O deputado Jilmar Tatto (PT-SP), dirigente no PT nacional, considera que a legenda está prestes a cometer um erro estratégico. Nesta sexta-feira (4) e no sábado (5), o diretório municipal do Partido dos Trabalhadores em São Paulo realiza um congresso, no qual a sigla deve anunciar formalmente que vai apoiar a candidatura do também deputado Guilherme Boulos (Psol) para prefeito da capital paulista. Para Jilmar, essa decisão é o “caminho da derrota” – ajuda a reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), passa uma sinalização ruim para o país e, mais adiante, pode atrapalhar o projeto do PT para uma candidatura presidencial em 2026.
Secretário de Comunicação do PT, Jilmar vem criticando publicamente a aliança do seu partido em torno da candidatura de Boulos. Em entrevista ao Congresso em Foco, o deputado trata como inevitável o apoio do partido a Boulos, sem margem para adiar a decisão. “O PT vai cumprir o acordo. A militância do PT, brava, vai cumprir”, diz. Mas segue com as críticas: segundo ele, uma vitória na eleição municipal paulistana só viria com uma “inflexão ao centro” do PT. O apoio a uma candidatura mais à esquerda faria com que os eleitores centristas se inclinassem a votar em Ricardo Nunes. O acordo ao qual o deputado se refere foi costurado pelo PT em 2022. Na ocasião, Boulos retirou sua candidatura ao governo estadual em favor de Fernando Haddad, em troca do apoio petista ao seu nome em 2024.
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“O ideal era que se juntassem as lideranças do PT, e aí entra Lula e Haddad, Alckmin e Márcio França – PSB, portanto – , PDT… a Tabata Amaral, o Boulos, a Marina [Silva]… juntasse, colocasse todo mundo na mesma sala, e que nesse caldeirão, nessa feijoada surgisse um candidato que pudesse ampliar”
Jilmar Tatto já foi, ele próprio, candidato a prefeito de São Paulo. Disputou a eleição em 2020 e ficou em sexto lugar, com 8,65% dos votos válidos. Boulos avançou para o segundo turno, mas foi derrotado naquele ano pelo então prefeito da cidade, Bruno Covas (PSDB), que se reelegeu. Ricardo Nunes era o vice de Bruno. Assumiu a prefeitura quando Covas morreu por conta de um câncer no aparelho digestivo, em 16 de maio de 2021.
Se o apoio do PT a Boulos se confirmar, será a primeira eleição para prefeito de São Paulo em que o partido não lança um candidato próprio.
O deputado ainda considera que o apoio a Boulos dividiria os aliados ao governo federal. Sem um candidato do PT, argumenta, Lula fica mais sujeito a pressões para não se envolver na campanha municipal. Jilmar também acha que este cenário desestimula a participação de Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ex-governador do estado de São Paulo.
Na entrevista, Jilmar ainda contou sobre a tensão entre PT e Psol na Câmara dos Deputados e disse que enxerga potencial na pré-candidatura de Tabata Amaral (PSB) para a mesma Prefeitura de São Paulo. Leia abaixo o que Jilmar Tatto disse ao Congresso em Foco a respeito das eleições paulistanas no ano que vem.
Congresso em Foco – No próximo sábado, o Partido dos Trabalhadores deve anunciar apoio a Guilherme Boulos para prefeito de São Paulo, no congresso do PT municipal. O sr. já criticou este acordo publicamente. O que fazer agora?
Jilmar Tatto – Para você entender o contexto: o PT tem a presidência da República. O PT governou a cidade de São Paulo três vezes. Deixou marcas profundas na cidade de São Paulo. E o Lula e o Haddad, ambos ganharam na cidade de São Paulo na última eleição, para governador e para presidente da República. O PT tem a maior bancada de vereadores do Brasil lá em São Paulo. A cidade de São Paulo é progressista – de centro-esquerda, ou, às vezes, de centro-direita. Então o Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] pensa o seguinte: se eu lanço um candidato raiz, bolsonarista, eu perco a eleição. Ele está fazendo uma inflexão ao centro. Quer apoiar o Ricardo Nunes, porque daí carrega o voto da centro-direita. Traz o Ricardo Nunes para uma relação boa com ele, com o partido dele e com o bolsonarismo.
