Vitor Paulo *
Olhando o tempo da nossa sociedade, é difícil perceber se os valores tradicionais ainda nutrem a imaginação ética de muitos do povo. Ao assistirmos a programas na televisão, somos levados a pensar que criminosos são vítimas e que a violência é culpa da baixa educação e da desigualdade social brasileira.
Nunca alguém conseguiu demonstrar como se explica a correlação das causas ideológicas com os efeitos da violência. Parece que a retórica da desigualdade e da baixa educação como causas da violência vai sendo finalmente falseada por algumas reportagens.
Matéria publicada pelo Valor Econômico informa que o Brasil nunca esteve tão rico e tão letrado, e que, mesmo assim, a violência nunca esteve tão grande. Os dados apresentados pelo jornal são uma evidência de que os ideólogos terão dificuldades para explicar a violência à luz de suas teorias.
Um em cada dez homicídios registrados no mundo ocorre no Brasil. Os mais de 50 mil assassinatos que ocorrem todos os anos no nosso país equivalem à taxa de mortes violentas da República do Congo, que está em guerra há quase duas décadas.
A principal insatisfação dos brasileiros é com os serviços públicos. Primeiro, a saúde. Em segundo lugar, a segurança pública, à frente da educação e do emprego. Em Brasília, 85% da população declararam que a principal preocupação é a violência, segundo os resultados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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Brasília é uma cidade com excelente média salarial. Isso atrai muitas pessoas, que aqui chegam e também aumentam o rendimento. Então por que a região do Distrito Federal desponta também na violência se o padrão social é bom? Tomando a capital federal como parâmetro, fica claro que a ideologia da exclusão social como causa da violência está refutada. É preciso considerar outras variáveis para tratar a insegurança.
Há uma abordagem que vem da economia. É o cálculo utilitário: o criminoso somente agirá quando o risco do delito é menor do que o ganho que ele terá com o crime. Ou seja, o criminoso faz um cálculo econômico antes de cometer o ato. Com esta visão, o bandido não seria o coitado, que a ideologia dominante continua a impor, mas um empreendedor criminoso.
Essa nova abordagem do crime argumenta que o cálculo econômico já estaria assimilado pela mente do criminoso: ele já saberia que a possibilidade de ele ser preso pela polícia é pequena; de ele ser condenado pela Justiça, ainda menor; e de que ele passará um bom período na cadeia é motivo de piada. Com tantos incentivos assim, é impossível que não surjam, cada vez mais, empreendedores do crime.
* É deputado pelo PRB do Rio de Janeiro.