Época
Por que ele não responde?
O empréstimo de aviões particulares para autoridades há tempos faz parte do amplo cardápio de relações promíscuas entre o poder público e o setor privado no país. Mas apenas recentemente esse tipo de conduta começou a ganhar ares de escândalo. Em junho, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, mergulhou em um inferno astral quando foi revelado, após uma tragédia aérea, que ele costumava viajar em aviões de empresários com grandes contratos com seu governo. Na semana passada, um dos motivos da demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, foi a divulgação de que ele viajou em um jatinho de uma empresa beneficiada por decisões do ministério.
ÉPOCA perguntou a 30 ministros da presidente Dilma se eles já viajaram em algum jato particular desde que assumiram seus cargos. Dos contactados, 28 responderam prontamente que não. O ministro dos Transportes, Paulo Passos, informou que já teve de usar aviões particulares para vistoriar obras de sua pasta localizadas em áreas remotas, aonde aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) não tinham como chegar. O ministro das Cidades, Mario Negromonte, deputado federal eleito pela Bahia, disse que freta, por sua conta, aviões particulares para chegar a determinadas cidades de sua base eleitoral.
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A presteza desses ministros contrasta com o comportamento do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Por quatro vezes nos últimos 40 dias, ÉPOCA perguntou a Paulo Bernardo sobre suas eventuais viagens em um avião particular quando exercia o cargo de ministro do Planejamento no governo Lula. Trata-se do King Air, matrícula PR-AJT, que pertence ao empresário Paulo Francisco Tripoloni, dono da construtora Sanches Tripoloni. Em nenhuma dessas ocasiões, Bernardo respondeu à pergunta.
A indagação tem duas razões. Um parlamentar que integra a base de apoio do governo Dilma no Congresso relatou a ÉPOCA que viu Paulo Bernardo embarcar no ano passado no avião da construtora Sanches Tripoloni em um terminal do Aeroporto de Brasília, usado por empresas que operam aviões particulares. Outro parlamentar, de oposição ao governo, também afirmou que a chefe da Casa Civil da Presidência da República, a ministra Gleisi Hoffmann, mulher de Paulo Bernardo, usou o avião em sua pré-campanha ao Senado Federal pelo Paraná. Na ocasião, Gleisi era presidente regional do PT e não ocupava cargo público. Bernardo era simplesmente o responsável pelo Orçamento da União e por definir as verbas para obras públicas.
PublicidadeComo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo mostrou um empenho especial na construção do Contorno Norte de Maringá, no Paraná – uma obra tocada pela empreiteira Sanches Tripoloni, que já custa o dobro de seu preço original. Inicialmente, Bernardo ajudou a liberar verbas para a obra, destinadas por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União. Depois, Bernardo conseguiu incluir a construção do contorno no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que livrava o empreendimento da dependência de emendas parlamentares, sempre sujeitas a contingenciamentos e cortes orçamentários. Em junho de 2010, Paulo Bernardo convenceu o então presidente Lula a assinar um decreto incluindo o anel rodoviário de Maringá num regime especial no PAC. No mundo das acirradas disputas por verbas em Brasília, o regime especial equivale a um passe de mágica: assegura transferências obrigatórias de dinheiro público para o empreendimento.
Dilma e o sistema
A presidente Dilma Rousseff vive uma situação conflitante em seu primeiro ano de mandato. As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias mostram que seu governo é bem avaliado. As recentes prisões e demissões de acusados de corrupção nos ministérios dos Transportes (28 demissões), do Turismo (36 presos) e da Agricultura deixaram Dilma com a popularidade alta – 52% dos brasileiros dizem aprovar as investigações de desvios de recursos públicos, segundo a pesquisa CNT/Sensus. Mas Dilma está mal no campo político. Além de perder quatro ministros em oito meses de mandato – um recorde para o período –, o jeito Dilma de governar desagrada a uma fatia relevante das lideranças políticas de sua base de apoio no Congresso – em tese, a maior de um presidente da República desde a redemocratização.
