Época
Romário :“O povo tem o direito de saber o voto dos parlamentares”
O deputado federal e ex-jogador Romário defende o fim do voto secreto na Câmara. Romário é um estreante na política. mas a pouca experiência não o faz deixar de lado as declarações polêmicas que marcaram sua carreira no futebol – além dos gols (mais de 1.000, segundo seus cálculos). Mesmo na posição de deputado federal, diz que não leva desaforo para casa. “Se me desrespeitarem e me esculacharem, vão ter o troco”, afirma em resposta a perguntas de leitores de ÉPOCA sobre o episódio em que xingou pelo Twitter quem o criticou por não se submeter ao bafômetro em blitz da Lei Seca. No Congresso, Romário (PSB) tem dedicado maior tempo à defesa dos direitos das pessoas com deficiência e à fiscalização das obras da Copa do Mundo. Não deixa de opinar, porém, sobre outros assuntos, como o voto secreto na Câmara.
Botou a mãe no meio
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, elege Ana Arraes para o TCU e dá uma cartada importante para se projetar nacionalmentePor praxe, as eleições para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) despertam interesse apenas no Congresso e no Palácio do Planalto. As disputas em geral movimentam deputados, senadores e representantes do governo federal interessados em recomendar um nome de confiança na instituição responsável pela fiscalização das contas federais. Na semana passada, foi diferente. Os deputados se reuniram na quarta-feira para escolher o substituto do ministro Ubiratan Aguiar, que se aposentou. O grande protagonista da eleição foi o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. Estrela ascendente na política brasileira, Campos usou a eleição na Câmara para se projetar no cenário nacional. Com um empenho desproporcional à relevância do cargo vago, ele se envolveu pessoalmente na disputa e conseguiu eleger a mãe, a deputada Ana Arraes (PSB-PE), para o TCU.Ana Arraes venceu a disputa com 222 votos, contra 149 do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e 47 de Átila Lins (PMDB-AM).
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Para entender sua intromissão nos assuntos do Legislativo, é necessário avaliar as pretensões de Eduardo Campos. Herdeiro político de Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três vezes, Campos sonha com a possibilidade de ocupar um lugar de destaque na eleição presidencial de 2014. Ele trabalha para ganhar o posto de vice numa chapa presidencial ou mesmo, a depender das circunstâncias, lançar-se candidato ao Palácio do Planalto. Nas movimentações para eleger a mãe, Campos amarrou acordos com partidos e caciques políticos tanto da base parlamentar da presidente Dilma Rousseff, como o PT e o PMDB, quanto da oposição, como o PSDB. Entre os que ajudaram Campos, estavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador tucano Aécio Neves (MG). Campos também jogou em dobradinha com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, fundador do PSD, o partido ainda em formação que “não é de direita, nem de esquerda nem de centro”. Outra prova da abrangência da vitória de Campos foi a presença na Câmara, na hora da votação, do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Até o ano passado, Cid e o irmão Ciro disputavam o controle interno do PSB com Campos. Ao apoiar Ana Arraes, Cid demonstra que aceita a supremacia do pernambucano no comando da legenda.
PublicidadeO “V” dos protestos
Inspirados no inglês que em 1605 tentou explodir o Parlamento britânico, jovens do Brasil – e do mundo inteiro – adotam a máscara do filme “V de vingança”. De forma discreta, os mascarados chegaram. Apareceram para protestar contra a corrupção, num ato que reuniu cerca de 2.500 pessoas na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, na terça-feira. O disfarce era o mesmo de V, o protagonista da história em quadrinhos V de vingança, de Alan Moore, adaptada em 2006 para o cinema. A máscara tem aparecido em protestos no mundo inteiro, principalmente em países europeus, como Grécia e Espanha, abalados pela crise financeira internacional. Já foi vista também nos Estados Unidos, no Chile e em várias outras cidades brasileiras, como Brasília, Curitiba e São Paulo. É um novo símbolo da indignação de jovens engajados contra governos autoritários, ineficientes ou corruptos, seitas ou empresas que, na avaliação dos manifestantes, prejudicam as populações.A fantasia de V começou a ser usada em protestos por pessoas que dizem fazer parte dos Anonymous, um movimento internacional de ativismo na internet. O grupo ficou conhecido depois dos ataques aos servidores de empresas como Visa e MasterCard. A ação, perpetrada por hackers do mundo inteiro, foi realizada em apoio a Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, atacado por vazar informações sigilosas de governos e empresas.
