Imagine uma foto de dedos amputados. Essa foto existe, porém os dedos não são naturais, são de silicone. A foto me causou uma sensação indefinida de asco, nojo ou repugnância.
Outra impressão que se pode ter desta foto é a que ela seria uma obra de arte. Impressão dada pela plasticidade: um dedo ao lado do outro. Isso dá uma imagem, imagino, para alguns, de muito mau gosto. Para outros, de uma obra de arte.
Imediatamente após ver a foto, li a notícia (que me revoltou): a foto era a reprodução de dedos (das digitais) de médicos, feitas para fraudar o ponto. Ou seja, eram as digitais de profissionais médicos que não iam trabalhar, mas, no entanto, davam presença no serviço e recebiam o salário no fim do mês. Que ética médica é essa, e onde aprenderem essa lição ética e moral?
Será que estes médicos e tantos outros que agem de maneira semelhante não fazem parte do grupo que vai para as ruas protestar contra a contratação de médicos estrangeiros para trabalharem no Brasil? Será que fazem parte daqueles médicos que burlam o trabalho e protestam para os outros (estrangeiros) não trabalharem?
Os médicos que assim procedem agem de maneira semelhante àqueles que assinam ponto, não trabalham, e vão para casa ou outro emprego. Ou assinam na entrada, saem antes de concluir a carga horária contratada, e voltam para assinar a saída só no dia seguinte. Há também aqueles que riscam ou quebram o visor do aparelho eletrônico que recolhe a digital para não ter que registrar a entrada e tampouco a saída do serviço. Sei que quando fazem isso é por que há a conivência das chefias. Mas, como sempre, não custa perguntar: o que pode o médico que pratica este tipo de crime exigir se não cumpre com o seu dever?
Este tipo de comportamento é um desrespeito e falta de compromisso com a cidadania, com a saúde pública e com o Sistema Único de Saúde (SUS). É negar a defesa da vida, que jurou defender.
Tenho visto pouca (ou nenhuma?) manifestação das entidades médicas (Sindicatos e Federação Nacional, Conselhos Regionais e Nacional, Associações Regionais e Nacional) condenando essas práticas. Não seria agora, com o povo na rua pedindo mais saúde pública, o momento ideal para que as entidades se manifestassem contra essa prática contumaz (não assinar ponto) de muitos médicos Brasil afora?
Antes de protestar contra a contratação de médicos estrangeiros para a ampliação dos serviços de saúde pública, não seria mais salutar se colocar contra aquelas práticas?
Aquela foto representa algo macabro. É macabro o médico não ir trabalhar mesmo sabendo que sua ausência pode levar à morte de algumas pessoas, principalmente nesse caso, em que são médicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
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