O Brasil tem sofrido ataques em várias frentes, como a ambiental, a educacional, a social, a econômica, a sanitária, a política e a cultural. Que rumo é possível dar ao país? Como impedir que esse cenário se torne irreversível? Quais os fundamentos para a reconstrução do Brasil? Quais desafios nos esperam nessa empreitada? Essas foram algumas das questões que o Congresso em Foco Talk discutiu nesta quinta-feira (24), com a economista Karina Bugarin e o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) João Villaverde, co-autores do livro Reconstrução: o Brasil nos Anos 20 (2022, Ed. Saraiva).
João Villaverde é jornalista, mestre em administração pública, professor da FGV e escritor. É autor de Perigosas Pedaladas, livro sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Karina Bugarin é economista e ex-secretária adjunta de Desenvolvimento Econômico do governo de São Paulo. No livro, defendem uma “reconstrução sobre novas bases”. Para eles, o país precisa muito mais que de uma simples “retomada”.
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Durante a conversa, demonstraram que o cenário de destruição institucional enfrentado pelo Brasil durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro não se dá por acaso. Os dois especialistas apontaram para exemplos de episódios em que essa postura resultou em benefícios ao chefe de Estado e seus aliados mais próximos, que utilizam o aparato do Estado para obter benefícios próprios.
Um dos exemplos disso se dá justamente na atual crise enfrentada pelo Ministério da Educação (MEC), cujo o ministro Milton Ribeiro é acusado de cobrar propina em ouro de prefeitos para liberar verbas para a educação. “O projeto é ficar mais rico. Não há projeto nenhum, a ideia ali é se omitir de assuntos importantes e aproveitar a jornada de segunda a sexta-feira para pedir barras de ouro”, apontou Villaverde.
Outro aliado de Bolsonaro que conseguiu se aproveitar da destruição das instituições para benefício próprio foi o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que, em reunião ministerial no primeiro semestre de 2020, recomendou ao presidente que utilizasse o foco da imprensa em assuntos da pandemia para “passar a boiada”, expressão utilizada para se referir a políticas de destruição ambiental. “O sinal que essa frase emite é: vamos dar um jeito de ‘enfiar goela abaixo’ aquilo que a gente acha que tem que ser. (…) É um sinal de ‘vamos aproveitar que a população está morrendo para aprovar tudo aquilo que a população não quer aprovar'”, explicou Karina Bugarin.
PublicidadeEsse cenário de destruição generalizada já estava em construção antes mesmo da chegada de Bolsonaro. Os autores listam uma série de fatores que trouxeram o país a esta situação. Alguns dos principais são a falta de estabelecimento de um projeto de poder por parte dos gestores, a falta de mecanismos de inclusão da sociedade no estabelecimento e execução de políticas públicas e a falta de capacidade de formação de uma liderança nacional disposta a preservar e dar continuidade às políticas públicas brasileiras.
Karina destaca que já é consenso na ciência política que não há vácuo de poder. “Na ausência de uma liderança capaz de articular, organizar, liderar e direcionar as ações, vão ser tomados os espaços”, tornando inevitável a subida no de atores que se beneficiam da destruição do país, e que passam a adotar a sabotagem como bússola da política nacional.
A solução apontada no livro é uma reforma sistêmica na política e economia brasileira, com maior garantia dos direitos fundamentais, maior participação popular e com esforço dos agentes políticos em construir consensos ao invés de dar voz apenas aos próprios interesses. “Uma das coisas mais importantes que aconteceram no Plano Real foi a construção de consensos antes da implementação. (…) Isso é fundamental”, apontou Karina. Existe também a necessidade de avançar nos debates de forma unificada, sem fragmentar cada debate apenas para os principais nichos interessados.
Villaverde acrescenta um último detalhe nesse processo de reconstrução. “Ela tem que ser estética. (…) Na hora que vemos esses ternos verdes de Luciano Hang e o bando de homens fazendo arma com as mãos, refletimos sobre o que está acontecendo com o Brasil”.
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