Istoé
Gilmar contra a PF
Ministro do STF fica irritado com manobras que policiais estariam fazendo para beneficiar o senador Gim Argello. O político é suspeito de desviar recursos públicos, e o tribunal exige mais empenho na investigação.O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, está enfurecido com a Polícia Federal. No início do ano, chegou a suas mãos uma denúncia do Ministério Público Federal segundo a qual manobras estariam sendo feitas por agentes da PF para adiar o desfecho de uma investigação contra o senador Gim Argello (PTB-DF). O parlamentar é investigado por ter supostamente desviado recursos públicos, por meio de licitações, quando era vice-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, entre 2003 e 2004. Ao ler o processo, do qual se tornou relator no STF, Mendes não só endossou os argumentos do MP, como ficou abismado ao tomar conhecimento de que procedimentos básicos e preliminares demoravam demais a serem realizados pela PF porque testemunhas não eram localizadas e autoridades indiciadas recebiam tratamento privilegiado, além do previsto em lei.
O inquérito contra o senador está na Corregedoria da Polícia Federal, em Brasília. Além de Argello, o processo lista como indiciado o deputado distrital Benicio Tavares (PMDB), que presidia a Câmara Legislativa à época. Em ofício encaminhado ao corregedor Valdinho Caetano, ao qual ISTOÉ teve acesso, Mendes deixa clara toda a sua irritação. Pede “mais empenho” à Polícia Federal “na realização de diligências” determinadas pelo STF e diz que “nada justifica o equívoco” da PF ao oficiar Gim solicitando-lhe “marcação de data e hora para inquirições”. Ou seja, para os policiais o próprio senador poderia escolher onde e quando gostaria de ser ouvido. Segundo o ministro, a possibilidade de o senador definir a melhor oportunidade para seu depoimento não se justifica, pois Argello já constava como indiciado e caberia a um delegado definir os critérios para ouvi-lo. Para Mendes, o privilégio de escolher as datas das oitivas limita-se a processos em que a autoridade é testemunha.
Nos bastidores, as falhas nos procedimentos e a morosidade na condução das primeiras etapas das investigações são apontadas como certeza de que o processo, aberto em 2005, não vai dar em nada. E culpados pelo suposto desvio de R$ 2 milhões dos cofres públicos serão beneficiados com a prescrição do crime em 2013. Até hoje, nem sequer a fase de depoimentos de testemunhas e acusados foi concluída. Essa seria, segundo o MP e Mendes, uma das demonstrações de favorecimento aos indiciados. O senador Gim Argello, por exemplo, só foi ouvido em maio: três meses depois da chegada do processo na corregedoria da PF. Procurado, Argello disse que somente no dia 1º de março recebeu um ofício assinado pelo delegado Marcos Paulo Pimentel pedindo que ele comparecesse para depor. “A mim não interessa a prescrição. Sou inocente e quero a sentença do Tribunal atestando isso”, diz o senador.
Lula ouve “não” para a reforma política
O ex-presidente toma a frente das articulações, mas constata que só o financiamento público de campanhas comove os políticos.
A ampla varanda do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Michel Temer, parecia ser o cenário perfeito para a reunião convocada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira 21, destinada a debater a tão almejada reforma política. Ao desembarcar em Brasília, Lula, do alto de sua liderança política incontestável, estava convencido de que, enfim, o tema sairia do papel. Mas, após duas horas e meia de conversa com os líderes partidários, houve consenso apenas em torno de uma única questão: o financiamento público de campanha. As discussões sobre voto em lista e o fim das coligações proporcionais pouco avançaram. Dessa maneira, qualquer mudança no sistema político dificilmente acontecerá antes de 2014. Lula tinha pressa. Agora, depois de receber um retumbante “não” dos partidos aliados, numa última tentativa de aprovar a reforma no início do próximo ano, o ex-presidente defende a simplificação das propostas que tramitam no Congresso. “Do jeito que está não dá”, lamentou Lula.
A crítica do ex-presidente recai sobre o complexo projeto que tramita na Comissão Especial da Câmara, cujo relator é o deputado Henrique Fontana (PT-RS). “O melhor caminho é escolher um ou dois, no máximo três pontos principais”, disse o ex-presidente a Temer. Para fontes do Palácio do Planalto, a atuação de Lula como facilitador do diálogo tem a vantagem de poupar a presidente Dilma Rousseff do desgaste natural desse tipo de negociação que, a julgar pelo seu desfecho, ao menos desse primeiro momento, tem sido muito complicada. O nó não é fácil de desatar. O PT, com respaldo de Lula, defende o voto proporcional em lista ordenada previamente. Os partidos de forma geral concordam com o sistema proporcional, mas não há consenso sobre o voto em lista. “Não aceitamos essa lista”, resumiu o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). O PMDB admite apenas um sistema distrital misto, pelo qual metade das vagas seria preenchida por votação majoritária e a outra por voto proporcional em lista fechada. No Senado, on¬de a reforma po¬lítica foi fatiada, a Comissão de Cons¬tituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou no mesmo dia do encontro a proposta de financiamento público. O que, na análise do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), é um avanço enorme. “Tornar as campanhas mais transparentes será um passo largo no aprofundamento da democracia.
