Época
Eduardo Campos: “Estarei com Dilma em 2014”
“Não tenho tido a oportunidade nem o tempo de falar o que vou falar aqui. Quero dizer como está minha cabeça neste instante.” Foi com essa disposição de espírito que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB recebeu ÉPOCA num final de manhã, em entrevista que entrou pela tarde. O cenário foi a sala de reuniões contígua a seu gabinete, no subsolo do Centro de Convenções, em Olinda, de onde exerce seu segundo mandato desde que o Palácio do Campo das Princesas entrou em reforma. Pela primeira vez numa entrevista, Eduardo Campos foi taxativo em relação ao assunto do momento: sua possível candidatura à Presidência da República em 2014. “Não é a hora de adesismos baratos, nem de arroubos de oposicionismos oportunistas”, disse. “Queremos que a presidenta Dilma ganhe 2013 para que ela chegue a 2014 sem necessidade de passar pelos constrangimentos que outros tiveram de passar em busca da reeleição.”
Istoé
Os delatores de Dilma
Vítima do aparato repressivo da ditadura, a presidenta Dilma Rousseff foi processada, presa e submetida a torturas por conta de sua militância em grupos de esquerda como o Comando de Libertação Nacional (Colina), que promoveu ações armadas entre 1967 e 1969. A organização de Dilma foi desmantelada por uma operação militar que prendeu seus principais integrantes e só foi possível a partir de informações fornecidas por colaboradores do regime militar. A lista desses informantes consta de denúncia oferecida pela 4ª Circunscrição Judiciária Militar em 1971 e foi obtida com exclusividade por ISTOÉ. No documento, até agora inédito, os militares listam cinco nomes de civis que, após terem testemunhado ações do Colina, passaram a integrar a rede de informações em Minas Gerais. Essas pessoas entregaram detalhes de encontros, endereços e a identidade de militantes. Um dos delatores citados no documento é considerado peça-chave para a inclusão da jovem Dilma Vana Rousseff no processo movido contra integrantes da organização. Trata-se do médico José Márcio Gonçalves de Souza, que hoje atende num hospital ortopédico de Belo Horizonte.
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Pirraça parlamentar
Deputados e senadores prestam desserviço ao País e revelam desleixo com as normas do Congresso ao convocarem sessão para apreciar três mil vetos. Conflito com o STF se acirra. Comandados por José Sarney (PMDB-AP) e Marco Maia (PT-RS), deputados e senadores protagonizaram uma palhaçada, na quarta-feira 19, quando tentaram realizar um inédito “assalto parlamentar” contra Estados produtores de petróleo, principalmente o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Numa reação sem precedentes, e se valendo de sutilezas capciosas, o Congresso havia aprovado no dia anterior requerimento convocando uma sessão para analisar 3.060 vetos presidenciais em tramitação há 12 anos. O objetivo era derrubar o veto da presidenta Dilma Rousseff ao artigo 3º da lei dos royalties do petróleo que modifica a divisão dos recursos dos campos de petróleo já licitados, por considerar que essa mudança implica a quebra de contratos em plena vigência. Lançando mão de pequenas espertezas, com o único propósito de surrupiar os recursos provenientes dos royalties do petróleo e distribuí-los aos demais Estados, os presidentes do Senado e da Câmara colocaram o Legislativo em confronto ainda maior com o Judiciário e o Executivo. Ainda revelaram o quanto os parlamentares são desleixados com suas próprias funções e debocham dos eleitores.
O golpe só não ocorreu porque a Mesa Diretora do Senado informou que, de acordo com o regimento interno e a Constituição, as bancadas do Rio e do Espírito Santo tinham direito de discutir cada veto. Assim, dez parlamentares poderiam se alternar na tribuna, cada um por até 20 minutos, para falar sobre cada um dos 3.060 assuntos em pauta. Como a sessão, observadas as regras em vigor, se estenderia por no mínimo três meses, os Estados não produtores jogaram a toalha. Sem acordo, o Congresso decidiu adiar a apreciação do tema para fevereiro de 2013, o que deve preservar pelo menos R$ 2 bilhões em arrecadação do Estado prevista para o ano que vem.
Primeiro teste da presidenta
No ano em que debutou como cabo eleitoral, Dilma Rousseff cumpriu papel fundamental na eleição municipal e quebrou recordes de popularidade. Se Dilma Rousseff carregava o estigma da falta de jogo de cintura político ao subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2011, as eleições municipais deste ano alteraram essa percepção. Em seu primeiro teste como cabo eleitoral, no exercício da Presidência da República, Dilma demonstrou ser uma eficiente puxadora de votos. Entre todas as disputas em que a presidenta se envolveu pessoalmente, a de São Paulo foi onde a estrela de Dilma brilhou com mais intensidade. Numa eleição emparelhada entre três candidatos, a presença dela credenciou o petista Fernando Haddad a passar ao segundo turno e derrotar o então favorito, José Serra (PSDB), nas urnas. A oposição há oito anos administrava a capital do Estado.
