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Em seu segundo ano como deputado, Romário disse estar finalizando os procedimentos burocráticos necessários para fundamentar o requerimento de criação da comissão parlamentar de inquérito. No que depender dele, a CBF, às vésperas de organizar a Copa das Confederações no ano que vem e a Copa do Mundo em 2014, administrando a troca de Mano Menezes por Luís Felipe Scolari no comando da seleção, terá muito mais trabalho e novos motivos de preocupação. A coleta de assinaturas de adesão à CPI (no mínimo 171 entre as 513 possíveis), diz Romário, vai começar já no início da próxima semana entre os colegas de Câmara. Objeto de investigação, essencial para a viabilidade regimental da comissão, não será problema: “Os problemas não são poucos”, avalia o deputado.
“Tem aquele contrato fraudulento entre CBF e TAM, tem o enriquecimento ilícito das pessoas que trabalham na CBF. Tem também esse último fato, agora, que não tem a ver, diretamente, com a CBF – mas envolve o Marco Polo Del Nero. E muitos outros [objetos de fundamentação] que vocês saberão aí pela frente”, insinuou Romário, sem querer adiantar o material que tem em mãos.
Era uma menção indireta ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e outra direta ao vice-presidente da CBF e presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, um dos alvos da Operação Durkheim, da Polícia Federal, que investiga um esquema de venda de informações sigilosas. Mesmo que as autoridades responsáveis pela investigação tenham dito não se tratar de suspeita de irregularidade ligada ao futebol, o fato de o dirigente ter tido documentos apreendidos pela PF, avalia Romário, já merecia um tratamento diferente ao investigado. “Eu, no lugar do presidente [da CBF, José Maria Marin], teria conversado com ele e já o teria afastado. Ele teria de sair do cargo de vice-presidente da CBF e, principalmente, do de representante do Brasil na Fifa.”
“Apoio aos covardes”
Em quase dois anos de experiência parlamentar, Romário já sabe o que determina o sucesso de uma CPI. Mas na entrevista a este site, à saída do Plenário da Câmara, o deputado parecia convicto de que o momento conturbado na CBF é o mais propício para enfrentar a chamada “bancada da bola”, grupo de parlamentares com estreitas relações com os dirigentes do futebol brasileiro. E que, por mais de uma vez, já mostrou sua força em duas comissões correlatas – a CPI do Futebol, em 2001; e a CPI da Nike, em 2008.
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Mesmo depois da renúncia de Ricardo Teixeira, que está sob investigação da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Romário acredita que a tal bancada terá de rever seus conceitos. E, em um contexto político-eleitoral, sua própria atuação. “A bancada da bola não pode mais apoiar sacanagem, corrupção, falcatrua. O Brasil está entrando em outro momento – e, nesse sentido, o que aconteceu no julgamento do mensalão é um exemplo. Então, essa bancada vai pensar bastante, a partir de agora, em quem eles vão apoiar. Aliás, teremos eleições daqui a dois anos”, fustigou o deputado, para quem a CBF é uma instituição “covarde e corrompida”.
Na entrevista a seguir, Romário desmonta os rumores de bastidor que davam conta dos conselhos, por parte de aliados, para que ele não queimasse cartucho em uma CPI sem efetividade. Além disso, a turma do deixa disso chegou a suscitar a pouca experiência de Romário como congressista e, em última análise, como membro de CPI com tamanho poder de fogo. Acostumado com confrontos internacionais, o deputado matou o falatório no peito. “Espero e tenho muita fé em que, desta vez, a CPI vai acontecer.”
Confira a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco – A CBF continua a fazer o que quer, sem dar satisfação ao governo ou ao povo?
Romário – Infelizmente, tanto no passado, e agora no presente. E o pior: se continuar assim, será bastante desastroso, prejudicial para nosso futebol.
O que mostrou a audiência, no Senado, sobre limite para reeleições na presidência de entidades esportivas?
