Não é difícil entender por que a presidenta Dilma obtém índices de popularidade até mais altos que os do ex-presidente Lula. Mesmo não sendo um fenômeno em termos de carisma como Lula, Dilma tem ganho popularidade porque, aos olhos da população, ela tem comprado as brigas que essa população acha necessárias. Até que ponto ela de fato compra essas brigas, é discussão mais complicada. Mas, aos olhos da sociedade, é essa a imagem que ela está passando.
A sensação que Dilma parece passar demonstrou menos tolerância com a corrupção em seu governo – os “malfeitos”, como ela gosta de dizer. Passou o primeiro ano de mandato faxinando a Esplanada dos Ministérios. Ponto para ela. Na hora de escolher substitutos, barrou algumas escolhas políticas, peneirou os currículos, tirou apadrinhados e colocou técnicos em alguns postos – como Graça Foster, na Petrobras. Enfim, passa a ideia de que resiste à manutenção do toma-lá-dá-cá, pelo menos com a intensidade com que sempre foi praticado.
Dilma enfrenta a pressão política dos sindicatos ligados aos servidores públicos, que sempre tiveram força junto ao PT. Estabelece como princípio que essas categorias tiveram ganhos no passado recente que os trabalhadores da iniciativa privada não tiveram. Segura aí os gastos que considera necessários para evitar a crise econômica. Ao mesmo tempo, garante transparência ao divulgar os salários do funcionalismo na esteira da Lei de Acesso. E explicita ali a existência de distorções e exageros – se há categorias mal remuneradas, e isso hoje se concentra no Poder Executivo, há servidores ganhando R$ 40 mil por mês, ou até mais. A divulgação dos salários explicita a necessidade de uma ampla rediscussão e reformulação das carreiras de Estado. Mas essa não parece ser a discussão que as representações dos servidores desejam. Ao contrário do que parece pensar o restante da sociedade.
Se tais posicionamentos tornam Dilma popular, por outro lado fazem com que ela acumule adversários e deixe um rastro de insatisfação pelo caminho. Na prática, o que se viu nas últimas semanas em Brasília não foi apenas o recrudescimento de uma greve – a dos servidores públicos. Também houve uma “greve” de políticos. Eles pararam o Congresso, atrasaram a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), ameaçaram o recesso. E a eles, Dilma cedeu. Cada um saiu com R$ 3 milhões para botar em emendas orçamentárias.
Dilma reclamou. “Essa base está me saindo muito cara”, comentou no Palácio do Planalto. Mas cedeu.
Com os servidores, ela joga mais duro. Eles saíram ontem (17) em passeata na Esplanada dos Ministérios. Várias categorias pararam. Outras ameaças parar. Entram na Justiça, fazem petições, contra a divulgação dos salários. Se as reivindicações não foram atendidas, não dá para dizer também que o governo não esteja preocupado com a situação.
Nas manifestações que vêm fazendo, os servidores têm dito que Dilma estaria querendo “jogar a opinião pública” contra eles. É algo que políticos também reclamam nos corredores do Congresso. Ainda que não seja algo deliberado, as pesquisas mostram que a presidenta ganha pontos com suas brigas. Mas quem compra brigas, faz adversários. E terá que enfrentá-los.
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