Nesta segunda-feira (1), os olhos do país vão se voltar às duas casas do Congresso Nacional, para acompanhar uma das eleições indiretas mais importantes da democracia brasileira. Ali, deputados e senadores escolherão a mesa diretora pelos próximos dois anos. Ao contrário do que foi em 2019, a eleição deve ser mais tranquila no Senado (onde Rodrigo Pacheco, do Democratas de Minas Gerais, desponta como favorito) do que na Câmara – onde Arthur Lira (PP-AL) deve protagonizar disputa contra Baleia Rossi (MDB-SP).
Estas duas votações terão influência direta sobre as agências reguladoras, já que o futuro de muitas delas dependem de decisões a serem tomadas pelas duas casas. Não apenas em termos de leis a serem debatidas pela Câmara e pelo Senado, mas também porque esta última tem o poder de avaliar nomes para as diretorias destas agências.
A Agência Nacional de Transportes Terrestes (ANTT) é a agência que talvez esteja mais em evidência com a eleição das mesas – mais particularmente com a do Senado. A Comissão de Infraestrutura já sabatinou e aprovou o nome de Arnaldo Silva Junior no final de 2020 para uma vaga na diretoria, mas desde então aumentaram as pressões para que o sabatinado não tenha seu nome levado à Plenário. Arnaldo é membro de partido político e lotado no gabinete de Rodrigo Pacheco, o que iria contra princípios previstos na Lei das Agências. Uma nova mesa diretora no Senado poderia travar ou destravar este processo.
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Caberá também ao Senado avalizar nomes de outras agências, enviados pelo Executivo. Nesta segunda metade do mandato, o presidente Jair Bolsonaro poderá indicar ao menos uma dezena de nomes para locais como Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), Agência Nacional do Cinema (Ancine) e ANTT, entre outras.
Na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a atenção no curto prazo é voltada para a Medida Provisória (MP) 998, editada em agosto do ano passado e que dá novas regras para diversos subsídios do setor elétrico, como os destinados a geradores de energia limpa. A alteração pretendida pelo governo pela MP pode alterar a regulação da política pública da agência – que teve seu nome mais recente aprovado pelo Legislativo em outubro do ano passado. A MP 998 aguarda aprovação do Senado Federal.
No setor elétrico ainda há a expectativa de novas movimentações sobre a possível desestatização da Eletrobras, principal estatal brasileira no ramo de geração e transmissão de energia elétrica. O projeto, há muito encampado pelo governo de Jair Bolsonaro, encontra resistências justamente no Congresso Nacional: enquanto Arthur Lira diz que pauta o projeto de lei caso haja apoio da maioria, Rodrigo Pacheco já disse que a privatização não ocorrerá “a qualquer preço”. A fala de Pacheco pode ter influenciado na decisão de Wilson Ferreira Junior renunciar ao cargo de presidente da estatal nesta semana.
Pacheco já atuou próximo da Aneel durante a pandemia. Em julho, o senador pressionou a agência para que determinasse que a Cemig, companhia elétrica do estado de Minas Gerais, devolvesse aos consumidores um montante próximo a R$ 800 milhões, fruto de impostos recolhidos na conta de luz e que foram considerados indevidos pela Justiça anos depois. A proposta foi negada em um primeiro momento pela agência, mas esta acabou por rever sua posição após o governo de Minas Gerais, principal acionista da distribuidora, defender que usaria o valor para abater reajustes tarifários positivos da conta de luz.
Na Câmara, a expectativa é que grandes projetos em áreas específicas como transportes e energia possam ter suas discussões retomadas com o retorno ao funcionamento das comissões, paradas desde o início da pandemia. Como elas não chegaram a se reunir nem de maneira virtual, há a necessidade de compor uma nova presidência e um novo grupo de deputados-membros. O retorno às atividades depende, principalmente, de condições sanitárias favoráveis – mas o resultado da eleição da mesa, nesta segunda-feira, pode definir que cara tais grupos de trabalho terão.
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