conjunto para impedir que os aliados do ex-presidente formassem maioria no colegiado.
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Para o senador, a disputa entre o governo e a oposição pelo controle da CPMI não vai se encerrar com a vitória de um dos dois, mas com os dois lados cedendo em um acordo para que partidos moderados assumam a presidência e a relatoria da comissão. Nessa disputa, MDB e algum aliado do PP devem ser os favoritos.
“Os blocos vão querer cobrar o respeito à proporcionalidade. Aqui no Senado, o MDB não vai abrir mão da vaga para eles. Na Câmara, acho muito difícil Arthur Lira (PP-AL) não querer botar uma pessoa dele para a presidência ou relatoria, dependendo do que couber à Câmara. Pode ser do PP ou de outro partido, mas um quadro controlado por ele”, antecipou ao Congresso em Foco. As duas Casas competem sobre qual ficará com a presidência, cabendo à outra assumir a relatoria.
Poucas horas depois da declaração, André Fufuca (PP-MA), indicado do Progressistas para compor o colegiado, anunciou que não estará na cúpula. O bloco de Arthur Lira, porém, conta com outros partidos que também estarão presentes, como o União Brasil, PSDB e PSB, todos com aliados próximos do presidente da Câmara entre seus quadros.
A tendência do MDB e o PP competirem pelo comando da CPMI não é antecipada por acaso. Entre os emedebistas, está o senador Renan Calheiros (AL), antigo rival de Arthur Lira. Os dois disputam influência dentro do parlamento, e constantemente levaram sua rivalidade para dentro de questões relacionadas à atuação do próprio Congresso Nacional. Paralelamente, Renan é aliado próximo do presidente Lula, enquanto Lira, apesar de não fazer parte da oposição, possui laços estreitos com aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Humberto Costa ressalta que, apesar de cobrar sua participação em postos-chave do colegiado, o governo está menos interessado no resultado das investigações e mais em seu andamento, havendo maior prioridade na escolha dos demais membros. “O governo não queria uma CPI com o receio de que isso pudesse, de alguma maneira, atrapalhar os trabalhos aqui no Congresso. Com o tempo, já se tornou imprescindível fazer essa comissão, mas para eliminar as cortinas de fumaça que a extrema direita vem levantando”, afirmou.
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