Arthur Lira volta a Brasília na semana que vem, depois de longa viagem à Índia e à China, disposto a levar ao plenário projetos que o governo considera essenciais para equilibrar as contas públicas em 2024 — a taxação de fundos de investimento (exclusivos) e aplicações financeiras offshore, por exemplo. A Câmara ficou paralisada nas últimas semanas. Não só pela ausência de Lira, mas também pelo embate que trava com o governo, em nome do Centrão, sobre indicações para cargos no comando da Caixa.
Um mês atrás, Lira tentou conversar com Lula. Estavam em Nova York para a sessão de abertura da Assembleia Geral da ONU. Encontraram-se numa recepção oferecida pelo embaixador brasileiro Sérgio Danese. Lira insistiu, mas Lula recusou. Disse que preferia falar do assunto no Brasil.
Líderes governistas apostam que Lira não vai esperar as nomeações “de porteira fechada” no banco federal para votar a pauta econômica do ministro Fernando Haddad. Em outras ocasiões ele já tentou provar — contam os seus aliados — que na Câmara o jogo só anda quando ele quer. Lira, dizem eles, pretende mostrar a Lula que ainda é o dono da bola. Ele está sob pressão, corre contra o tempo porque seu mandato termina em dezembro de 2024, ano de eleições municipais.
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A troca de comando na Câmara só acontecerá em fevereiro de 2025, mas a campanha pela sucessão está em curso, acelerada, e o cafezinho no gabinete do presidente começou a ficar morno. A preocupação de Lira é o que vai fazer quando voltar à planície. Para manter influência no debate político, precisará da ajuda de Lula. Ou ganhando um posto de destaque, em um ministério ou estatal, ou controlando cargos importantes, como a Caixa. Sem poder efetivo em Brasília terá problemas ainda maiores em Alagoas, sua base eleitoral, onde perdeu o governo do Estado e a prefeitura da capital. E o principal adversário local, Renan Calheiros, mantém-se influente no Palácio do Planalto.
Lira tenta dar as cartas. Conseguiu, por exemplo, que o ministro Fernando Haddad troque por um projeto de lei, com regime de urgência, a medida provisória que altera o cálculo da tributação de subvenções concedidas por estados a investimentos. A expectativa do governo é arrecadar R$ 35,3 bilhões com a mudança, e Haddad tem dito que essa virou sua pauta prioritária, comparando-a à PEC da transição, que garantiu recursos para Lula começar o governo. A mudança permite à Câmara comandar o ritmo da votação no Congresso e evita o rito das MPs, foco permanente de atrito com o Senado.
Faltam oito semanas úteis para o ano legislativo terminar. São muitas as pendências — a Lei de Diretrizes Orçamentárias não foi votada e a reforma tributária ainda terá longo caminho. O governo precisa aprovar sua agenda econômica, e Haddad tem apelado ao Legislativo com o argumento de que as incertezas da economia mundial, com duas guerras em curso, tornam urgentes as reformas propostas.
O presidente da Câmara deseja, e em certa medida precisa, terminar o ano como o mediador de resultados positivos para o governo. A partir de fevereiro, as prioridades mudam, e as eleições municipais passam a dominar a atenção os parlamentares, que dependem da força das bases regionais para disputar a reeleição em 2026. Lira tenta construir uma ponte para o próprio futuro, cada vez mais dependente de uma parceria política com Lula.
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