Edson Sardinha
Os líderes do PSDB e do PFL na Câmara e no Senado vão pedir esta semana às CPIs dos Correios e do Mensalão que apurem se um dos irmãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está praticando tráfico de influência. De acordo com reportagem publicada pela revista Veja, Genival Inácio da Silva, o Vavá, intermediou encontros de empresários com prefeituras petistas, estatais e órgãos do governo federal, como a Caixa Econômica e a Secretaria-Geral da Presidência da República. Tucanos e pefelistas discutem a possibilidade de convocar Vavá para prestar depoimento a uma das CPIs.
O Palácio do Planalto divulgou nota neste sábado negando que o presidente Lula tivesse conhecimento da existência de um escritório do qual seu irmão de 64 anos participasse. “Qualquer pessoa que tenha a ilusão de conseguir benefícios do governo federal usando o nome do Presidente da República não será bem-sucedida", diz a nota. A oposição já tentou, sem sucesso, convocar Fábio Lula da Silva, filho do presidente, por suposto tráfico de influência, a depor nas CPIs dos Correios e dos Bingos.
Leia também
Segundo a revista, Vavá teria montado um escritório em São Bernardo do Campo (SP) para intermediar interesses de empresários com o governo federal. O irmão mais velho de Lula teria obtido audiências para a Federação Brasileira dos Hospitais (FBH) com César Alvarez, assessor da Presidência, e um empresário da construção com o diretor de operações e logística da Petrobras Distribuidora (BR), Edimilson Antonio Dato Sant’Anna.
Ex-metalúrgico, Vavá confirmou a Veja que viaja com freqüência a Brasília, com passagens pagas por empresários, para intermediar encontros. "Se o presidente (Lula) tem empresários que procuram ele para fazer negócio, nada melhor do que você ajudar", afirmou. Ele negou, no entanto, ter recebido dinheiro pelo trabalho: "Até agora ninguém pagou nada ainda. Espero ganhar um dia".
A primeira audiência teria ocorrido no dia 14 de setembro. O encontro com o assessor de Lula teria sido marcado para negociar a quitação da dívida da União, que chegaria a R$ 580 milhões, pelos serviços prestados por hospitais particulares ao Sistema Único de Saúde (SUS). Alvarez contradisse o irmão de Lula e negou ter concedido a audiência.
PublicidadeO outro encontro intermediado por Vavá teria ocorrido no dia 29 de setembro, na sede da empresa no Rio. O irmão do presidente, segundo a revista, pediu audiência a um diretor da Petrobras para um empresário apresentar projetos para a subsidiária da estatal.
Para o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), as declarações de Vavá caracterizam a ocorrência de tráfico de influência. “Isso é tráfico de influência. Não se trata de financiamento ilegal de campanha. É crime para enriquecimento próprio”, afirmou Agripino.
Vice-líder do PSDB na Câmara e um dos representantes do partido na CPI dos Correios, o deputado Eduardo Paes (RJ) classificou a denúncia como uma das mais graves desde o início da atual crise e defendeu a investigação do caso pela comissão. “A CPI precisa convocar o irmão de Lula e também os empresários com quem negociou para saber se as intermediações resultaram em benefício”, disse o tucano.
De acordo com a reportagem, assinada pelos jornalistas Camila Pereira e Marcelo Carneiro, anotações feitas por uma das assessoras de Vavá mostram que o irmão de Lula recebeu pedido de um advogado para apresentar ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um projeto de repatriação de dinheiro desviado pelo esquema montado pelo tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias. O empresário negou ter encaminhado o pedido.
A assessoria de imprensa do Planalto informou que Lula "sempre orientou no sentido de que qualquer familiar do Presidente da República fosse tratado como qualquer cidadão brasileiro". De acordo com a nota divulgada pelo Palácio, "nenhuma das possíveis gestões feitas pelo irmão do Presidente da República junto ao governo federal teve qualquer aceitação por parte dos funcionários procurados".
Deixe um comentário