Samanta Sallum já tinha feito boa parte do curso de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) quando concluiu que não tinha nascido praquilo. Largou o Direito, formou-se em Jornalismo pela PUC do Rio e foi lá mesmo, na cidade onde nasceu, que deu os primeiros passos na profissão, no jornal O Dia. Também estagiou no Serviço Brasileiro da BBC, em Londres.
Mas foi em Brasília que ela fez carreira, no Correio Braziliense. Lá trabalhou mais de dez anos, e foi repórter, colunista e editora. Deixou o jornal para fazer a campanha eleitoral do então candidato a governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT).
Agnelo se elegeu, e Samanta o acompanhou, como secretaria de Comunicação Social. A partir de hoje e até sábado ela joga o que talvez seja o seu lance mais ousado desde que assumiu o cargo, há quase 20 meses.
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Ela é a organizadora do 1o Seminário de Comunicação Pública, o Comunica-DF . A ousadia é convocar um debate público para tratar de alguns dos temais mais quentes da estação (leia mais).
Em rápida entrevista ao Congresso em Foco, Samanta explica o que espera do ComunicaDF e qual a cara que deve ter o Conselho de Comunicação do Distrito Federal.
Como surgiu a ideia de fazer o evento?
Samanta Sallum – Nos primeiros meses de governo, a gente começou a fazer uma interlocução com setores da sociedade civil e organizações sociais ligadas à comunicação. Sindicatos, associações, entidades… enfim, todo um setor que se sentia muito carente e pleiteava, há anos, uma relação mais estreita, mais transparente, com a Secom, com o GDF. Porque, durante muitos anos, esse diálogo não existiu. Um exemplo concreto: o Sindicato dos Jornalistas, hoje, entra e sai, vem aqui conversar com o pessoal da Agência Brasília, como ele faz nas outras redações. Isso não existia nos outros governos. O sindicato não tinha uma porta aberta aqui no Palácio do Buriti, onde fica a redação da agência oficial de noticias. É claro que aqui não existe uma pauta de salários, ajuste salarial. A pauta aqui, qual é? As condições de trabalho, a bandeira do concurso público, porque mais de 80% das pessoas da atual estrutura da Secom do GDF têm cargos comissionados. Então, essa é uma pauta do sindicato, que hoje a gente conversa abertamente. E o seminário vem potencializar, institucionalizar o novo conceito de politica de comunicação pública que estamos procurando adotar nesta gestão, que é de abrir para o diálogo. Vamos construir juntos com a sociedade as diretrizes para a politica de comunicação pública do Distrito Federal. Onde a gente está errando? Onde a gente está acertando?
A expectativa então é que saia do seminário um conjunto de diretrizes alinhavadas com a sociedade, as organizações sociais?
A gente vai pegar essas propostas, essas contribuições, que vão constar de um documento, e se comprometer a avaliar, a ver o que for possível ser feito. Naquilo que a gente puder avançar, a gente vai avançar. Aquilo que num primeiro momento a gente não conseguir fazer, vai prestar contas e explicar o porquê de não fazer agora. A ideia é estabelecer um compromisso conjunto. Acho que isso nunca tinha acontecido.
Há um grande debate hoje em relação aos conselhos de comunicação. Existe, da sua parte ou do governo do Distrito Federal, simpatia pela ideia?
Esse debate é um dos motivos pra gente realizar o ComunicaDF. Vai ser uma das pautas importantes desse seminário. A gente, sim, tem uma disposição de levar adiante a regulamentação do conselho. Um conselho com um perfil consultivo, um perfil que seja bem representativo, plural, para agregar. A gente sabe, pela experiência dos conselhos, que os conselhos que se colocam apenas como conselhos de confronto produzem poucos resultados. Mas, sim, a gente tem a disposição de levar adiante isso e amadurecer esse processo. Não dá pra dizer que vai acontecer amanhã ou no final do ano. Mas o governo não rejeita…
Grandes empresas de comunicação têm adotado posição contrária aos conselhos por verem neles uma possível ameaça à liberdade de informação. As grandes empresas da área vão participar do ComunicaDF?
Estão sendo chamadas, mas existe aí um equivoco. A gente está falando de um outro tipo de conselho. A gente não está ressuscitando aquele conselho de comunicação do qual se falou, até em nível federal, alguns anos atrás. Eu não vou discutir linha editorial de veículo de grande imprensa. Não é isso. Estou falando de um conselho que seja um fórum para debater como estabelecer uma boa política pública de comunicação. A gente vai estar discutindo ações exclusivamente no campo da comunicação publica. Claro que eu, como secretária de Comunicação, posso ter a minha opinião, cada integrante do governo pode ter sua crítica em relação ao que veículos privados fazem ou deixam de fazer. Mas está fora de questão até mesmo cogitar de fazer qualquer tipo de controle da produção do conteúdo dos veículos que estão no campo privado. A discussão é sobre como a comunicação publica pode ser mais eficiente e interagir melhor com os veículos privados e com a sociedade. Minha opinião é que a gente não tem que tirar de ninguém. Eu não tenho que deixar de fazer minha comunicação nos grandes veículos, deixar de investir, deixar de estar presente com publicidade. A gente pode, sim, estar mais presente e potencializar a comunicação em outros veículos de informação, em favor da pluralidade e da potencialização das ações. Hoje em dia existem vários veículos e canais de comunicação que podem também ter grande eficiência na hora de prestarmos contas à sociedade. Porque a comunicação publica é isto: prestar contas.
A gente vive um momento no país em que se questiona cada vez mais o comportamento da imprensa e dos jornalistas. Como jornalista que viveu os dois lados, antes em redação e agora no governo, pergunto quem, na sua opinião, está mais distante de atender as necessidades de informação da população: os veículos ou os governos, incluindo o GDF?
Se a gente tirar uma média, eu não considero o saldo negativo para nenhum dos dois lados. Mas há momentos em que os dois lados erram. O governo erra – não estou falando deste governo, estou falando de maneira genérica – quando se vê diante de um problema de comunicação, de uma pauta negativa e aposta, como estratégia de comunicação, no silêncio, na desqualificação da pauta ou na tentativa de tirar a credibilidade do veículo. Mas também há erros do outro lado. O jornalismo online tem mostrado casos de veiculação de notícias inverídicas, mal apuradas, que são às vezes colocadas no ar em sites importantes, em blogs de pessoas conceituadas. E elas ficam ali meia hora, e depois de muito esforço, quando se mostra que elas não estão corretas, aquilo é simplesmente tirado do ar e fica o dito pelo não dito, e para muitas pessoas que leram aquilo ficou como verdade.
Você acha que os jornalistas admitem mais seus erros do que os governantes?
Acho que é uma situação que tem que ser superada. Eu, como profissional do setor privado, tento trazer para o setor público essa vivência. Para mim, se existe um problema, se existe uma falha de gestão, o governo tem que admitir essa falha e apresentar a solução. A partir do momento que se apresentou a solução, você deu uma resposta. O problema é quando você não admite sequer a existência do problema. Infelizmente, por um intenso processo de desgaste, de perda de credibilidade das instituições públicas, a informação oficial perdeu credibilidade.
Nesse caso, por erro das autoridades?
Por causa da série de escândalos que o Brasil viveu. Toda informação oficial é vista com desconfiança. Então o grande desafio da comunicação pública é este: resgatar a credibilidade da informação oficial.
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