No quinto dia de horário político em cadeia de rádio e TV, os candidatos à Presidência da República deixaram de lado os ataques mútuos veementes e, de parte a parte, fizeram críticas mais sutis à atuação política de seus adversários – obviamente, com a presidenta Dilma Rousseff como alvo preferencial. O tom geral do programa dos principais concorrentes – além de Dilma, Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (PSB-Rede) e Pastor Everaldo (PSC) – foi propositivo, com aposta em linguagem leve e otimista, além do reforço da identidade com as virtudes que os respectivos eleitorados veem em cada um deles.
As homenagens ao ex-presidenciável do PSB, Eduardo Campos, morto no último dia 13 em acidente de avião, continuam após dez dias desde a tragédia, embora com menos exploração de sua imagem. Com a formalização de Marina Silva como sua substituta, naturalmente a criadora da Rede Sustentabilidade ganha o protagonismo do programa da coligação Unidos pelo Brasil (PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL, além da Rede, partido ainda não registrado na Justiça eleitoral).
Leia também
Guerra à “velha política”
Entre os quatro candidatos mais lembrados nas pesquisas de intenção de voto, Marina Silva (PSB) foi a primeira a aparecer neste sábado. Já sem a expressão carregada dos programas anteriores, reflexo do luto pela morte do colega de chapa, a ex-ministra do Meio Ambiente iniciou seu programa dizendo que “o Brasil quer ter um novo rumo, e isso todo mundo sabe”. Foi de Marina que partiram as críticas mais claras, embora sem a intensidade vista em outros programas.
“Nós não temos de dar ministério em troca de tempo de TV”, fustigou Marina, em referência à troca de favores implícita no apoio de partidos da base governista, cuja soma ampliou o espaço de Dilma no horário eleitoral. Ao final do filmete de Marina (dois minutos e três segundos), uma fotografia a coloca ao lado do recém-indicado candidato a vice-presidente, o deputado Beto Albuquerque (PSB), escolhido em meio a uma crise interna com direito a debandada de coordenadores de campanha.
Mais uma vez recorrendo ao discurso de que representa o fim da “velha política”, Marina disse também que sua coligação tem compromisso apenas com a sociedade brasileira, em contraposição “aos grupos que estão há 20 anos no poder e não conseguem mais dialogar”.
“Nós vamos promover o diálogo, tem gente boa em todos os partidos”, garantiu, deixando para a última frase mais uma homenagem a Eduardo Campos, lembrando o que ele disse algumas vezes durante a campanha presidencial e repetiu em entrevista concedida ao Jornal Nacional (TV Globo), na véspera de sua morte: “Não vamos desistir do Brasil.”
“Bem-vindo”
Pontificado pelas mensagens de boas-vindas dirigidas aos cidadãos brasileiros, o programa do tucano Aécio Neves mantém a estratégia de se apresentar como homem de passado político atrelado à luta pela democracia, por meio da associação com o avô, Tancredo Neves (1910-1985). Outro elemento constante é a gestão de Aécio como governador Minas Gerais, com menções constantes a valores como família, ética e combate à impunidade (“Deu um bom exemplo ao cortar o próprio salário”, destacou o programa).
“O resultado é que Minas tem hoje a melhor educação do Brasil. […] Aécio foi eleito várias vezes como melhor governador do Brasil”, enfatizou o vídeo eleitoral, lembrando que o senador conquistou “92% de aprovação” como governador.
Cabeça de chapa da coligação Muda Brasil (PSDB, DEM, PTB, PMN, SD, PEN, PTN, PTC e PTdoB, com direito a quatro minutos e 35 segundos), Aécio reforçou também seus feitos na passagem pela Câmara dos Deputados (2001-2002), ressaltando a importância que teve na aprovação da lei que eliminou a imunidade jurídica para parlamentar que cometer crime comum.
