por Arnaldo Jardim*
O país do futuro está vendo os dias que virão mais nublados do que gostaria. O Brasil tende, nas próximas décadas, a ter um crescimento demográfico mais lento. Vamos envelhecer mais, o que impactará nas contas da Previdência. Vamos experimentar a revolução do mercado de trabalho com a digitalização da economia em todas as etapas da cadeia produtiva.
Vamos sofrer com a baixa qualidade de nossa mão-de-obra, formada com deficiência nos bancos escolares e sem uma política de valorização do ensino profissionalizante. E vemos, há espantosas três décadas, a produtividade dos trabalhadores brasileiros estagnar ou despencar, fazendo com que ocupemos os últimos rankings de competitividade quando comparado às outras nações.
É um cenário enevoado para um país que precisa de sol, luz e calor para se desenvolver e tornar-se mais justo e inclusivo. São muitas variáveis emperrando nosso crescimento e ceifando emprego e renda dos brasileiros, sem que as pessoas ou os tomadores de decisão se preocupem ou se atentem a isso.
Nos perdemos discutindo generalidades e banalidades e nos reservamos o direito de não pensar no essencial. Ariano Suassuna costumava dizer que em volta do buraco tudo é beira. Muito já foi tragado em nosso país, não podemos deixar que mais coisas se percam em nossa trajetória.
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Dois levantamentos desalentadores mostram o tamanho da batalha que precisamos travar. O anuário de Competitividade Mundial, realizado pelo IMD em parceria com a Fundação Dom Cabral, colocou o Brasil em 60º lugar em um ranking com 64 países – à frente apenas da África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela. No ano passado, estávamos em 59º, entre 63 nações.
Outro estudo, realizado pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do FGV – Ibre, mostrou que, nos últimos 27 anos, a produtividade da indústria de transformação brasileira caiu quase 1% ao ano, em média. Para se ter uma ideia do desastre em relação à produtividade, se em 1995 cada hora trabalhada no Brasil gerava R$ 45,59 em produtos, ao término de 2022 esse mesmo tempo gerava apenas R$36,50.
No caso da competitividade, os fatores analisados foram eficiência nos negócios, desempenho econômico, infraestrutura e eficiência do governo. Pontos que precisamos melhorar e que precisam estar na agenda prioritária de quem quer ver um Brasil forte e inserido com grandeza no cenário mundial, participando das discussões e decisões geopolíticas relevantes.
Mais uma vez, foi o agro que nos manteve na superfície, em condições de respirar acima do nível d’água. Entre 1995 e 2022, o crescimento médio da produtividade por hora trabalhada deste setor foi de 5,5% ao ano. Quando falamos do principal segmento da economia brasileira, o setor de serviços, que concentra mais de 70% das horas trabalhadas e do valor adicionado aos produtos, percebemos que o crescimento, no mesmo período, foi de modestíssimos 0,2% anuais. É muito pouco para um Brasil que quer ser competitivo.
Estamos discutindo na Câmara a reforma tributária e o arcabouço fiscal. A Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo apresentou uma agenda legislativa robusta e condizente com o país que desejamos. Precisamos dialogar e, mais do que isso, necessitamos agir. Não é mais possível ficarmos conformados com o estado das coisas, fingindo que a virada de chave de nação virá como mágica ou inspiração divina.
Temos uma nação de brasileiros que acordam, trabalham e dormem todos os dias e merecem que o amanhã seja melhor do que o hoje. É preciso fazer a nossa parte. O Brasil não vai se tornar competitivo pelo simples fato de acharmos que Deus é brasileiro. A cada segundo suas obras, já nos ensinou Jesus.
* Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) é deputado e presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.
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