Na manhã desta quinta-feira (02), a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou a primeira audiência de sua CPI que investiga os agentes responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro. O primeiro depoente foi Fernando de Souza Oliveira, que assumia interinamente a função de secretário de segurança do Distrito Federal no dia dos ataques às sedes dos três poderes. De acordo com o presidente do colegiado, deputado distrital Chico Vigilante (PT), o depoimento revelou uma possível sabotagem dentro da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na segurança do ato.
“Algo que ficou claro no depoimento foi a existência de uma guerra estabelecida dentro do comando da PMDF. O coronel [Jorge Eduardo] Naime [comandante do Departamento Operacional] tentava derrubar o coronel Fábio [Augusto, comandante da PMDF no dia do ato]. Tenho convicção de que houve sabotagem da parte dele, e ainda queremos descobrir se o ex-secretário Anderson Torres fez parte disso”, relatou o parlamentar ao Congresso em Foco.
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Fernando de Souza não chegou a citar o nome do coronel Naime em seu depoimento, mas comentou em diversos momentos o fato de o oficial não ter cumprido seu papel no 8 de janeiro. “O departamento de operações da PMDF era o responsável por determinar o quantitativo de policiais, viaturas, equipamentos, tropas especializadas e onde essas tropas deveriam ficar. (…) A PM não me apresentou o plano de operações. Posteriormente, no relatório do interventor, ficou constatado que sequer existia plano”, afirmou o ex-secretário.
Quem comandava?
Os depoimentos de oficiais da PMDF à Polícia Federal sobre a atuação contra os atos golpistas revelam que não foi apenas a falta de informações sobre efetivos que comprometeu a ação dos policiais. O Departamento Operacional também não deu clareza sobre quem seria responsável por comandar a operação, e que sequer os policiais sabiam o tamanho da tropa sob seu comando. Fernando de Souza ressaltou que foi justamente a falta de orientação do departamento que impediu a força policial de executar o plano de ação que foi desenhado dois dias antes.
A situação do coronel Naime também foi dúbia na operação. Nenhum dos depoentes sabia o motivo dele não ter sido encarregado de comandar a ação policial no dia, chegando a circular a informação de que ele poderia estar licenciado. Quando se iniciou a operação de retomada do Congresso Nacional, porém, o coronel apareceu fardado em meio aos policiais, sem se explicar ao comandante Fábio Augusto.
Os dois coronéis acabaram presos em decorrência das investigações que sucederam os atos golpistas. Chico Vigilante acredita que a postura de Naime em não comandar a operação que acompanhava a manifestação e não fornecer um planejamento operacional foi uma ação deliberada, visando prejudicar seu superior e assumir seu lugar.
O parlamentar considera, porém, que há a possibilidade do interesse não ter sido apenas corporativo, mas parte de um esforço político conjunto. “O que aconteceu no dia 8 foi um golpe, ele não se consolidou, mas foi um golpe. Acho que, ao mesmo tempo que Anderson Torres tentou participar de um golpe que deu errado, tivemos esse grupo na PMDF aproveitando para sabotar o esforço contrário e derrubar o comandante geral”, avalia.
Anderson Torres é o próximo investigado pela CPI, com depoimento previsto para acontecer no dia 9. Na audiência, Chico Vigilante procura saber não apenas se havia algum interesse político nos ataques, mas também descobrir se houve orientação de sua parte para que os policiais militares fossem enviados a campo sem informações no dia.
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