O empresário paulista Otávio Oscar Fakhoury, um dos mais alinhados às ideias do presidente Jair Bolsonaro e possível participante e organizador do chamado “gabinete paralelo” de combate à pandemia da covid-19, depõe nesta quinta-feira (30) da CPI da Covid.
Os senadores têm centrado as perguntas sobre a atuação dele na divulgação de informações falsas durante a pandemia. Fakhoury também foi questionado sobre o apoio a campanhas bolsonaristas, ao que admitiu ter fiananciado, tanto ações nas eleições de 2019 e 2020, atualmente alvo do inquérito das Fake News no Supremo Tribunal Federal (STF), quanto em manifestações posteriores. O empresário ainda admitiu ser vice-presidente do Instituto Força Brasil, também alvo de apurações da CPI por disseminação de notícias falsas.
Confira a transmissão ao vivo:
A chegada de Otávio Fakhoury à reunião foi acompanhada da leitura por parte do presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) de seu habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. A Suprema Corte lhe garantiu o direito ao silêncio durante o depoimento, bem como o de consultar advogado antes de responder os parlamentares. Ao contrário de Luciano Hang, Fakhoury chegou sozinho, sem o amparo de parlamentares aliados de Jair Bolsonaro.
Após ser atacado no Twitter do empresário por conta de sua orientação sexual, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) assumiu temporariamente a presidência da CPI da Covid para responder as ofensas de Otávio Fakhoury. “A orientação sexual não define o caráter, a cor da pele não define caráter, o poder aquisitivo não define caráter. (…) Mas se o senhor faz isso comigo como senador da República, então imagine o que isso significa no país que mais mata a população LGBT+”, declarou o senador.Em uma postagem no Twitter Fakhoury disse que foi convocado à CPI por um delegado homossexual. No texto ele também perguntava por qual perfume Cantarato havia se atraído. A postagem foi apagada.
No início da fala à CPI, Fakhoury afirmou não ter sido vacinado contra a covid-19, confiando na imunidade adquirida ao contrair a doença. O empresário disse que as vacinas ainda estão em fase de estudo e por isso não a utilizou. Os senadores apresentaram um vídeo em que ele criticava o imunizante Coronavac no início da campanha de vacinação. “Eu sou favorável que não seja obrigatório, e que se aguarde a conclusão dos testes”, declarou o empresário. Pela tarde, a Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anvisa) informou a comissão que todas as vacinas disponíveis no Brasil hoje já passaram pelas fases 1, 2 e 3 de testes, desmentindo a ideia de que não teriam sido devidamente testadas.
Negacionismo e tratamento precoce
Diante dos senadores, o empresário se posicionou contra o uso de máscaras. “Durante muito tempo eu e muitas pessoas usamos a máscara, e pegamos covid-19. (…) A minha opinião é que a máscara não possui a eficiência que afirmam”, afirmou. Apesar da declaração, ele negou que tenha o interesse de influenciar outras pessoas e que era negacionista e que apenas exercia “sua liberdade de expressão”. Fakhoury também afirmou ter feito o uso de tratamento precoce, bem como toda sua família.
De acordo com ele, as medicações foram receitadas por um médico. “Não vemos casos de pessoas morrendo por uso de cloroquina”, declarou.A postura dele foi duramente criticada pelos parlamentares. “Essa CPI tem um nível de audiência muito grande no Brasil inteiro, e a população não pode receber uma informação dele como se fosse verdade porque não é, são mentiras criminosas”, declarou a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).
O empresário também se posicionou contra o uso de máscaras. “Durante muito tempo eu e muitas pessoas usamos a máscara, e pegamos covid-19. (…) A minha opinião é que a máscara não possui a eficiência que afirmam”, afirmou. Ele negou que tenha o interesse de influenciar outras pessoas a deixar de usar máscaras no controle da doença, mas foi exibido um vídeo em que defendia o não uso da máscara.
Durante a tarde, Fakhoury se posicionou em favor da tese de imunidade de rebanho. “Dentro do meu rebanho, ela funcionou muito bem”, afirmou. Foram também apresentadas publicações suas nas redes sociais, com outros episódios em que defendeu a ideia.
Financiamento de fake news
O empresário Otávio Fakhoury admitiu ter financiado ações da campanha eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018. O assunto foi levantado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Fakhoury passou, então, a ser indagado pelos senadores sobre o apoio a milícias digitais para divulgação de fake news durante a pandemia, algumas delas oriundas do governo ou de nomes do governo.
Fakhoury confirmou ter doado para a campanha presidencial do presidente, bem como para a produção de material impresso de grupos que o apoiaram. A reunião foi brevemente suspensa em seguida, por conta de brigas entre o relator e um dos advogados de Fakhoury.
Opinião sobre a Prevent Sênior
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) criticou Fakhoury sobre a promoção de notícias falsas em suas redes sociais durante a pandemia. Após as críticas, questionou sobre sua opinião com relação à empresa Prevent Sênior, fornecedora de planos de saúde investigada por pressionar profissionais de saúde conveniados para que receitem medicações do tratamento precoce aos seus pacientes.
Sua resposta ao questionamento foi evasiva, buscando defender a empresa sem se posicionar. “Eu conheço pessoas que foram tratadas na Prevent, foram bem tratadas e foram salvas. (…) A maioria das pessoas que eu conheço que ali foram tratadas foram salvas”.
O empresário também negou a existência do gabinete do ódio, na qual é acusado de ser financiador e um dos gestores.”Se existe, eu não faço parte. Eu não vi a existência disso”. De acordo com Fakhoury, o sistema na verdade era um grupo no Whatsapp que foi superdimensionado nas investigações.
TrateCov alternativo
Randolfe Rodrigues (PSB-PA) questionou Fakhoury sobre uma possível participação no esquema de criação do TrateCov, um aplicativo de celular lançado pelo Ministério da Saúde em Manaus durante o ápice da segunda onda da pandemia que receitava tratamento precoce para pacientes com a covid-19.
Fakhoury negou ter participado. Mas em seguida, foi exibido um vídeo de uma entrevista em que o empresário defendia a proposta do aplicativo. Em seguida, voltou a falar à CPI que recebeu a proposta de patrocinar um projeto parecido, mas que não chegou a ser desenvolvido.
Entenda o depoimento
O seu depoimento faz parte de uma etapa final de esforços dos senadores, que buscam aprofundar as investigações sobre a atuação de empresários e de apoiadores de Bolsonaro em um comitê que buscou influenciar as decisões de Bolsonaro durante a pandemia.
Fakhoury -que se identifica em suas redes sociais como “conservador, antiglobalista, anticomunista”- faz parte de um seleto grupo junto de empresários com acesso direto à família Bolsonaro. Junto de empresários como Carlos Wizard Martins e Luciano Hang, da Havan, Fakhoury tem trânsito fácil entre a ala política do bolsonarismo. Ele também apoia o governo por meio do site “Crítica Nacional”, que publica conteúdos distorcidos e mentirosos, em sua maioria absoluta pró-governo.
Um dos temas que devem ser abordados na reunião de hoje é a possível interferência direta de Fakhoury junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para o financiamento de uma “rede de comunicação de direita” entre os bolsonaristas.
Como revelou o Congresso em Foco esta semana, Fakhoury estaria trabalhando junto do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), do blogueiro Allan dos Santos e do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, em prol da montagem deste conglomerado. A CPI da Covid – que também trabalha em parceria com a CPI das Fake News – descobriu a questão, e deve abordá-la durante o depoimento do empresário.
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