A CPI da Covid ouviu, nesta quarta-feira (22), o depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior. Durante a manhã, ele foi incluído na lista de investigados pela CPI da Covid.
O médico, que integra a empresa há dez anos, buscou defender a atuação do plano de saúde voltado a idosos na pandemia. Pressionado pelos senadores sobre a atuação do grupo junto ao governo federal, Pedro disse que não integrou o chamado “gabinete paralelo”, que teria auxiliado o presidente Jair Bolsonaro na condução da estratégia de combate à pandemia. Questionado sobre as mortes – como o caso da mãe do empresário Luciano Hang – o diretor limitou-se a dizer que não poderia, por questão de ética médica, comentar os casos.
Investigado por mentir
O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, indicou que Pedro passaria ao grupo de investigados ainda pela manhã, por mentir. “Quero informar que mandarei todos os documentos colhidos aqui para a Procuradoria de Justiça do Estado de São Paulo”, disse. “Os fatos aconteceram lá. Há um desejo muito grande do Ministério Público de São Paulo em levantar essa situação”, justificou.
Pedro negou que a Prevent Senior praticou testagem em massa com o chamado tratamento precoce, ineficaz para a cura e prevenção da infecção por covid-19. De acordo com ele, o que houve foi “estudo observacional”. Pedro ainda disse que nenhum médico foi orientado a receitar hidroxicloroquina, medicamento defendido pelo presidente Jair Bolsonaro para a covid , ainda que sem eficácia. “Cada médico teve a sua autonomia”, defendeu.
Calheiros apresentou um áudio de Pedro Batista com outro médico em tom de ameaça. Na fala, o representante da Prevent Senior pede que o profissional que denunciou as atitudes do plano de saúde volte atrás nas declarações. Confira:
A pesquisa com o kit covid realizada pela Prevent Senior teve início no dia 6 de abril, sem a autorização do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). No dia 14 do mesmo mês, o Conep liberou o estudo, porém seis dias depois a prática foi proibida. Apesar disso, Pedro Batista Júnior afirmou que o plano de saúde não precisou da autorização do Conselho.
Os senadores ficaram insatisfeitos com as respostas do depoente. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) chegou a chamar Pedro Batista de “mentiroso”. Os outros parlamentares presentes concordaram com os apontamentos de Rogério. “Está de graça aqui na CPI”, criticou Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão. A defesa de Pedro Batista interrompeu os senadores para pedir respeito ao representante do plano de saúde.
Apesar da familiaridade na defesa do tratamento ineficaz para a covid-19, Pedro Batista negou ao colegiado qualquer relação do plano de saúde com algum aliado do presidente Jair Bolsonaro no Congresso. “A Prevent Senior não tem relação com nenhum gabinete”, disse.
O caso Hang
A morte do médico Anthony Wong e o falecimento da mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang foram abordados na reunião. Os senadores apontaram que os dois atestados de óbito por covid-19 foram manipulados para esconder que o tratamento precoce não teve êxito nos pacientes.
Pedro disse que não daria maiores informações sobre os casos por questões de ética profissional. Por conta disso, a comissão pediu acesso ao prontuário completo da mãe do empresário.
Já Randolfe Rodrigues (Rede-AP) questionou o fato de o nome da empresa aparecer em uma nota técnica do Ministério da Saúde que defendeu a aplicação de hidroxicloroquina em crianças. O médico disse ao colegiado que o Ministério da Saúde pode ter se valido de protocolos da Prevent Senior, mas que a empresa não fez tais aplicações em crianças. “Como médico, não concordo por não ver a menor necessidade no uso”, limitou-se a dizer.
De acordo com ele, a pasta anexou dentro de suas planilhas etiquetas do tratamento precoce para tratar infecção por covid-19. Mesmo assim, ele negou contatos entre a Prevent Senior e o Ministério da Saúde. “Não tivemos qualquer contato para desenvolvimento de qualquer protocolo junto ao Ministério da Saúde”, informou.
Apesar do depoente negar que o plano de saúde distribuiu medicamentos sem eficácia aos seus pacientes, o senador Otto Alencar (PSD-BA) apresentou um vídeo gravado por dois profissionais de saúde mostrando uma cesta com os kits de medicamentos para serem entregues. O senador Otto criticou o fato dos kits não possuírem as receitas médicas. Pedro Batista Júnior disse que as receitas estavam com os pacientes.
O depoimento desta quarta-feira (22) começou por volta das 11h30. Omar Aziz abriu a reunião antes, mas os parlamentares dedicaram um tempo para se solidarizar aos ataques proferidos a senadora Simone Tebet (MDB-MS) na oitiva de terça-feira (21).
Entenda o caso:
Empresa especializada em planos de saúde para idosos, a Prevent Senior é acusada de ter realizado um estudo com seus pacientes para estimular o uso de hidroxicloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada no combate à covid-19. Nesse estudo, a Prevent Senior teria ocultado mortes que ocorreram com alguns pacientes testados para distorcer o resultado e fazer crer que o uso da medicação tinha obtido bom resultado.
De acordo com o dossiê, nove pessoas morreram durante a pesquisa, mas o estudo mencionou apenas duas mortes. Esse estudo chegou a ser divulgado e elogiado por Bolsonaro como exemplo do sucesso do tratamento precoce.
O depoimento de Pedro Benedito Batista Júnior era aguardado para a quinta (16) passada, mas o empresário não compareceu sob a alegação de que não houve tempo hábil para se programar e estar presente na comissão. Posteriormente, ele recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de habeas corpus que lhe garantiu o direito de permanecer em silêncio em questionamentos que possam incriminá-lo. A medida foi concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski.
A convocação de Pedro Benedito Júnior foi requerida pelo senador Humberto Costa (PT-PE). O congressista afirma que diversas denúncias de usuários da Prevent Senior relacionadas ao tratamento precoce têm chegado à CPI. Uma dessas denúncias está anexada ao requerimento do senador. Em um dos trechos consta o seguinte relato:
“Minha companheira testou positivo ontem e ao passar pela consulta o médico disse que era protocolo da empresa oferecer o kit. Ela recusou. Mais tarde, em casa, recebeu um telefonema de um funcionário insistindo em que ela aceitasse tomar o kit com cloroquina, porque era o único remédio para isso, e que se a doença ficasse pior, não tinha o que fazer, a não ser entubar”, diz a mensagem.
O senador e demais integrantes da CPI têm reforçado que é inadequado o uso de recursos públicos para a aquisição, distribuição e indução de medicamentos do chamado tratamento precoce, como a cloroquina e a hidroxicloroquina, sem respaldo científico.
> Renan Calheiros adia a entrega final do relatório da CPI da Covid
> Vídeo: Wagner Rosário chama Simone Tebet de “descontrolada”, e CPI reage
Deixe um comentário