Primeiro vice-líder do governo no Congresso, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) considera que o país errou na largada para o enfrentamento à pandemia de covid-19. Ministro da Saúde por quase dois anos no governo de Michel Temer, Barros entende que o Brasil demorou a comprar respiradores e testes para o novo coronavírus, entre outros equipamentos.
Para ele, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a despeito de ter deixado o governo com alto índice de aprovação popular, cometeu equívocos que, somente agora, estão sendo corrigidos pelo general Eduardo Pazuello, que ocupa o cargo interinamente. Barros defende que o general seja efetivado como ministro.
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“O general Pazuello convocou generais para o ministério. Eles estão comprando, tomando decisões e se comprometendo. Isso é muito importante. Defendo a manutenção do general porque ele está sendo operacional”, disse o ex-ministro ao Congresso em Foco Premium. Nesta terça (19) o general nomeou nove militares para cargos importantes da pasta.
Segundo Barros, Mandetta não aproveitou a estrutura e os recursos oferecidos pelo governo.
“Erramos muito. O ministro Mandetta começou dizendo que faria teste apenas em pessoas hospitalizadas. Depois veio falar em 20 milhões de testes. O ministro Teich falou em 40 milhões. Mandetta saiu do ministério sem comprar os testes. Estamos muito atrasados para fazer uma política mais inteligente de isolamento, na medida em que não temos informação suficiente”, avalia.
A reportagem procurou o ex-ministro Mandetta, mas ele não quis comentar as declarações de Ricardo Barros.
Órgãos de controle
O deputado avalia que os órgãos de controle e fiscalização não compreenderam que o país está em guerra contra o vírus e que a transparência total, neste momento, pode causar prejuízos para o combate à doença. Outro problema, segundo ele, está no receio de servidores públicos de assumirem a responsabilidade por atos que venham a ser, posteriormente, questionados.
“Já temos dois secretários exonerados, já temos gente presa por causa de respiradores, várias apurações em tribunais de contas e no Ministério Público Federal. O mundo inteiro quer comprar as mesmas coisas ao mesmo tempo. Não é possível dar transparência. O Congresso votou uma lei especifica para compras da covid-19, emergenciais. Mas o servidor público tem medo de usar dessa prerrogativa e depois ser exonerado por isso.”
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Para ele, o general Pazzuelo compreende que o momento é de guerra. “O Ministério da Saúde vinha no tempo do Mandetta, publicando o resultado das compras. No dia seguinte outros países interceptavam e tomavam nosso estoque. O Brasil ficou nisso tentando ser transparente, e o ministro dizendo que não estava conseguindo comprar”, diz. “Defendo a equipe do general. Os órgãos de controle têm atrapalhado muito, porque esqueceram que estamos numa guerra. Quando você está em guerra não pode informar para o seu inimigo onde compra comida ou munição. Do contrário, ele intercepta seus suprimentos”, acrescenta.O deputado também considera equivocada a recomendação feita por Mandetta para que apenas pessoas com problema respiratório procurem a rede básica de saúde.
“Quanto à orientação para o usuário do SUS ficar em casa se tiver sintomas leves, como febre, dor de cabeça, e só recorrer ao serviço de saúde se tiver falta de ar, isso é um erro. Quando a pessoa tem falta de ar é porque a situação dela já é complexa. Já está no meio do caminho para frente”, critica.
Barros e sua família foram infectados pela covid-19. O deputado passou 15 dias em isolamento e utilizou no seu tratamento a cloroquina, medicamento cujo uso é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, mas enfrenta grande resistência da comunidade científica, por entender que sua eficácia não está comprovada e seus efeitos colaterais podem ser bastante nocivos à saúde.
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O ex-ministro defende que cabe ao paciente decidir se toma ou não o medicamento. Ele também critica o isolamento social, apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como método mais eficiente para conter a disseminação do vírus.
Assim como o presidente, o vice-líder do governo acredita que apenas idosos e pessoas com doenças preexistentes fiquem em casa para evitar risco de infecção. Na avaliação dele, a estratégia de adiar o pico da doença, com o isolamento total, está se mostrando ineficaz no Brasil. “Com o lockdown, por exemplo, teremos um pico lá na frente. Quando liberar as pessoas, vai ter outro pico. A justificativa é que, quando houver pico lá na frente, teremos um sistema estruturado. Estamos chegando ao pico e não temos respiradores. Não está ajudando nada. Metade das pessoas não está em isolamento”, afirma.
Ricardo Barros considera que o governo federal não pode ser avaliado isoladamente na luta contra a covid-19 porque estados e municípios têm autonomia para tratar do assunto. Cabe ao governo federal, segundo ele formular políticas de saúde.
O vice-líder do governo defende Bolsonaro da acusação de propagar mortes por conta de sua campanha contra o isolamento social. Segundo balanço divulgado nesta terça, o Brasil registra 17.917 mil mortes.
Para o deputado, os efeitos econômicos poderão ser mais severos do que a própria pandemia. “O presidente tem a retórica de discurso contra o isolamento. Não é sua responsabilidade decidir sobre isso ou não. Ele está falando direto com a população. Penso que os danos econômicos que vão ser provocados pelo isolamento prejudicarão mais as pessoas que a covid”, afirma Barros.
O distanciamento social opõe Bolsonaro e a quase totalidade dos governadores, que consideram a medida fundamental para reduzir a proliferação do vírus.
No último dia 15 Barros causou polêmica em entrevista à CNN Brasil ao dizer que o isolamento tem causado prejuízo à rede privada de saúde. “Os hospitais estão quase quebrando. Eles perderam o seu movimento normal, das cirurgias eletivas, os acidentes de trânsito caíram muito – que era um motivo de faturamento dos hospitais”, declarou.
“Nós estamos quebrando todo o nosso sistema hospitalar financeiramente porque eles não podem fazer o seu trabalho normal e também não tem clientes com covid para ocupar os leitos”, completou.
O deputado disse ao Congresso em Foco que se referia às dificuldades enfrentadas por hospitais filantrópicos e privados diante da suspensão das cirurgias eletivas. “Isso causa um prejuízo efetivo muito e tem de ser objeto de alguma ação do governo. O presidente está para liberar R$ 2 bilhões para as santas casas, mas isso não será suficiente”, disse, referindo-se a um projeto aprovado pelo Congresso que aguarda a sanção de Bolsonaro.
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