O ministro Fernando Haddad é um otimista. No comando da economia, tem pregado um ajuste nas contas públicas que desagrada a muitos, inclusive aos companheiros de partido no PT. Defende, contra as evidências, atingir a meta de déficit zero. Quando se depara com pedidos que se traduzem em aumento de gastos — uma rotina —, costuma perguntar ao interlocutor: “Estão gostando do dólar estável? Dos juros em queda? Da economia em alta? Pois é, tem um preço. Se sair do rumo, isso tudo volta atrás”.
Convencer parlamentares é tarefa difícil. Nessa Quaresma recém-iniciada, o ministro tem pela frente uma agenda de problemas. A começar pelo veto do governo a R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares. O Congresso deve derrubar esse veto e ainda exige um calendário para a liberação dos recursos a tempo de cumprir a lei eleitoral, que interrompe os repasses em junho.
Parlamentares cobram do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que marque o quanto antes a sessão do Congresso para analisar o veto. Pacheco ainda não divulgou a data, mas o governo quer ganhar tempo. Tem expectativa de aumento de receitas e acha que poderia resolver o problema sem esse conflito.
Leia também
Outro dos assuntos mais polêmicos dessa pauta é a desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia e da contribuição previdenciária dos municípios. A renovação do benefício foi aprovada pelo Congresso, mas o governo quer reverter a decisão. Haddad alega que a Previdência tem um déficit grande e exige atenção. A disposição é conceder um prazo e, paulatinamente, voltar a cobrar as contribuições. Não vai ser fácil.
Depois de ter confrontado o Parlamento com uma medida provisória, o governo foi convencido a trocá-la por um projeto de lei, ou seja, uma negociação que fica sob o comando do Legislativo, não do Executivo. Rodrigo Pacheco trabalhou para chegar a essa fórmula. Poderia ter devolvido a medida provisória, mas resistiu às pressões e negociou a apresentação do projeto de lei — ainda em elaboração na Fazenda. “O presidente do Congresso tem tido uma atitude de estadista”, retribuiu Haddad, em entrevista à jornalista Miriam Leitão.
Pacheco surpreendeu muitos, nesta semana, ao cobrar do presidente Lula, num discurso em plenário, uma retratação de suas declarações sobre o conflito entre Israel e o Hamas, que o presidente comparou ao Holocausto. Pareceu hostilidade, mas o gesto foi explicado ao governo como ajuda para não prolongar o eco da crise no Congresso. O senador foi pressionado para que o Legislativo tomasse uma atitude. Optou por assumir o ônus sozinho, poupando o Planalto.
PublicidadeLula estava ao lado de Pacheco em sua primeira visita a Minas neste terceiro mandato, no início do mês. O senador pediu “um olhar diferenciado” para Minas, referindo-se à dívida do estado com a União, de cerca de R$ 160 bilhões. Pacheco tem defendido medidas alternativas à adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal. O assunto ainda não foi resolvido, mas Lula não o deixou sem um elogio. “Pacheco é, possivelmente, a grande personalidade pública de Minas Gerais hoje no cenário nacional. […] Eu acho que ele é uma figura que tem que ser levada em conta em qualquer discussão eleitoral em Minas Gerais.”
Sem ruído, à moda mineira, Pacheco tem tocado sua parceria com o governo petista. Sabe que em seu estado a raia da direita está com o governador Romeu Zema. Resolveu fazer seu caminho na política atrelado a Lula.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Eu não sei se esse artigo foi escrito antes daquele papelão do Senador Rodrigo Pacheco, ao lê aquele ultimato da extrema direita, contra Lula, no Congresso. Mas fica claro que o Senador é um traiçoeiro frouxo, sem escrúpulos. Muito cuidado, Presidente Lula!