Leia a íntegra da entrevista de Pedro Delarue Tolentino
Greves poderão chegar também à iniciativa privada
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Em entrevista exclusiva concedida ontem (quarta, 22) ao Congresso em Foco, o líder de classe critica a forma com que o Planalto tem lidado com o movimento grevista. Segundo ele, o maior problema é que o governo não tem reajustado os vencimentos dos funcionários públicos todo ano, como deveria. “Se isso acontecesse, estaríamos pedindo reajustes de 5%”, argumenta. Como há, segundo Delarue, um acúmulo de inflação não reajustada de quatro anos ou mais, as categorias têm reivindicado reajustes maiores. Para o servidor público, em vez de fazer comparações com salários da iniciativa privada, o governo deveria comparar o que ganham os servidores públicos com os vencimentos pagos em estatais como a Petrobras.
“Vão descobrir que o funcionário da estatal ganha muito mais, mas muito mais, do que o do setor público. Talvez isso seja uma realidade que esteja interessando ao governo esconder neste momento. Vamos fazer uma comparação do salário do servidor público com, por exemplo, o de um funcionário da Petrobras. Você vai ver que a massa salarial da Petrobras está muito acima”, provocou o auditor fiscal, que também é presidente do Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) para o biênio 2012-2013.
De dois em dois dias
A paralisação dos auditores foi decidida há uma semana, na última quarta-feira (15), em assembleia nacional. À meia-noite desta quinta-feira, a depender dos acontecimentos, a categoria pretende interromper a greve geral. Mas não sem antes explicitar uma espécie de aviso ao governo: “Depois da pausa de dois dias, os auditores federais voltam a cruzar os braços na próxima terça-feira (28) e quarta-feira (29)”, adverte a UCE em sua página virtual.
Segundo Pedro, a transparência no funcionalismo é só um dos elementos que podem demonstrar a “maquiagem” feita pelo Planalto. Como resposta às críticas pela paralisação de sua classe em todo o país, ele diz que os auditores “não viraram as costas”, mas recorrem a uma operação-padrão ainda mais minuciosa em termos de fiscalização. E a culpa, diz, é do governo. “O governo demorou a negociar, enrolou na negociação. Na verdade, não queria fazer a negociação, e isso foi o que desencadeou toda essa reação que, agora, se vê nas ruas”, observa.
Para o presidente UCE, não procede a tese de que os auditores querem avançar sobre o restrito orçamento à disposição do governo Dilma. O auditor também refuta a qualificação feita por Dilma de que a greve do funcionalismo é uma greve de “sangue azul”, dado o valor dos salários que ganham. “Trata-se de uma declaração impensada”, rebate.
Reajuste “inconcebível”
Os auditores querem recomposição salarial de 30%, retroativa e anual, de 2008 para cá. Segundo Pedro, a contrapartida considera apenas conceder reajuste segundo a “inflação futura”, com 15% de reajuste divididos em três parcelas nos próximos três anos.
“Se há carreiras pedindo 151%, aí é problema de cada carreira, especificamente. Nós, auditores fiscais, não estamos pedindo isso. O que estamos pedindo, na verdade, só recompõe a inflação dos últimos anos”, diz Pedro.