A disputa entre o líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL), e o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelas eleições que vão definir a próxima mesa diretora teve nesta semana um desdobramento que resvalou na disputa interna do PSDB. O Congresso em Foco procurou deputados do PP e PSDB, que explicaram sob condição de anonimato o clima dentro dos partidos.
> Centrão manobra para destituir aliado de Maia de liderança
O líder do PP, junto com o líder do PL, Wellington Roberto (PB), articulou a indicação do deputado Celso Sabino (PSDB-PA) para substituir Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) na liderança da maioria. Por conta disso, Sabino vai ter de enfrentar um processo de expulsão do PSDB.
Lira e Maia têm travado um embate. O deputado do PP de Alagoas quer ser presidente da Câmara e, para isso, tem feito uma ponte entre governo e Congresso para nomeação de cargos. O presidente da Câmara é próximo de Aguinaldo Ribeiro, que tem um perfil independente do governo. Ele é o relator da reforma tributária.
Leia também
Uma lista com apoio de 11 partidos para substituir Aguinaldo por Sabino foi encaminhada, mas ainda precisa ser analisada por Rodrigo Maia.
As principais informações deste texto foram enviadas antes para os assinantes dos serviços premium do Congresso em Foco. Cadastre-se e faça um test drive.
Ato da mesa diretora que estabeleceu o sistema de votação remota exige que esse tipo de requerimento seja apresentado dentro do sistema da Câmara. O requerimento apresentado pelos líderes do Centrão foi por e-mail e por isso foi invalidado.
Os deputados defendem a validade da solicitação e dizem que o regimento interno da Câmara é maior que um ato da mesa diretora. Mesmo assim, Lira e Wellington agora tentam reunir outra vez as 11 assinaturas para que o requerimento seja enviado de novo, dessa vez pelo sistema da Casa.
Veja a lista dos partidos que apoiaram a troca de Aguinaldo por Sabino:
O deputado do Pará já foi pivô de outras duas disputas internas do PSDB. Ele relatou o pedido de expulsão do deputado Aécio Neves (PSDB-MG) da legenda, com recomendação pelo arquivamento, que foi atendida. Também tentou ser líder da sigla, apoiado por Aécio, contra o deputado Beto Pereira (PSDB-MS), apoiado pelo governador João Doria (PSDB-SP).
A escolha do tucano para a liderança da maioria foi combinada entre Lira e Aécio. Os dois são próximos há anos e Lira já ajudou Aécio com votos ano passado quando o mineiro tentava emplacar Sabino na liderança do PSDB. O líder do PP agiu para que Guilherme Mussi (PP-SP), que estava licenciado do mandato, voltasse para Câmara. A ação fez com que o deputado Miguel Haddad (PSDB-SP), suplente de Mussi e contra a indicação de Sabino, saísse do mandato.
Aécio trava uma disputa interna com Doria. O governador já tentou expulsar Aécio do partido, sem sucesso, e os dois disputaram ano passado uma guerra de listas para definir o líder do partido na Câmara. Dada a indefinição, Carlos Sampaio foi renovado para mais um ano como líder.
O governador paulista é próximo de Rodrigo Maia e tenta conquistar o apoio do DEM para disputar a presidência em 2022. A união entre Aécio e Lira visa tanto enfraquecer Maia na eleição interna da Câmara quanto Doria no pleito presidencial.
O movimento para substituir Aguinaldo Ribeiro da liderança da maioria estava planejado há semanas, mas tomou impulso após o bloco partidário comandado por Arthur Lira ser desidratado com a debandada de MDB, DEM, Pros e PTB.
O objetivo em mudar a liderança da maioria é enfraquecer Rodrigo Maia em duas frentes. A principal delas é fragilizar Aguinaldo, aliado do presidente da Câmara e um dos apontados por ele como possível sucessor. A outra é fortalecer a ala governista do PSDB e diminuir o apoio dentro do partido a Maia.
Há hoje dentro do PSDB cerca de 10 deputados, de uma bancada de 32, que são próximos do governo de Jair Bolsonaro. No entanto, mesmo dentro desse grupo o sentimento foi que Sabino errou ao participar dessa mobilização sem consultar a liderança ou a direção nacional da legenda. Há deputados solidários a ele, que consideram injusta a ameaça de expulsão, mas a avaliação majoritária é que ele deveria ter consultado o partido.
>“Nada a ver com eleição”, diz Maia sobre saída do DEM e do MDB do Centrão