Para a esquerda ganhar em São Paulo, no meu pensamento, ela tem que fazer uma inflexão ao centro. Quando a Marta [Suplicy] ganhou, e o [Fernando] Haddad, foi isso que aconteceu, a gente fez uma inflexão ao centro. E o que nós estamos fazendo agora? O PT vai apoiar um candidato de esquerda, está fazendo uma inflexão à esquerda. Então nós estamos ajudando o Ricardo Nunes a ganhar a eleição. Nada contra o [Guilherme] Boulos, não é um problema com a figura do Boulos. É que o Psol, na minha concepção, não ganha eleição na cidade de São Paulo. Entendeu? Dito isso, tem um acordo, então o PT vai apoiar o Psol. Eu tentei falar que é um erro, é o caminho da derrota. Mas como tem um acordo, nós não vamos romper o acordo feito pela Gleisi [Hoffmann, presidente do partido], com a anuência do presidente Lula. Então, no final de semana, vai aprovar apoio ao Boulos. O PT vai ter a vice.
Então o sr. já considera isso inevitável.
Sim. Eu procurei alertar. Gostaria de estar errado, a eleição vai ser ano que vem e vamos aguardar o resultado. Nós vamos trabalhar para ganhar. Mas do ponto de vista histórico do comportamento do eleitor na cidade de São Paulo, não é isso que acontece. É uma sinalização ruim para o resto do país. O que vai se passar na cabeça das pessoas no resto do país? Que o PT não está dando importância para as eleições municipais. Porque, na principal cidade, o PT abriu mão. E a eleição de 2024 fortalece nosso projeto para disputar 2026 – o PT não entrar enfraquecido e perder alianças, entendeu? Eleição municipal é para fortalecer os partidos. A lógica tem que ser essa. Os partidos têm que jogar, ter time. Time que não joga não tem torcida.
Não há margem para essa decisão ser adiada?
Não. O PT apoia o Psol. O PT vai cumprir o acordo. A militância do PT, brava, vai cumprir.
O PT se prejudica também ao não apresentar um candidato?
O ideal era que se juntassem as lideranças do PT, e aí entra Lula e Haddad, Alckmin e Márcio França – PSB, portanto – , PDT… a Tábata Amaral, o Boulos, a Marina [Silva]… juntasse, colocasse todo mundo na mesma sala, e que nesse caldeirão, nessa feijoada surgisse um candidato que pudesse ampliar. Não à esquerda, porque a esquerda já é nossa. A esquerda já vota no candidato do PT, no Lula, no Boulos. Mas alguém que pudesse disputar o centro com o Ricardo Nunes. O fato do Bolsonaro estar com o Ricardo Nunes afasta eleitores. Tem que pegar esses descontentes, e não é isso que está acontecendo.
Por esse critério de conquistar o eleitor mais ao centro, Tabata Amaral pode ser uma candidata mais competitiva do que o Guilherme Boulos?
Pode vir a ser. A Tabata pode vir a ser. Ela é de periferia. É jovem, mulher. Tem um perfil que o paulistano gosta, uma história bonita. Dependendo de como for a construção da candidatura dela, ela pode surpreender. Não dou de barato que ela está fora do páreo. Os partidos de centro que estão na base do governo vão pressionar o presidente Lula para que ele não faça campanha para o Boulos. Vão falar: “Presidente, ele não é nem do seu partido. Por que você vai prejudicar o nosso, do MDB?”. Fico imaginando o Baleia Rossi [deputado por São Paulo, presidente do MDB] falando isso. Vai ter pressão. E o Alckmin poderia ser mais “atirado” se fosse uma candidatura do PT, porque é o partido do presidente da República, ele é vice-presidente da República… Mas, se a candidatura for do Psol, o Alckmin vai falar “meu compromisso não é com o Psol”…
E, ao mesmo tempo, o partido dele deve ter candidata…
…e tem candidata do partido dele. Então, o Alckmin não vai apoiar o candidato do PT. Aí fica esquisito. O vice-presidente apoia um candidato, e o presidente apoia outro. Eu desconfio que nenhum dos dois vai descer lá. Vai gravar [prestar apoio por vídeo]. Vai gravar e, ó, boa sorte. Desconfio que isso possa vir a acontecer. E o que tem de ruim nisso? Tem de ruim que só fortalece a candidatura do Ricardo Nunes.
Como tem sido a relação do Psol junto ao PT no Congresso, considerando-se as divergências em votações importantes?
É uma relação tensa. O próprio José Guimarães, líder do Governo, falou: “Vai ter consequência”. No arcabouço fiscal, os extremos se juntaram, o Psol votou com o PL. Na cidade de São Paulo é muita tensa a relação, na Câmara e nos movimentos sociais. O Psol cresce em cima do PT. Ser governo às vezes envolve desgaste, o Psol fica sempre numa zona de conforto em relação às votações. Na grande política estão conosco, na defesa da democracia, dos direitos sociais, contra o bolsonarismo. Mas é um partido que disputa conosco o nosso eleitorado. E vai crescer em função disso.
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