Quando começaram as invasões às sedes dos três poderes nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, um governador imediatamente atraiu os olhares da Justiça. Ibaneis Rocha, chefe de governo do DF e ex-aliado de Jair Bolsonaro, foi rapidamente afastado do poder após um pedido da Advocacia-Geral da União ao Supremo Tribunal Federal (STF), suspeito de ter colaborado, por ação ou omissão, para que os ataques pudessem acontecer. Mesmo após o retorno de Ibaneis ao poder, o deputado Aliel Machado (PV-PR), suplente na CPMI dos atos golpistas, ainda avalia que faltam esclarecimentos por parte do governador. Aliel quer saber por que Ibaneis mantém no governo um funcionário comissionado que participou dos atos de 8 de janeiro, conforme demonstrado em fotos e textos publicados por ele mesmo nas redes sociais.
Para quem tem pressa:
-O deputado Aliel Machado busca convocar o governador Ibaneis Rocha para prestar esclarecimentos na CPMI dos atos golpistas de janeiro.
Ibaneis Rocha era aliado de Jair Bolsonaro e foi afastado temporariamente do poder após suspeitas de colaboração com os ataques antidemocráticos.
-O parlamentar questiona a nomeação de Anderson Torres como secretário de Segurança Pública por Ibaneis e até que ponto o governador tinha conhecimento das ações do secretário.
-O deputado também levanta preocupações sobre um assessor de confiança de Ibaneis, Giderclay Zebalos Bezerra, que participou das invasões e postou nas redes sociais. O parlamentar considera inaceitável a permanência desse servidor após os acontecimentos.
-Aliel aguarda aval para apresentar o requerimento de convocação de Ibaneis Rocha, argumentando que o governador é responsável pelos seus servidores comissionados.
Ibaneis Rocha era aliado de Jair Bolsonaro, a quem apoiou tanto nas eleições de 2018 quanto nas eleições de 2022. Após se reeleger, escolheu como secretário de Segurança Pública o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. No dia 8 de janeiro, Torres estava na Flórida, estado americano onde também se encontrava o ex-presidente. Em Brasília, sua saída foi acompanhada de um apagão na inteligência da Polícia Militar.
Torres foi preso ao retornar a Brasília, e uma minuta de golpe de Estado determinando intervenção federal no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para anular as eleições foi encontrada em sua casa pela Polícia Federal. “As peças vão se encaixando, e os responsáveis precisam se explicar diante da CPMI”, defendeu Aliel. O deputado busca apoio no bloco governista para questionar Ibaneis sobre os motivos da nomeação de Torres, e até que ponto as ações do secretário eram de seu conhecimento.
Além de cobrar explicações a respeito de Anderson Torres, o deputado pretende questionar o governador acerca da conduta de um de seus servidores de confiança. “Pelas informações que recebemos, havia um assessor ligado diretamente à Secretaria de Governo do DF que participou das invasões e postou nas redes sociais. Ele é um servidor comissionado, é um funcionário de confiança do governador”, revelou.
O funcionário em questão, conforme demonstrado com exclusividade pelo deputado, é Giderclay Zebalos Bezerra, que tirou fotos junto a manifestantes no Congresso Nacional no dia 8 de janeiro. Em suas redes sociais, adotando o pseudônimo de “Clay”, alegou ter sido figura ativa no acampamento montado pelos golpistas em frente ao quartel-general do Exército, além de ter realizado ataques constantes a figuras do governo e do STF.
“É inadmissível, mesmo depois de tudo que aconteceu, mesmo após o afastamento do governador, nós termos indícios tão graves como a manutenção de um servidor que participou da quebradeira”, declarou o parlamentar. A permanência de Giderclay na Secretaria de Governo foi verificada pelo Congresso em Foco no Portal da Transparência do Distrito Federal, onde ficou comprovado seu cargo com o salário bruto de R$ 5,3 mil.
Membro da bancada governista na CPMI, Aliel aguarda o aval da base para apresentar o requerimento de convocação. “Precisamos verificar a parte legal, por se tratar da convocação de um governador. Também se cogita convocar a pessoa especificamente, mas eu avalio se tratar de um ato político do governador, que é o responsável por seus servidores comissionados. Não acho que ele deva responder pelo ato individual do que esse assessor fez, mas pelo ato político de manter alguém assim em seu gabinete mesmo depois de tudo o que aconteceu”.
A convocação de chefes de governo é um tema controverso na legislação que trata de CPIs e CPMIs. Caso a equipe jurídica conclua que não é possível fazer a convocação de Ibaneis, Aliel cogita a conversão para convite ou a possibilidade de convocar em seu lugar o secretário da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha. “De um jeito ou de outro, vamos avançar nessa apuração”, garantiu.
A próxima reunião da CPMI está prevista para acontecer na terça-feira (11). Nela, está previsto o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Ele é suspeito de ter executado a falsificação do cartão de vacinação do ex-presidente, bem como de ter mantido uma minuta de golpe com teor semelhante à de Anderson Torres e de ter tentado articular um golpe militar junto ao ex-presidente.
Consultada, a assessoria de comunicação do Governo do Distrito Federal confirmou a presença de Zebalos em seu cargo, mas que até então não tinha conhecimento de sua participação nos atos de 8 de janeiro. O governo também informou que A partir do conhecimento dos fatos, o caso será encaminhado para apreciação da Controladoria-Geral do Distrito Federal.
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