Se o senador Marcos do Val (Podemos-ES) aceitasse um conselho de alguém a quem ele faz oposição, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), lhe diria: “Dê uma mergulhada”. Diante da sequência de informações desencontradas e de versões diferentes sobre a “denúncia” que fez de que havia um plano golpista envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira, Jaques Wagner disse ao Congresso em Foco: “Eu, no lugar dele, pediria uma licença e sumiria por um bom tempo. Porque se aparecer mais uma versão diferente dessa história, a situação dele vai acabar se complicando muito aqui no Senado”.
Marcos do Val já apresentou pelo menos quatro versões diferentes para uma história que, em qualquer caso, é grave por envolver o ex-presidente da República na arquitetura de um golpe para gravar ilegalmente um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, como primeiro passo para uma nova tentativa de deposição do presidente Lula e de golpe de Estado.
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Na noite do dia 1º de fevereiro, do Val apresentou sua primeira versão em uma live no seu perfil do Instagram, numa conversa com integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL). Ali, ele disse que, no dia seguinte, a revista Veja viria “com uma bomba”. Que seria a história de que Bolsonaro teria tentado coagi-lo a participar de um golpe de Estado. Diante da história, ele informou que renunciaria ao seu mandato.
No dia seguinte, a revista Veja detalhou a história. Disse que Marcos do Val teria se encontrado com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Do encontro participou também Daniel Silveira. Na ocasião, lhe foi proposto que gravasse uma conversa com Alexandre de Moraes na qual o ministro dissesse algo “fora das quatro linhas da Constituição”. Isso, então, seria usado para desmoralizar o ministro e dar início ao golpe. Segundo a versão, do Val recusou-se a cumprir esse papel e, ao contrário, foi denunciar a tentativa de golpe a Alexandre de Moraes.
No mesmo dia, à tarde, o senador mudou a história. Disse que Bolsonaro não o teria coagido. Que a sugestão teria sido de Daniel Silveira e que o ex-presidente apenas ouvira tudo em silêncio. Negou também que fosse renunciar ao mandato.
Depois, o senador afirmou que a conversa com Bolsonaro não fora no Palácio da Alvorada, mas na Granja do Torto. No governo passado, quem morava na Granja do Torto era o então ministro da Economia, Paulo Guedes. Diante da falta de sentido da localização, Marcos do Val disse, então, que não sabia onde tinha sido o encontro.
PublicidadeLaudo psiquiátrico
“Esse cara está com algum problema”, avaliou Jaques Wagner. Como o próprio Marcos do Val apresentou, porém, na tarde desta quarta-feira (7) um laudo psiquiátrico no qual se afirma que ele está apto para o exercício do mandato como senador, Jaques Wagner conclui: “Então, ele de forma consciente falta com a verdade”.
De fato, Marcos do Val tem afirmado que apresentou versões desencontradas da história de forma deliberada. Com o propósito de realmente confundir. O problema é que mentir no exercício do mandato caracteriza falta de decoro. Quando o ex-senador goiano Demóstenes Torres foi cassado em 2012, a hipótese sobre a mentira ser ou não falta de decoro foi levantada por ele mesmo em sua defesa. E não o livrou da cassação. Curiosamente, Demóstenes é agora advogado de outra pessoa acusada de envolvimento nos atos golpistas, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres.
“Ele diz que apresentou versões desencontradas com um propósito. Que propósito? É bom que esclareça, porque não se pode brincar assim com as instituições. Ele é senador da República”, critica Jaques Wagner.
Na semana passada, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), chegou a afirmar que entraria com representação contra Marcos do Val no Conselho de Ética do Senado.
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