Lead primeiro: na condição de fundador e controlador do Congresso em Foco, informo que encerro nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024, minha participação na empresa que publica este portal. Saímos da sociedade eu e meus filhos Felipe e Júlia, detentores da totalidade do capital. Também concluo aqui uma jornada de 20 anos e nove meses neste bat-canal.
Muito obrigado a você pela companhia. Gratidão pela audiência, pelo apoio nas horas difíceis, pelas críticas fundamentais, pelo compartilhamento dos nossos conteúdos, pelas dicas que nos ajudaram a encontrar caminhos para fazer jornalismo independente e de qualidade de modo ético e sustentável.
Gratidão a uma equipe em que deixo amigos e amigas que precisarão fazer muita força para saírem deste coraçãozinho bobo aqui. Quem me conhece já me ouviu dizer e sabe que é verdade: entrar nele é fácil, pra sair eu dificulto à beça. Isso vale pra equipe atual e também pra muita gente boa que hoje empresta seu talento a outras organizações.
Leia também
Obrigado a colunistas e colaboradores. A clientes, fornecedores. A fontes de informação, parlamentares, assessores, líderes sociais, ativistas. A gente de vários lugares e perfis que nos pautou e nos ensinou a cobrir o Congresso buscando novos ângulos, novas vozes, novos dados, novas dores. Cobrir o Congresso jamais virando as costas pro país e pro seu povo sofrido.
Um orgulho imenso por ter compartilhado com vocês a história do primeiro veículo nativo digital voltado para a cobertura do Congresso Nacional e da política. Líder de audiência entre os congressistas. Detentor de dezenas de prêmios, incluindo oito em Cannes.
Pioneiro no monitoramento dos registros criminais de políticos e na revelação de vários aspectos fundamentais sobre a ação dos legisladores. Um dos nossos grandes feitos foi a revelação dos absurdos gastos aéreos de deputados e senadores, em 2009. Registrada em livro pelos autores, a série de reportagens resultou em mudanças de regras que geraram, somente na Câmara, uma economia anual ao redor de US$ 12,5 milhões. O valor acumulado beira a algo em torno de US$ 200 milhões. Economia gerada pelo bom jornalismo, que, você sabe, só se faz com coragem e independência.
PublicidadeEstou nessa coisa de jornalismo há muuuito tempo. Tanto tempo que, por exemplo, em 1993 assinei na IstoÉ a reportagem que colocou em desgraça o então ministro da Fazenda, Eliseu Resende. Parece pouco? Foi não, juro. Saiu Eliseu e… agora você vai lembrar… entrou Fernando Henrique, o cara que recrutou uma turma de economistas brilhantes pra fazer o Plano Real e depois presidiu a República por oito anos.
Vivenciei outro momento de extrema realização profissional na condição de editor de Cidades do Correio Braziliense ao dar ouvidos a uma repórter sagaz (Ana Júlia Pinheiro) e iniciar por conta própria a campanha Paz no Trânsito, depois encampada e ampliada com talento pelo diretor de redação, Ricardo Noblat. Foi um tremendo case de jornalismo cidadão que, ao incentivar práticas mais civilizadas no trânsito, contribuiu para gerar uma marca de Brasília: o hábito, infelizmente raro em outras cidades brasileiras, de parar na faixa de pedestre.
Foram, enfim, muitos os instantes em que fui feliz na difícil profissão de jornalista. Mas nada se compara à alegria de construir a marca da qual me despeço agora.
Sinto-me como o pai que sabe que chegou a hora de ver o filho voar, ganhar caminhos próprios, certamente mais altos.
No atual ambiente do jornalismo digital, era necessário dar esse passo para garantir longevidade e expansão ao negócio. Durante um bom tempo procurei investidores e sócios inutilmente. Nos últimos meses a situação se inverteu: fui procurado por vários interessados em adquirir o controle de uma organização reconhecida pela credibilidade e pela qualidade dos seus serviços.
De olho no futuro do filho, escolhi não a melhor proposta financeira, mas a que me pareceu mais coerente com o projeto editorial do Congresso em Foco. O novo controlador, Miguel Matos, fundou há 24 anos o bem-sucedido portal jurídico Migalhas e tem todas as condições para fazer esta pequena-grande-nave voar muito, mas muito alto. Estarei à disposição para ajudar, no que estiver ao meu alcance, na transição.
Torço para isso, deixando claro que não estou abandonando nem o jornalismo nem o empreendedorismo. Muito menos abandono a vontade de contribuir para promover a cidadania e a reflexão sobre os rumos do país. Sem concorrer com este portal que ajudei a inventar, vou agora estudar as alternativas para em breve retomar o diálogo com você. Até lá!
Veja também:
O veículo mais acessado pelos congressistas leva seu charme ao Congresso