A disputa pela presidência da Câmara se intensificou nesta semana com a retirada da candidatura de Marcos Pereira (Republicanos-SP) em favor de Hugo Motta (Republicanos-PB). Até então mantido como plano B no seu grupo político, Motta se soma aos baianos Elmar Nascimento (União) e Antonio Brito (PSD) entre os três principais postulantes ao cargo máximo da Casa.
Desses, Elmar é o único que enfrenta resistência do Palácio do Planalto, graças à sua rivalidade com o PT na Bahia. Ele também protagonizou o momento mais intenso de crise do governo, tendo ameaçado orientar sua bancada a votar contra a medida provisória que definiu o atual desenho da Esplanada dos Ministérios. Sem o apoio do União, o Executivo teria sido obrigado a reformular sua estrutura, adequando-se aos 23 ministérios da gestão anterior.
Nas votações, porém, os três costumam acompanhar o presidente Lula. De acordo com o Radar do Congresso, ferramenta de monitoramento legislativo do Congresso em Foco, Antônio Brito é o mais governista. Ele votou em 92% das vezes conforme a orientação do líder do governo na Câmara. Elmar aparece com 87%, enquanto Motta tem 86% de índice de governismo na atual legislatura.
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Os três também acumulam posições em comum nos principais debates da Câmara dos Deputados em 2023 e 2024.
Veja a lista a seguir:
Votações
União Brasil, PSD e Republicanos possuem filosofias econômicas parecidas, sendo este o principal ponto de convergência entre os três deputados: ambos votaram a favor da criação do novo arcabouço fiscal e também da reforma tributária, tanto na PEC que a originou quanto em seu projeto de regulamentação.
Os três também convergiram em questões de matéria social: na condição de líderes, também apoiaram em votações simbólicas tanto o PDL que revoga parte das restrições a armas de fogo instituídas pelo ex-ministro da Justiça, Flávio Dino, quando o requerimento de urgência para o PL 1904/2024, que passou a ficar conhecido como “PL do Aborto” ou “PL do Estupro”, por criminalizar qualquer forma de aborto de feto de idade superior a 22 semanas, mesmo quando for fruto de violência.
Motta e Elmar votaram a favor do projeto de lei que instituiu o marco temporal da demarcação de terras indígenas. Apesar de não ter participado da votação, Antônio Brito votou a favor da urgência para a matéria.
A única grande diferença foi na discussão sobre a manutenção da prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), acusado de ter encomendado o assassinato da vereadora fluminense Marielle Franco.
Elmar Nascimento foi um dos que militaram pela revogação da prisão, enquanto Antonio Brito seguiu no caminho oposto, somando-se ao grupo de parlamentares do PSD que articularam para que a prisão fosse mantida. Hugo Motta se afastou do debate, sem nem mesmo proferir seu voto.
Por outro lado, o líder do União se ausentou em outras matérias polêmicas que receberam o aval do republicano, como na PEC da Anistia Partidária, que perdoa as multas de partidos que descumpriram as cotas orçamentárias de raça e gênero, bem como no projeto de lei que agora tramita no Senado que flexibiliza a aplicação da Lei da Ficha Limpa. Brito votou a favor na primeira, e se ausentou na segunda.
Reviravolta
A corrida pela presidência da Câmara passou por uma reviravolta esta semana com a decisão do vice-presidente da Casa e presidente do Republicanos, Marcos Pereira de retirar seu nome como possível sucessor de Arthur Lira (PP-AL) e indicar Hugo Motta para a disputa. A dupla de parlamentares do Republicanos agora busca convencer Lira a retirar seu apoio ao candidato Elmar Nascimento (União-PB) em favor do paraibano. Enquanto isso, o líder do PSD, Antonio Brito (PSD-BA) tenta consolidar sua própria plataforma de apoio por fora do debate sobre a sucessão do atual presidente.
Os três pertencem a grupos políticos distintos, construindo alianças poderosas ao longo de sua carreira: além de acumular anos de parceria com Arthur Lira, Elmar Nascimento é membro do grupo político do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Juntos, os dois coordenam um dos principais blocos da política baiana, rivalizando com o lado coordenado pelo ministro Rui Costa, do PT.
Com apenas 34 anos, Hugo Motta alavancou em sua carreira pública impulsionado por outros dois líderes influentes: o presidente nacional do PP e ex-ministro da Casa Civil no governo Bolsonaro, senador Ciro Nogueira (PP-PI), e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, principal articulador do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Antônio Brito, ao contrário dos demais, ascendeu na política não pela via partidária, mas pela via institucional. O atual líder do PSD construiu seu nome trabalhando como articulador em defesa dos hospitais filantrópicos e santas casas na Bahia, consolidando a base que o elegeu pela primeira vez em 2011, e que permanece fiel até hoje. Ao longo de sua trajetória, tornou-se aliado de confiança tanto do presidente de seu partido, Gilberto Kassab, quanto do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele é o preferido entre deputados governistas para assumir a presidência da Casa.
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