Claudia Spessatto* |
Pelo jeito, quase tudo pode ser comprado no Brasil por trinta mil reais. De vagas para uma vida estável e votos no Congresso, ao caráter partidário, o preço é sempre o mesmo. Triste fim para o malfadado número três que, segundo a numerologia, representa honestidade, lealdade e, talvez cabalisticamente, a luta ambiciosa para conquistar altas posições e, para explicar o nepotismo generalizado, propicia um grande zelo pela família. As recentes notícias de corrupção explícita, estampadas em todos os meios de comunicação, dão o valor exato da deficiência moral que assola o Brasil. O preço do voto parlamentar no Congresso Nacional (trinta mil reais) tornou-se banal, se comparado aos cinqüenta mil exigidos na Assembléia de Rondônia. O que sai caro mesmo, em todos estes casos de corrupção, é o irreparável assombro da população frente a governantes que deveriam, para todos os efeitos, trabalhar em prol da melhoria do país. Nas próximas eleições, haveremos de constatar o preço exato de cada um dos atos corruptos praticados. Para votar, pelo menos, ninguém há de desembolsar tostão algum. Publicidade
Trinta mil também é o valor de uma vaga nos melhores concursos públicos realizados pelo Cespe, segundo apuração e investigação em curso da Polícia Federal. O relevante valor garante ao cliente uma vida segura, um trabalho tranqüilo em um ambiente calmo, um gordo salário, com direito a uma considerável aposentadoria. Pobre de quem não tem trinta mil reais disponíveis para garantir sua serenidade vitalícia. O brasileiro comum terá que lutar por uma vida honesta sem tréguas, já que poucas vagas restam para serem divididas entre os verdadeiros merecedores. O custo das recentes denúncias de corrupção, que atingem inúmeros e diferenciados setores públicos brasileiros, haverá de acarretar graves conseqüências no processo democrático nacional. Pode gerar uma quebra na soberania nacional, pode causar o impeachment de um presidente, que deveria ter sido o real representante do trabalhador brasileiro, pode dar início a uma crise social e democrática sem precedentes. Publicidade
Será justo que tão poucos interesses pessoais e escusos abalem de tal forma a ordem estabelecida de uma nação inteira? Ou o Congresso, o governo, a Justiça e a polícia terão a coragem de tomar as rédeas da moralidade? O país precisa fazer uma imediata devassa nos meios políticos e nos recônditos da corrupção, para que poucos sejam punidos em prol da continuidade do sonho do “país do futuro”. * Claudia Spessatto, natural de Uruguaiana (RS), é jornalista e artista plástica. Atua profissionalmente em Brasília, no Congresso Nacional, desde 1982.
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