Há 40 dias, o governo prometeu extinguir dez de seus inacreditáveis 39 ministérios, que nos colocavam no quarto lugar mundial entre as nações com mais pastas, atrás apenas da China, do Canadá e do Gabão. Na ocasião, escrevi: “Apoio, aplaudo e aguardo ansioso o anúncio do fim de outros dez. E de mais dez, para dar sorte”.
Era ironia, claro, pois nunca erra quem espera o pior da Dilma. Ela acabou fechando a conta em oito, uma gota d’água no oceano do desperdício de recursos públicos. E pensar que um milhão de trabalhadores já perderam seus empregos por causa do arrocho fiscal da dupla Dilma/Levy!
Sobraram 31 cidadãos a carregarem a etiqueta de ministros, sendo que os novos e os remanejados seguem o mesmíssimo padrão dos que mantiveram suas pastas: a mediocridade como norma.
Como simulação de austeridade para consumo externo, não passou de uma iniciativa grotesca, constrangedora: outro parto da montanha em que foi parido um rato. E a montagem do quebra-cabeças priorizou, obviamente, os partidos e os políticos que mais possam contribuir para salvar Dilma do impeachment. Fisiologia é coisa nossa…
Foi patética a rendição incondicional de Dilma ao apetite pantagruélico do PMDB e aos cálculos eleitoreiros de Lula, que bateu o pé e conseguiu fazer com que Aloizio Mercadante fosse expelido da Casa Civil.
E é ultrajante ver o Ministério da Educação transformado em prêmio de consolação para político derrotado na luta interna do poder. Salve a Pátria Deseducadora!
De resto, descartada a utilização espúria como cabides de empregos, moedas de troca política, gazua para arrombar os cofres públicos e centro de planejamento e execução de maracutaias, até as pedras sabem que as pastas realmente necessárias não passam de uma dezena. Eis a minha lista:
Cultura
Defesa
Economia
Educação
Interior
Justiça
Relações Exteriores
Saúde
Trabalho
Quanto às demais, poderiam ser por elas absorvidas ou, simplesmente, deletadas, sem deixarem nenhuma saudade.
O marechal Deodoro da Fonseca governou com apenas oito ministérios, mas seus sucessores os fizeram brotar como cogumelos (e tão venenosos como os piores deles!).
Para nos atermos ao passado recente, Tancredo Neves pretendia contar com 23 ministros, Sarney elevou o número para 31, Collor operou com 30 nomes no primeiro escalão (17 ministérios e 13 secretarias ligadas à Presidência), FHC aumentou para 34 e Lula para 38.
Um ótimo exemplo nos é dado pelos hermanos da Argentina: só dez ministros e três secretários com status ministerial.
Já os EUA, que os brasileiros adoramos macaquear, têm 15 ministros. Por que não imitá-los também quanto a isto?
Mas, claro, nem mesmo nos seus melhores momentos Dilma teria coragem política para dar um fim ao Festival de Ministérios Bestas que Assola o País (parafraseando o saudoso Stanislaw Ponte Preta e seu Festival de Besteiras que Assola o País…).
Muito menos agora, quando tenta manter-se no cargo comprando o apoio de todos os demônios do inferno.
* Jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blogue Náufrago da Utopia.
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