A falta de verbas para emendas parlamentares, a distribuição controlada de cargos e as demissões e prisões incomodam aqueles que frequentam o Congresso Nacional e a Esplanada dos Ministérios. O clima está ruim. Num momento em que o governo vai depender do Congresso para enfrentar a crise financeira internacional, Dilma precisa calibrar sua conduta. Ao mesmo tempo que não pode impor limites à limpeza no governo, tem de encontrar meios de apaziguar os ânimos.
O alarme de instabilidade política disparou na semana passada, quando Dilma perdeu seu quarto ministro. Wagner Rossi (PMDB) decidiu deixar o Ministério da Agricultura na noite da quarta-feira ao saber que a Polícia Federal (PF) abrira um inquérito para investigar as denúncias de corrupção em sua pasta e suas viagens em jatos particulares. Rossi foi substituído por Mendes Ribeiro (PMDB-RS), um velho conhecido de Dilma. Antes de Rossi, Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa) haviam ido embora.
Silas Malafaia: “Governante vai ter de dizer em que acredita”
No ano passado, quando a campanha política pela Presidência da República enveredou para uma discussão sobre fé e aborto, o pastor evangélico Silas Malafaia virou uma espécie de pivô da disputa eleitoral. Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio de Janeiro, Malafaia apoiou a candidatura da também evangélica Marina Silva até a véspera do primeiro turno. Quando Marina estava em seu melhor momento, Malafaia abandonou-a e passou a pedir votos para o tucano José Serra, segundo ele mais firme que Marina na oposição ao aborto. Serra perdeu a eleição, mas Malafaia não perdeu os holofotes. Poucos meses após a posse da presidente Dilma Rousseff, ele passou a liderar uma cruzada contra o projeto de lei que pretende criminalizar a homofobia. Loquaz e provocador, usa seus programas de rádio e TV para combater a proposta quase que diariamente. Nesta entrevista, ele critica a Igreja Universal, diz que os políticos não poderão mais esconder suas crenças e tenta explicar sua posição sobre a homossexualidade.
O fantoche do Turismo
Aos 81 anos e dono de um patrimônio declarado de R$ 6,3 milhões, o ministro do Turismo, Pedro Novais, poderia estar distante dos delitos da política nacional, usufruindo uma aposentadoria pacata, daquelas exibidas em comerciais de televisão. Apesar da situação confortável num momento da vida em que quase todo mundo quer descanso, ele assumiu o cargo no primeiro escalão da equipe empossada no início do ano pela presidente Dilma Rousseff. Ganhou o posto por indicação da cúpula do PMDB, partido pelo qual se elegeu no ano passado para o sétimo mandato de deputado federal. Do ponto de vista técnico, a nomeação para o Turismo nunca fez muito sentido. Sem experiência na área, Novais parecia ter pouco a contribuir num setor que exige dinamismo e sintonia com as crescentes demandas dos turistas nacionais e estrangeiros.
Antes mesmo de tomar posse descobriu-se que o octogenário deputado usara R$ 2 mil da verba indenizatória da Câmara para pagar o pernoite em um motel de São Luís. O caso ainda rende comentários jocosos sobre a vida sexual do ministro. Em oito meses de governo, Novais confirmou as previsões e nada apresentou de significativo para o desenvolvimento do turismo no Brasil. Os últimos acontecimentos, porém, demonstraram que o ministro cumpre na Esplanada o importante papel de fantoche de uma turma complicada que ocupa o Ministério do Turismo desde o governo passado e atua sob a proteção do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
Oito subordinados de Pedro Novais foram presos durante a Operação Voucher, executada há duas semanas pela Polícia Federal (PF) para desbaratar uma rede de 36 pessoas acusadas de desviar cerca de R$ 4 milhões de dinheiro do Turismo. Entre os presos estava Frederico Silva da Costa, secretário executivo do ministério. Em qualquer ministério, o secretário executivo é o segundo cargo mais importante. Os fatos revelados a partir da operação policial mostraram que, no Turismo, Frederico Costa atuava, porém, como o verdadeiro ministro. Pedro Novais funciona apenas como a fachada política do grupo acusado de irregularidades.
Camisinha na escola
Após quatro anos parado, um projeto do Ministério da Saúde com grande potencial de causar polêmica acaba de ser desengavetado. Até o fim do mês, o governo federal finalizará a cotação de preços para a compra de 33 máquinas de distribuição de preservativos para escolas públicas. A ideia é instalar esses equipamentos em colégios de ensino médio, que têm alunos a partir de 14 anos. Eles funcionarão como uma máquina de refrigerante, mas sem necessidade de colocar dinheiro. O aluno digitará uma senha, apertará um botão e receberá o preservativo.
