A crise econômica internacional traz um novo fantasma sobre o terceiro maior polo industrial do Brasil, o da Zona Franca de Manaus, com ameaça a 20 mil empregos diretos e indiretos. Trata-se do encalhe, nos armazéns, portos e entrepostos chineses, de 25 milhões de aparelhos de ar-condicionado. Esse produto, por conta de certa lentidão da burocracia nacional, pode acabar nas prateleiras locais, inviabilizando investimentos e desestruturando um dos clusters cuja construção foi das mais difíceis.
O problema é tão grave que o Polo Industrial de Manaus (PIM) está, outra vez, precisando de socorro. Desta vez não se trata da doméstica guerra fiscal ou de quaisquer medidas econômicas federais que nos afetem. Trata-se da transferência de postos de trabalho para o exterior.
O Brasil já tem consciência da importância estratégica das indústrias de Manaus na defesa da Floresta Amazônica. Nenhum país do mundo deixaria de desenvolver uma região como essa e o Brasil foi sábio ao estabelecer ali o modelo vitorioso sob a responsabilidade da Suframa.
Na Floresta das Ardennes, na Bélgica, florescem lojas concessionárias de carros de luxo, como Ferrari, BMW, Audi e Mercedes. O que resta da Floresta Negra, na Alemanha, é também área turística e desenvolvida. O Brasil tem a maior área verde, mais exótica, pujante, densa e com diversidade biológica inescrutável, a Floresta Amazônica, e precisa preservar a chama de desenvolvimento local, que se chama Zona Franca de Manaus.
O PIM oferece hoje cerca de 110 mil empregos diretos. Conseguiu, com muito esforço e enfrentando todo tipo de incompreensão, criar o maior conglomerado (cluster) de duas rodas da América Latina, com fábricas como Moto Honda, só menor que a sede, no Japão, e Yamaha, igualmente arrojada, proporcionando a criação de um mini-polo fornecedor de praticamente todas as partes e peças necessárias à produção das motos.
No caso dos aparelhos de ar-condicionado, os fornecedores de componentes começaram a se estabelecer em Manaus e fortalecem o setor de olho no mercado brasileiro, que este ano deve consumir 6 milhões de aparelhos e tem apenas duas famílias, a cada 10, com esses equipamentos em casa.
O industrial estabelecido em Manaus enfrenta, de um lado, a alta carga de impostos, a necessidade de treinar 30% a 40% da mão de obra dentro da fábrica – errando e quebrando – e a dificuldade logística. A cidade não tem estrada ou ferrovia, a hidrovia do rio Amazonas (Belém-Manaus) é longa e a do rio Madeira (Porto Velho-Manaus) tem péssima conservação. Um conteiner de 40 pés sai mais caro de Manaus para São Paulo que da China para São Paulo. Agora, com o estoque provocado pela crise internacional, o governo chinês vai jogar os preços ainda mais para baixo, tirando toda possibilidade de concorrência nacional.
Irei aos técnicos dos Ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, da Fazenda e do Desenvolvimento Regional, em busca da aceleração das medidas de proteção da indústria nacional e em defesa da Amazônia, diante da ameaça que sofre a Zona Franca de Manaus, neste momento de crise.
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