Por Beatriz Gagliardo e José Ramos*
Quando uma CPI é instalada, costuma-se repetir em Brasília a expressão “sabemos como começa, mas não como termina”. São tantas variáveis, influências externas e mudanças internas no cenário legislativo, que os rumos da investigação parlamentar pode seguir caminhos inesperados, bem diferentes dos previstos no momento da sua criação.
Atualmente, o Congresso está às voltas com cinco CPIs. Câmara e Senado criaram a comissão mista (CPMI) para investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Na Câmara, quatro CPIs prometem movimentar os próximos meses: a do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST); a das Lojas Americanas; a das fraudes em apostas esportivas; e a dos golpes com criptomoedas.
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Na rota das CPIs, dezenas de empresas e instituições terão suas vidas afetadas, inclusive às de setores regulados. São empresas do agronegócio, bancos, varejo, e o mercado esportivo, hoje fortemente dependente das empresas de apostas eletrônicas.
As CPIs podem encerrar seus trabalhos com várias ações e recomendações, desde o encaminhamento das investigações ao Ministério Público e à Advocacia Geral da União (AGU) – que vão decidir ou não pelo desdobramento de ações civis ou criminais –, até a elaboração de propostas legislativas e recomendações ao Poder Executivo. Em todas essas situações, há o prolongamento da tensão sobre a reputação dos envolvidos.
O impacto, em alguns casos, pode chegar a todo um setor. Muitas vezes, as investigações promovem mudanças em leis e/ou políticas públicas. A CPI que investigou acidentes com barragens em Minas Gerais, por exemplo, provocou mudanças na legislação que afetaram até empresas industriais de outros segmentos, fora da mineração.
Entender as influências externas à CPI é um dos primeiros passos a ser dado pela organização envolvida. A cobertura da mídia, por exemplo, forma, juntamente com a atuação dos parlamentares, um sistema de retroalimentação, que pode tanto dar exposição e projeção para um parlamentar, quanto direcionar os holofotes para um rumo inesperado.
A cobertura de mídia também dita o ritmo e a força e, principalmente, o resultado de uma CPI. Aplicar Inteligência política para situações de alto risco reputacional, buscando antecipar ou minimizar situações decorrentes das discussões em âmbito de uma CPI são cruciais para prever impactos possivelmente negativos aos negócios das organizações.
Em complemento, são necessários o acompanhamento da mídia, do ambiente da CPI, a preparação e realização de uma comunicação direcionada, o desenvolvimento de relacionamento e diálogo, todas atividades fundamentais para a gestão de risco institucional e possível crise derivada dessas discussões.
Situações de alto risco reputacional precisam de comunicação transparente, verdadeira e muito proativa com todos os stakeholders, o que conta com um trabalho multidisciplinar de inteligência política com gestão de reputação, comunicação e jurídico com etapas necessárias para o antes, o durante e, principalmente, o depois do período de trabalho de uma CPI. Construir e reconstruir são etapas primordiais para a gestão de reputação junto com públicos estratégicos.
A execução tempestiva dessas atividades, com atenção aos desdobramentos estratégicos e táticos, poderá proporcionar à organização a possibilidade de minimizar danos e facilitar a volta ao “normal”. Essas ações serão ainda mais facilitadas se a organização já tiver como rotina, previamente, nos tempos de normalidade, o diálogo com seus stakeholders estratégicos e a preparação de planos para gestão de crise.
Um momento como este, apesar de ser crítico, é uma oportunidade também de se conectar aos stakeholders em um trabalho consistente para transmitir.
* Beatriz Gagliardo e José Ramos são, respectivamente, Head e Diretor de Public Affairs da Oficina Consultoria, em Brasília.
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