O objetivo do projeto é facilitar a distribuição de camisinhas para adolescentes, eliminando o constrangimento que eles possam eventualmente ter em comprá-las ou pedi-las para alguém. As máquinas serão instaladas inicialmente em escolas de quatro capitais: Florianópolis, João Pessoa, Brasília e São Paulo. A experiência será acompanhada por pesquisadores de dois órgãos ligados às Nações Unidas, a Unesco e a Unfpa. Eles ouvirão alunos, pais e professores sobre a iniciativa. Concluída essa fase inicial, a ideia do governo é expandir a instalação das máquinas para 400 escolas públicas em todo o país.
No encalço de seus assassinos
A audácia dos assassinos da juíza Patrícia Lourival Acioli, de 47 anos, no último dia 11, foi algo inédito na violenta história do Rio de Janeiro. Ao longo de décadas de descalabro e atrocidades vivenciadas pela população fluminense, criminosos nunca haviam ousado matar um magistrado. Além de sem precedentes, o crime foi brutal: 21 tiros foram disparados por homens encapuzados postados diante de sua casa, no bairro de Piratininga, em Niterói, região metropolitana do Rio. Diante do crime, a primeira pergunta era: por quê? Uma análise do trabalho recente da magistrada lança luz sobre os possíveis interesses dos assassinos. Na semana passada, ÉPOCA obteve um conjunto de documentos, vídeos e escutas telefônicas que ajudam a entender por que a juíza, conhecida pela firmeza com que combatia grupos de extermínio, tornou-se um alvo tão visado pelos criminosos.
Em junho último, um rapaz de 18 anos foi morto por policiais militares em São Gonçalo, onde Patrícia comandava a 4ª Vara Criminal. A Promotoria de Justiça diz que os PMs desfizeram a cena do crime. Em seguida, entregaram na delegacia, de “forma fraudulenta”, uma pistola calibre 45, como se a arma tivesse sido usada pela vítima em reação a um flagrante por tráfico de drogas. ÉPOCA obteve cópia da deci-são de Patrícia sobre o caso, provavelmente a última medida contundente da juíza no combate a crimes de execução. Algumas horas antes de morrer, ela decretou a prisão de oito policiais militares suspeitos de assassinar e acobertar a morte do rapaz. A ordem foi escrita à mão, um procedimento comum em processos judiciais para acelerar as ações. A Polícia Civil suspeita que esse grupo de presos possa estar envolvido na morte da juíza.
IstoÉ
Sindicalismo tucano
Nos últimos quatro anos, seis das oito centrais sindicais brasileiras funcionaram como correias de transmissão do governo federal. Esse cenário, que ajudou as vitórias eleitorais petistas, começa a mudar no sábado 20, quando o senador Aécio Neves anuncia a filiação ao PSDB de mais de 150 sindicalistas de diversas origens, inclusive da maior central do País, a CUT, historicamente ligada ao PT. “Vamos acabar com a imagem negativa de que o PSDB é de viés elitista”, diz o presidente da Força Sindical em Minas Gerais, Rogério Fernandes, que trocará o PDT pelo PSDB. Apesar de ainda não estar claro se esse agrupamento engordará as fileiras da oposição no Congresso Nacional, a iniciativa tucana já desperta reações na base governista. “Se a CUT não se requalificar, ela será engolida por essa onda tucana”, avalia Wagner Xavier, consultor sindical ligado à corrente petista.
Segunda maior central sindical do Brasil, a Força Sindical terá a maior participação na empreitada. Entretanto, Aécio arrastou também sindicalistas filiados ao PMDB, PTB e PPS, todos ligados a outras entidades (leia quadro). Independentemente da origem dos sindicalistas que migrarão para o PSDB, o que está em jogo é a disputa por voz e voto de um exército que representa quase 60 milhões de trabalhadores, seis mil sindicatos e um orçamento de mais de R$ 80 milhões. Nas eleições de 2010, esse poderio sindical conseguiu, por exemplo, eleger 61 representantes para o Congresso Nacional, alavancar a campanha de Dilma Rousseff e ainda contribuiu para levar às cordas o candidato do PSDB, José Serra.