Qual deles vai dominar o PT de Alagoas?
Adversários históricos dos petistas no Estado, Renan e Collor disputam controle do partido de olho nas eleições municipais.Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL) sempre tiveram o PT como inimigo político em Alagoas. Do lado oposto da trincheira, os petistas jamais tinham deixado de condenar as forças políticas representadas por Collor e Renan. Mas o partido chegou à tamanha inanição no Estado que, hoje, amarga o desgaste de ver sua única prefeita, Sânia Tereza, da cidade de Anadia, presa por assassinato. Sobra, agora, ao PT local um dilema que contraria todo seu passado de confronto político-ideológico. A dúvida hoje é saber a qual dos dois caciques alagoanos os dirigentes do partido vão se aliar.
Desde a última semana, Renan e Fernando Collor travam uma briga de bastidores em torno do comando da legenda. No centro da disputa entre os dois senadores está a filiação do vereador Galba Novaes (PRB) ao PT. Candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Fernando Collor em 2010, Galbinha – como é conhecido – é o nome defendido por ele para a disputa à Prefeitura de Maceió no próximo ano. Collor já ofereceu a adesão de Galba ao presidente do diretório estadual do PT, Joaquim Brito. Diante da oferta, o petista se entusiasmou com a possível candidatura com amplas chances de vitória, já que Galba foi o segundo mais votado na eleição à Câmara Municipal, em 2008. O problema é que Brito não apita o jogo sozinho. Ele depende politicamente de Renan, cujo apoio abriu portas para o petista e lhe garantiu a ascensão política.
Líder emergente
Dilma Rousseff fez seu batismo de estadista na abertura da Assembleia da ONU. Ela se diferenciou de Lula, falou em nome dos emergentes, criticou a atuação das nações ricas e deixou o Brasil mais perto de uma vaga no Conselho de Segurança.
Bastou uma única frase. “Pela primeira vez na história das Nações Unidas uma voz feminina inaugura o debate geral.” A mais qualificada audiência do mundo, com mais de uma centena de chefes de Estado e representantes oficiais de 191 países, irrompeu em aplausos. Dilma Rousseff calou-se por alguns segundos antes de prosseguir. E saboreou um momento histórico. Do púlpito da Assembleia da Organização das Nações Unidas sentiu-se no topo do mundo, ovacionada pelos líderes das superpotências, dos países em conflito, daqueles que buscam reconhecimento ou simplesmente a sobrevivência de populações famélicas. “É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna que tem o compromisso de ser a mais representativa do mundo”, continuou. A presidente brasileira seguia, na manhã da quarta-feira 21, em Nova York, uma tradição: primeiro país a assinar a carta de fundação da ONU, cabe ao Brasil o papel de fazer o discurso de abertura dos trabalhos da entidade. Nunca antes, em 66 anos, porém, uma mulher havia vivido esse papel. Dilma, portanto, fez história. E pontuou esse fato em cada linha de seu pronunciamento.
Uma Dilma tensa, com um assumido “frio na barriga”, entrou no plenário da ONU. Uma Dilma realizada, confirmada como estadista em seu batismo de guerra, saiu de lá menos de meia hora depois. “Estou realizada por ter representado bem todas as mulheres do mundo”, disse à ISTOÉ no começo da tarde daquela quarta-feira ao cruzar o saguão do hotel Waldorf Astoria, palco dos encontros bilaterais com outros chefes de Estado. A presidente trabalhou duro até o último minuto para que cada vírgula estivesse em seu lugar, deixando bem claras as posições do Brasil sobre temas cruciais nos debates globais. Nos últimos dias antes de sua estréia nos salões globais, ela fez uma série de revisões no texto do discurso, que começou a ser preparado semanas antes pelo Itamaraty e pelo assessor para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia. Na segunda-feira 19, Dilma e o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, avançaram noite adentro fazendo ajustes. Na manhã da terça-feira, ela mais uma vez debruçou-se sobre a peça. Uma de suas preocupações foi mostrar personalidade própria e não uma mera continuidade da gestão Lula. Outra, mais prosaica, foi com o tempo. Fez vários cortes, cirúrgicos, no discurso para que sua permanência na tribuna não excedesse 25 minutos. Só no final da tarde da terça entregou a redação final ao Itamaraty, que já demonstrava preocupação com o prazo para providenciar as traduções para os vários idiomas representados na ONU.
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