Mesmo em meio à disputa judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) pela manutenção de seu mandato e de seus direitos políticos, o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) permanece como pré-candidato do PTB ao Senado pelo Rio de Janeiro, e é o nome preferido da família Bolsonaro ao cargo. A chance de se confirmar sua inelegibilidade, porém, pode beneficiar tanto os interesses do governo quanto do senador Romário (PL-RJ), aliado de Bolsonaro que disputa reeleição.
Segundo o cientista político André Pereira César, caso Daniel Silveira consiga reverter sua inelegibilidade, seu nome poderá alcançar um eleitorado considerável. “Daniel Silveira é um grande representante do bolsonarismo, e todo esse movimento em torno de sua situação diante do STF vai se reverter em intenções de voto. Nas próximas pesquisas a incluir o nome dele, a tendência é que apresente um desempenho maior do que o esperado”, apontou.
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Sua candidatura, porém, teria que competir espaço com a de Romário. Este, apesar de não contar com o apoio direto da família Bolsonaro, é bem visto em seu eleitorado, e é apoiado pelo governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL). “Essa situação de dois candidatos competindo pelo mesmo eleitorado acaba se tornando um embate dentro do bolsonarismo”, explica o cientista.
Romário é, no momento, um dos nomes mais competitivos para a cadeira do Rio de Janeiro no Senado. A última pesquisa da Gerp, realizada no final do mês de março, apontou para um empate deste com Alessandro Molon (PSB-RJ), que concorre na chapa de Marcelo Freixo (PSB-RJ) e Lula; com os dois concorrentes recebendo 18% das intenções de voto.
Caso se preserve a inelegibilidade de Daniel Silveira, Romário ficará como principal herdeiro de seu eleitorado: trata-se de uma parcela de eleitores leal à extrema-direita, e que não aceitará votar em um candidato que não faça parte da zona de influência de Jair Bolsonaro. “Esses eleitores possuem aversão a candidatos progressistas. Não há possibilidade de aderirem à campanha de Molon”, reforçou André Pereira César.
Além do fator ideológico, Romário ainda pode se beneficiar do sentimento de revolta desses eleitores. “O eleitor bolsonarista é um eleitor enfurecido com a justiça por barrar a sua vontade de votar no candidato preferido. O voto em Romário não chega a configurar um voto de protesto, mas ele transita entre o voto útil e o de protesto”, explica.
A transferência de votos para Romário não apenas beneficia o candidato, como pode beneficiar os próprios interesses do governo: com Daniel Silveira fora da disputa, o eleitorado bolsonarista passa a se concentrar ao redor de um único candidato, que passaria a contar tanto com o apoio de Jair Bolsonaro quanto de Claudio Castro.
O cientista político considera que a inelegibilidade de Daniel Silveira é o cenário mais provável para o fim de suas disputas judiciais. O deputado, porém, permanece otimista quanto à manutenção de sua candidatura. Ao Congresso em Foco, afirmou que considera improvável a remoção de seu nome na corrida ao Senado, e que deverá esperar até o início do período eleitoral para decidir se dará apoio a outro nome.
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