Um intelectual em busca de povo
Intelectual marxista com trânsito no meio acadêmico, o ministro da Educação, Fernando Haddad, prepara-se para enfrentar um desafio árduo. Lançado pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma na corrida para a Prefeitura de São Paulo, terá de arregaçar as mangas e pedir votos ao objeto de seus estudos: o povo. Num primeiro momento, seu alvo será mais limitado. Até dezembro, Haddad se esforçará para convencer a militância petista de que, apesar da inexperiência política, seu nome é o melhor que o PT pode apresentar aos eleitores. “Estou tranquilo. Acho que São Paulo ainda não se beneficiou dos avanços que o Brasil conquistou nos mandatos de Lula. Esse será o foco de minha campanha”, explicou Haddad à ISTOÉ. “Minha candidatura não nasceu ao acaso. Represento a renovação.”
A Sicília brasileira
Máfia do transporte alternativo, dos caça-níqueis, grupos de extermínio, milícias, quadrilhas especializadas no roubo de óleo de navios fundeados na Baía de Guanabara, policiais matadores, tráfico de drogas e ausência do poder público. O território de 248 quilômetros quadrados de São Gonçalo, segundo município mais populoso do Rio de Janeiro, distante apenas 20 quilômetros da capital, foi tão fatiado pelo crime organizado que praticamente não sobrou espaço livre para a Justiça ocupar. “Isso aqui é terra de Marlboro”, ironiza um advogado que mora na cidade e acompanha o dia a dia do Tribunal de Justiça local. Até a sexta-feira 12, o único empecilho à ação dos criminosos em São Gonçalo era a juíza Patrícia Acioli, que agia com mão de ferro contra policiais que passavam para a banda podre. No melhor estilo mafioso, os criminosos executaram a juíza com 21 tiros, quando ela chegava em casa, sozinha. Antes do crime, faltava pouco para que o município pudesse ser comparado à Sicília, o berço da máfia italiana. Após a eliminação de uma autoridade do Judiciário, não falta mais nada.
Vem aí a segunda fase
Ao deflagrar o processo de faxina ética na Esplanada dos Ministérios e deixar claro aos partidos aliados sua intransigência com o que chamou de “malfeitos”, a presidente Dilma Rousseff acabou promovendo uma pequena reforma ministerial a menos de nove meses da posse. Desde então, foram contabilizadas quatro baixas no primeiro escalão do governo. Na última semana, chegou a vez de Wagner Rossi, então ministro da Agricultura, deixar o cargo em meio a denúncias na pasta. Antes dele, tombaram Antônio Palocci, da Casa Civil, Alfredo Nascimento, dos Transportes, e Nelson Jobim, da Defesa. Com esse rearranjo, Dilma inicia uma nova etapa de seu governo. Embora tenha agido pressionada pelos escândalos de corrupção e seja obrigada a administrar a delicada relação com os partidos aliados, a presidente dá uma demonstração de força. Conseguiu, de acordo com as pesquisas de opinião, aumentar seu cacife político, ampliar seu prestígio perante a classe média e ganhar adeptos entre eleitores não petistas. Sobretudo porque, além da percepção de firmeza, nenhum dos quatro ministros afastados tinha sido da escolha pessoal dela. Foram herdados do governo Lula, que deixou como espólio uma heterogênea base governista recheada de problemas. “Ela agora tem condições de achar o próprio caminho. Daqui por diante, terá margem para estabelecer suas prioridades”, observa o historiador Marco Antonio Villa.
