Às portas de participar do I Seminário de Participação Social, reproduzo aqui uma provocação com a qual tive o orgulho de colaborar e que foi escrita por Rodrigo Bandeira, idealizador do Cidade Democrática. Ela me parece moldada para o evento que será realizado pela Secretaria Geral da Presidência e que reunirá 400 agentes de transformação na semana que vem. É também a ideia-força que me moverá ao seminário e uma das principais crenças que me guiam todos os dias.
“”
Como ser coadjuvante na política
Alguns de nós, interessados em mudar o fato de que (est)a democracia representativa tirou dos cidadãos o papel de protagonistas na construção de suas sociedades, nos unimos em torno da #webcidadania.
Este grupo, hoje composto por projetos como o Cidade Democrática, Transparência HackDay, Movimento Voto Consciente, SAC-SP, Vote na Web, Adote um Vereador e outros, está interessado em descobrir formas de propiciar a todos os cidadãos brasileiros uma experiência completa de cidadania por meio da web. Já mapeamos ações estratégicas no campo da mobilização, comunicação, participação, trabalho voluntário, formulação, implementação/mão-na-massa e conscientização e estamos conversando com estudantes, jovens, agentes críticos de mudança, líderes comunitários e outros grupos com viés de transformação.
Nossa grande vantagem é que trabalhamos de forma colaborativa para fazer o que as pessoas querem que seja feito. Usamos a web 2.0 para “ler” a sociedade, construir relevância e incidir nos pontos específicos em que a vontade das pessoas se alinha em uma mesma direção. Não temos controle sobre este processo, mas seguimos o seu fluxo porque acreditamos que a inteligência coletiva é mais capaz de construir soluções sustentáveis do que os modelos centralizados que dominaram a política até hoje.
Fico pensando em como aproveitar a grande quantidade de conhecimento acumulado por quem faz política há tempos e envolver os que hoje ainda trabalham em modelos centralizados, estruturas piramidais e hierarquizadas e baseados em preceitos de dominação pelo poder de qualquer forma.
Quando o computador surgiu e começou a ser aplicado na diagramação de jornais, os antigos linotipistas, mestres na arte de diagramar páginas com tipos móveis, moldados em chumbo, tornaram-se, de uma hora para outra, obsoletos. Essa classe contava com uma grande simpatia por parte da sociedade. Eram artistas, artesãos, trabalhadores da comunicação e da informação que possibilitavam que todos pudéssemos ter acesso às notícias mais quentes e fresquinhas na hora do café da manhã. O computador mudou tudo isso e a decisão do jornal The New York Times foi aposentar seus linotipistas e continuar pagando seus salários até o fim de suas vidas. Até hoje alguns deles devem viver no meio oeste americano, cortando a grama dos seus jardins e comendo pizza entregue em casa.
A pergunta é: se um dia a web 2.0 tornasse nossos políticos e gestores públicos obsoletos, como o computador fez com os linotipistas, de que forma nossa sociedade estaria disposta a lidar com o legado deixado por quem hoje decide como o nosso dinheiro será investido?
Para evitar o pior, um julgamento dos políticos obsoletos (salvos os bons, claro, que os há, sem dúvida) por uma sociedade forte, consciente e furiosa, sugerimos a reflexão do título: como os nossos políticos podem ir se preparando para desempenhar, com brilho e qualidade, o papel de coadjuvantes na construção de políticas públicas?
Afinal, o que mais restaria a eles além de serem ótimos responsáveis por conduzirem nossa sociedade no sentido que nós queremos?
Se estes artigos parecem irônicos foi mesmo a nossa intenção. Mas, no fundo mesmo, nosso sonho é participar deste processo essencialmente colaborativo, aproveitando o melhor do que cada um tem a oferecer. Bom trabalho a todos e boa colaboração!
Deixe um comentário