Ainda que a desestatização da Dataprev e do Serpro – projetada por Paulo Guedes desde 2019 – não se cumpra antes de 2023, seguindo o novo calendário do governo, as duas empresas vêm sofrendo um processo de privatização interna.
Isso acontece de diferentes formas, porém, em cada uma delas, há situações compartilhadas. A diminuição do quadro de funcionários, por exemplo, é uma delas. De acordo com um funcionário da Dataprev, que prefere não se identificar, somente nos últimos anos a empresa perdeu 515 especialistas. O funcionário aponta que em entrevista recente, o presidente da Dataprev, Gustavo Canuto, admitiu que pretende chamar somente 150 concursados, além de diminuir ainda mais o número de funcionários por meio de um programa de demissão incentivada.
Outro exemplo problemático que permeia ambas as empresas é a questão de armazenamento em nuvem. Segundo um funcionário do Serpro, a contratação de armazenamento em nuvem é desnecessária, já que o Serpro tem estrutura física para tal. “Isso promove um sucateamento de projetos internos”, opina o especialista que explica o motivo: “As contratações estão sendo feitas sem nenhum critério técnico, o que pode vir a causar inclusive problemas de segurança no futuro”.
Além dos exemplos citados ainda há outros, como a falta de concurso público para a reposição de funcionários, a contratação de empresas privadas para desenvolver soluções que nem sempre são entregues conforme a necessidade, a falta de investimentos apesar do alto lucro das empresas. Questões que os especialistas da Dataprev e do Serpro apontam que podem se transformar em grandes problemas caso essa privatização envergonhada siga acontecendo sem contestação.
O especialista do Serpro ainda avalia que, somados, esses problemas culminam com a contradição do princípio basilar de toda a Administração Pública: “A supremacia do interesse público ante o particular”.
Nesse sentido, o funcionário conclui: “O interesse público jamais deve ser confundido com interesse de grupos do poder de turno. E principalmente quando se leva em conta os interesses dos que acreditam que empresas tão necessárias ao funcionamento do Estado, como a Dataprev e o Serpro, devem ser entregues à gestão orientada principalmente ao lucro, como ocorre na iniciativa privada”.
Tal situação tem acarretado a chamada evasão de cérebros nas empresas públicas. Especialistas com anos de experiência e altíssimo nível de formação têm emigrado para outros países que oferecem condições de trabalho mais vantajosas e desafiadoras, ou mesmo ido para a iniciativa privada, já que a atratividade e a retenção de talentos teve uma enorme queda no último período. Isso significa investimento público de anos desperdiçado, além de uma demanda de muito tempo para que os novos funcionários atinjam o nível de excelência dos que foram embora.
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