Nessa nova fase, a presidente Dilma começa a deixar o governo mais à sua feição. Rossi, por exemplo, era uma indicação pessoal do vice-presidente Michel Temer. Estava na Esplanada desde 2007, quando assumiu a presidência da Conab. Para seu lugar, a presidente nomeou um gaúcho, até então líder do governo no Congresso, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS). Pessoa da confiança da presidente, Ribeiro rompeu com setores do PMDB do Rio Grande do Sul durante as eleições presidenciais de 2010 para se dedicar à campanha da petista. No Estado, o PMDB marchou com José Serra. Mendes Ribeiro também é amigo de Carlos Araújo Paixão, ex-marido de Dilma, há mais de 20 anos. “Trata-se de um grande ser humano. E competente”, elogiou a presidente em conversas com líderes do PMDB. No processo de montagem de um governo com a sua cara, Dilma já havia nomeado Gleisi Hoffmann para a Casa Civil, Ideli Salvatti para a Secretaria das Relações Institucionais e Celso Amorim para a Defesa. As nomeações não foram suficientes para debelar a crise política, mas o governo já trabalha mais afinado. “Ainda não é o ideal, mas a parte gerencial já melhorou muito”, disse um auxiliar da presidente. Para não melindrar os partidos governistas, Dilma evita falar em novas mexidas. Mas os assessores do Planalto dão como certa uma nova composição ministerial até o fim do ano, em que alguns partidos, como o PR, manteriam seu quinhão no governo, mas em pastas de menor peso político.
Carta Capital
Os ossos do ofício
Ao subir a rampa interna do Palácio do Planalto na chegada ao trabalho na terça-feira 16, a presidenta Dilma Rousseff respondeu à pergunta se o combate à corrupção era o maior desafio do governo. Ela não vacilou. Deu à velha pergunta uma velha resposta: “O grande desafio deste país é desenvolver e distribuir renda”. Sobre o combate à corrupção ela deixou o tema, como das outras vezes, à margem da resposta: “São ossos do ofício”.
Há razões de ordem filosófica contra as cruzadas moralistas que sempre têm o sabor de engodo. Relembre-se Jânio Quadros. Isso porque, como é sabido, nenhum sistema de normas suporta o conhecimento de todas as violações que sofre.
Para quem está no poder há também problemas práticos como o que me foi apontado, certa vez, pelo general Golbery do Couto e Silva. Ele estava no Rio de Janeiro, após deixar a chefia da Casa Civil no governo Figueiredo, na sequên-cia da bomba do Riocentro, o mais dramático episódio político no ocaso da ditadura.
Foi a segunda e última vez que estive com ele. Naquele momento, Golbery relançava o livro Planejamento Estratégico. Era março de 1982, conforme registra a arguta dedicatória feita por ele no exemplar que me ofereceu. A mesma argúcia, por sinal, usada para responder à pergunta que fiz apoiada na versão que prevalece até hoje, segundo a qual ele teria saído por exigir a punição dos autores do atentado.
Luz, acessível, para crescer
Baiana, 32 anos, casada, seis filhos, Ivone Maria trabalha como empregada doméstica em São Paulo. Nos últimos anos, o aumento do salário mínimo e o mercado de trabalho aquecido fizeram com que sua renda de diarista aumentasse. Seu marido, porteiro em um prédio de luxo no bairro de Moema, também tem recebido mais dinheiro. Resultado: eles compraram uma máquina de lavar roupa, uma televisão de plasma e agora estão de olho em um novo computador. Assim como Ivone, mais de 30 milhões de pessoas ascenderam socialmente de classe. Esse movimento, aliado aos eventos esportivos, aos investimentos na camada pré-sal e ao programa Luz para Todos, deverá contribuir para um aumento do consumo de energia elétrica no País.
O balanço entre oferta e demanda está equilibrado para os próximos quatro anos, mas, para que o setor elétrico sustente o crescimento do PIB até 2020, o País tem um grande desafio pela frente: expandir a geração e a transmissão e atender ao consumo em alta. Entre 2011 e 2020, a demanda de energia elétrica deve subir 4,8% ao ano, chegando a 730,1 mil GWh no fim da década. O consumo per capita, hoje em 2,4 mil KWh por habitante por ano, deve crescer também, próximo de países como Chile e Argentina, mas bem abaixo dos Estados- Unidos, acima de 12 mil Kwh.
Outro fator a impulsionar a alta do consumo é o programa Luz para Todos, que desde 2004 levou energia elétrica a cerca de 2,5 milhões de famílias, beneficiando 12 milhões de pessoas. Cerca de 70% das ligações do programa foram realizadas nas regiões Norte e Nordeste.
– O conteúdo da última edição da revista Veja não está disponível na internet.
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