Nas demais disputas, Dilma revelou prudência política ao evitar cidades em que havia confrontos de siglas aliadas, como Fortaleza, Recife e Porto Alegre. No segundo turno, manifestou pessoalmente apoios a candidatos em diferentes regiões do País e costurou ou deu aval a acordos importantes, como o que levou o PMDB, do vice-presidente Michel Temer, ao palanque de Haddad. Em paralelo a isso, candidatos da base aliada do governo federal, e até alguns opositores, travaram verdadeiros embates com direito a recursos na Justiça para ostentarem a imagem de Dilma nas campanhas eleitorais. Tamanho alvoroço se explica pela popularidade da presidenta. Desde a chegada ao poder, ela quebrou sucessivos recordes de aprovação. Levantamento realizado pelo CNI/Ibope, em dezembro, mostrou que 62% dos brasileiros consideram sua gestão boa ou ótima. E a sua aprovação pessoal chegou a 78%.
Ninguém quer pagar a conta
O mundo se reuniu duas vezes em 2012 para estudar formas de salvar o planeta e, mais uma vez, os encontros se dividiram entre emergentes que precisam crescer sem poluir e países desenvolvidos pouco dispostos a investir nessa ideia. Muita gente interessada no futuro saudável do planeta chegou ao fim de 2011 tomada por uma sensação de otimismo. Afinal, o ano seguinte abrigaria duas das mais importantes reuniões globais dedicadas ao ambiente: a Rio+20 e a COP 18. Os dois eventos vieram e se foram, levando consigo o sorriso dos otimistas. Em nenhum desses encontros foi formulada uma política concreta para reduzir as emissões de poluentes e proteger os ecossistemas.
A Rio+20 prometia surtir tanto efeito quanto a Eco 92 (leia quadro). Mas a rodada de negociações acabou em um documento que, de tão vago, chegou a ser criticado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Como de costume, um dos maiores poluidores do mundo, os Estados Unidos não ajudaram – pelo contrário, trataram o evento com descrédito. O presidente Barack Obama trocou a viagem ao Rio pela campanha eleitoral e ainda deixou para mandar a secretária de Estado, Hillary Clinton, apenas no último dia.
Lições da Olimpíada
Nossos atletas bateram o recorde de medalhas em Londres, mas ainda há um longo caminho para não dar vexame no Rio em 2016. O Brasil bateu seu recorde de medalhas em uma edição na Olimpíada de Londres-2012, faturando 17 no total, sendo três de ouro, cinco de prata e nove de bronze. Do trio de conquistas douradas, dois feitos foram inéditos: na ginástica artística e no judô feminino, em atuações irrepreensíveis nas argolas e no tatame, respectivamente, de Arthur Zanetti e Sarah Menezes, ambos com 22 anos. “Faltava uma medalha para quebrar a barreira e acabar com essa história de que nós não vencemos”, declarou Zanetti à ISTOÉ, referindo-se ao estigma de que os ginastas brasileiros “amarelavam” na hora da decisão. As conquistas da dupla foram tão inesquecíveis quanto a virada da seleção feminina de vôlei, na final contra as rivais russas. Mas, ao fim da jornada londrina, a impressão é a de que poderia ter sido melhor, pois a evolução ficou aquém do que era esperado pelos torcedores, governo e comitê olímpico.
Revista Congresso em Foco: Governo abre o cofre para evitar vexame olímpico
O País encara a corrupção
Em 2012, o Brasil progrediu no combate aos desvios na política e aos malfeitos na administração pública. O julgamento do mensalão e a realização da primeira eleição sob as restrições da Lei da Ficha Limpa foram marcos desse avanço. O Brasil viveu um ano emblemático no combate à corrupção. Avanços inegáveis quebraram paradigmas e abriram espaço para mudanças significativas na forma de se fazer política no País. O principal protagonista desse novo capítulo da história, que começou a ser escrito em 2012, foi sem dúvida o Supremo Tribunal Federal (STF), na figura do presidente e relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa. Ao dedicar quatro meses e meio ao julgamento do maior processo que já tramitou na corte, o relator e os demais ministros fecharam o ano condenando autoridades à prisão e colocando em estado de alerta políticos de alto calibre acostumados aos mais variados desmandos e à impunidade. As conclusões do julgamento deixaram claro que desvios de dinheiro para alimentar esquemas de corrupção não serão tolerados, independentemente de quem sejam os autores das irregularidades. A corte, tendo Barbosa à frente, demonstrou também que, ao contrário do que alegavam os políticos, crimes de caixa 2 em campanhas não são próprios do sistema eleitoral. A prática deixou de ser considerada um crime menor e, no entendimento do STF, sempre vem associada a vários delitos.
Outro importante precedente aberto durante o processo do mensalão é o de que foro privilegiado não mais significa impunidade para quem tem mandatos. Até então, a maior dificuldade era julgar processos de políticos que dependiam da atuação de magistrados na fase de instrução. Mas os ministros mostraram que esses obstáculos podem ser facilmente removidos. Para auxiliar os ministros, o tribunal passou a nomear juízes de primeira instância. Com isso, o trâmite dos processos e o julgamento foram acelerados.
Carta Capital
O último golpe
O procurador geral da República Roberto Gurgel burla o plenário do Supremo e dá a Joaquim Barbosa o poder de decidir monocraticamente a prisão dos condenados pelo “mensalão”
Uma nova lei áurea em andamento
Projeto prevê o fechamento de empresas que exploram o trabalho escravo
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