O Brasil já está alerta, já entende que está na hora de modernizar. E modernizar é limitar o tempo [de gestores à frente de entidades]. Uma das formas de modernizar qualquer situação hoje, no que se refere ao esporte – tanto em confederação quanto em federação, clubes, enfim –, é limitar o tempo de mandato desses dirigentes.
Há clima favorável para a criação da CPI da CBF?
Eu estou apenas finalizando o resto da documentação para juntar no processo e, a partir de terça-feira [4], vou começar a recolher as assinaturas…
Há quem diga que não há fundamentação a justificar a instalação do colegiado…
Claro que tem! Uma é aquele contrato fraudulento entre CBF e TAM. Outra é o enriquecimento ilícito das pessoas que trabalham na CBF. Tem também esse último fato, agora, que não tem a ver, diretamente, com a CBF – mas envolve o Marco Polo Del Nero. E muitos outros [objetos de fundamentação] que vocês saberão aí pela frente…
O senhor acredita que vai reunir o número mínimo de assinaturas exigido para a instalação do colegiado?
Sim. Estou bastante consciente, entusiasmado. Espero que meus companheiros entendam, de uma vez por todas, que essa “farra do boi” tem que acabar.
Romário no ataque, bancada da bola na defesa…
Não é bem assim… Eu entendo que, para que as coisas aconteçam, a gente precisa de aliados, de votos. Temos que reunir, no mínimo, 171 assinaturas. Tempos de recolher o máximo possível, porque pode ser que aconteça o que aconteceu outra vez, quando o deputado Anthony Garotinho [PR] colheu duzentas e poucas assinaturas, e muitos retiraram. Por isso, ele não conseguiu alcançar o número suficiente. Mas eu espero e tenho muita fé em que, desta vez, vai acontecer.
A chamada “bancada da bola”, que parece em harmonia com a CBF, tem força parlamentar para barrar a CPI?
A bancada da bola não pode mais apoiar sacanagem, não pode mais apoiar corrupção, não pode mais apoiar falcatrua. O Brasil está entrando em outro momento – e, nesse sentido, o que aconteceu no mensalão é um exemplo. Então, essa bancada vai pensar bastante, a partir de agora, em quem eles vão apoiar. Aliás, teremos eleições daqui a dois anos…
O deputado Vicente Cândido (PT-SP), embora não esteja sob investigação e não figure em qualquer denúncia de irregularidade, é sócio do presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del Nero, alvo recente de ação da Polícia Federal. O que isso pode representar?
Independentemente de ser sócio do Vicente, quem aparece no escândalo é apenas o Del Nero – então é apenas dele que a gente pode falar. Não posso falar nada sobre meu companheiro Vicente Cândido. O que eu quero dizer é que só o fato de ele aparecer em um escândalo desse… Eu, no lugar do presidente [da CBF, José Maria Marin], teria conversado com ele e já o teria afastado. Ele teria de ser afastado do cargo de vice-presidente da CBF e, principalmente, como representante do Brasil na Fifa – ele representa, hoje, o Brasil no lugar do Ricardo Teixeira. Mas como essa instituição [CBF] é bastante corrompida, covarde e desonesta, não vai acontecer nada.
Como o senhor viu a queda do Mano Menezes e, na sequência, de Andrés Sanchez? Tem a ver com a crise na CBF?
A saída do Andrés Sanchez foi porque – na concepção dele, e eu respeito bastante – ele foi voto vencido em relação à saída do Mano, que eu comemoro como uma grande decisão, porque estava na hora de ele sair. Mas o Andrés Sanchez tem a bandeira dele, vê o Mano como um cara competente e queria continuar com o Mano. Eu o respeito, [Andrés] é um dos poucos caras sérios que tinha na CBF. O que eu posso dizer é o seguinte: como saíram o Mano e o Andrés, tinha que sair agora o Del Nero e o próprio presidente, para vermos se melhora alguma coisa.
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