Vovó Dilma
Já na campanha à reeleição a palavra de ordem é “humanizar” a figura presidenta Dilma, recorrentemente tachada de chefa austera e excessivamente burocrática. Com mais tempo de propaganda gratuita em rádio e TV (11 minutos e 24 segundos), graças à numerosa coligação Com a Força do Povo (PT, PMDB, PR, PSD, PP, Pros, PDT, PCdoB e PRB), Dilma pôde explorar mais detalhadamente imagens caseiras, conciliando-as com as das mais avançadas e midiáticas obras do Programa de Aceleração do Crescimento.
Imagens de Dilma ora digitando um computador em casa – o Palácio da Alvorada –, ora mostrando onde brinca com o neto Gabriel, têm o claro propósito de suavizar a ideia da “gerente” rígida, tecnicista, que a petista cultivou junto à opinião pública em seu primeiro mandato. Mas, ao fim do programa, os marqueteiros da campanha presidencial mantiveram a alcunha de “coração valente” dada à presidenta, que sofreu tortura na época do regime ditatorial (1964-1985), em uma tentativa de harmonizar características de firmeza e ternura.
Com imagens alternadas, Dilma gerencia obras e aparece reclusa em casa, como em um terceiro turno de trabalho. “É bem comum eu trabalhar até mais tarde, levar documentos para analisar e ler até mais tarde no Alvorada”, diz a presidenta, que também aparece lendo nos deslocamentos de avião. E, chamando o eleitor à intimidade, admite: “Eu acho que tem um prazer imenso em conviver na rua. É muito difícil para um presidente fazer isso, né?”, indaga.
A imagem da “Dilma cozinheira” também é enfatizada, quando ela diz que gosta de cozinhar bacalhau. O lado familiar da chefe do Executivo ganha força quando Dilma neto “adora subir e descer a escadaria umas trezentas vezes”. “Isso detona qualquer vó”, comenta, dando gargalhadas ao explicar que o neto tem “receio” do povo brasileiro quando ela explica que o patrimônio do Brasil – simbolizado em um objeto de decoração com “bolinhas” que Gabriel tenta pegar – pertence ao povo.
Cabos eleitorais
Já o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), diz que nunca viu Dilma “fraquejar”, em mais um reforço à ideia de firmeza. “Nunca a vi trair seus compromissos profundos com o povo brasileiro”, diz Temer em trecho final do programa, que ressalta as realizações de Dilma e seus programas mais exitosos, como o Pronatec, o Ciências sem Fronteiras, o Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida, com menção rápida aos percentuais de recursos para a saúde que, garante, serão assegurados com a produção de petróleo pré-sal.
No encerramento, com tem sido recorrente, o ex-presidente Lula insiste em dizer que seu segundo mandato (2007-2010) foi melhor do que o anterior (2003-2006), defendendo que Dilma tenha a mesma oportunidade. “Eu lhe peço: vote sem nenhum receio. E fique certo de que você não vai se arrepender”, diz o cacique petista, emendado com a fala de Dilma segundo a qual um eventual segundo mandato vai servir para “melhorar e ampliar” o que já foi feito.
Menos Brasília
Já a campanha do Pastor Everaldo (PSC), que representa a “coligação” de partido único, com direito a um minuto e dez segundos de programa, reforça no eleitor a ideia de um político religioso moderno, adepto ao liberalismo econômico, com bandeiras como a redução dos poderes do Estado em favor do empreendedorismo. “Vou diminuir a burocracia no Brasil”, discursou o candidato, na abertura do programa, pregando “menos Brasília, e mais Brasil” – referência ao poder centralizador do Estado, simbolizado na capital federal.
Insistindo na pretensão de privatizar grandes empresas públicas – ele defendeu, inclusive, a privatização da Petrobras em sua entrevista ao Jornal Nacional, na última terça-feira (19) –, Pastor Everaldo disse que o Brasil possui mais de 100 empresas estatais, “muitas com corrução e dívidas impagáveis”.
Tentando diminuir os efeitos da reputação ultraconservadora de seu partido, que tem vasta base evangélica, o candidato do PSC defendeu a diminuição da interferência do Estado também na vida do próprio cidadão, prometendo medidas como a isenção de imposto de renda em remunerações de até R$ 5 mil.
Assine a Revista Congresso em Foco em versão digital ou impressa