O mundo pós-pandemia foi a questão discutida pela ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o economista Eduardo Giannetti e o cientista Carlos Nobre, na live promovida nesta segunda-feira (01) pelo Congresso em Foco, em parceria com o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
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Para os convidados, o Brasil precisa urgentemente de um movimento “maior que o das Diretas Já” para combater o obscurantismo, o negacionismo e lutar por independência científica e política.
Para Nobre, a pandemia mostrou ao mundo a importância do trabalho científico. “Se a população mundial continuar a aprestar atenção nos caminhos da ciência com uma agenda sustentável será um enorme ganho. Porque estávamos observando um movimento anticiência, muito ligado aos regimes populistas e antidemocráticos”.
Ainda de acordo com Nobre, o cenário pós-pandemia também dá forças ao movimento de bioeconomia. “A saída seria se, de fato, nós lançarmos numa nova bioeconomia de floresta em pé. Mantendo nossa biodiversidade e que ela tenha potencial muito maior que a economia agrícola tradicional”, defende.
Marina acredita que o futuro do Brasil passa por três pontos. “O primeiro tem a ver com a forma como estamos enfrentando a pandemia. É preciso que haja uma ação unitária entre governo, estados e municípios. A forma como enfrentamos agora determina o que teremos de fazer no processo de transição. Segundo, o financiamento da pandemia. Os países que estão indo melhor foram os que reconheceram e protegeram pequenas e médias empresas. Compreenderam que a pandemia tem um custo. Socorro às pessoas, poque isso é investimento. E terceiro, no Brasil temos uma combinação perversa entre crise econômica, política e institucional e uma grave crise social. Por outro lado, o que não nos falta são possibilidades de criar novo ciclo de prosperidade”, pondera.
Para os convidados, a crise democrática é a mais perversa já vivida no país, tendo em vista que se abala diante de um cenário de da pandemia.
“Precisamos no organizar para conseguir impedir que o projeto autoritário em curso que compromete o país prevaleça. Temos de pensar que o campo democrático e progressista tem de se unir para enfrentar o inimigo que é igual ou pior do que foi a ditadura, temos de superar divergências. Estamos diante de um oponente muito mais sério para nós do que são nossas diferenças. Estamos diante de algo da mesma gravidade, se não mais grave que a Ditadura Militar. Há uma ameaça à institucionalidade. Temos de resistir apoiando o Congresso e a Justiça para que sejam independentes e possam mostrar o prejuízo causado pelo governo. Precisamos atuar de forma conjunta”, defende Giannetti.
Na visão dos debatedores, um movimento ainda maior do que o que foram as Diretas Já é necessário para enfrentar as ameaças democráticas. “Vejo espaço e é necessário que a sociedade se mobilize mostrando que não aceita interferência na nossa democracia. Deferentemente das diretas que foi um processo encabeçado pelas lideranças políticas, neste momento,este pontapé tem de ser dado pela sociedade. Estes movimentos Juntos, Somos mais de 70% e o Basta, são promissores e, os partidos e políticos, têm de ter humildade de não querer, mais uma vez, ter hegemonia num movimento que vem como socorro à democracia”, aponta Marina.
Para Nobre, a alusão às Diretas é importante também no campo científico, já que foi após o movimento que a ciência brasileira cresceu e ganhou relevância internacional. Hoje, pondera Marina, o Brasil é um “párea internacional. Um párea pandêmico, social e ambiental. Estamos fora dos acordos das vacinas, da economia. Criamos problemas com parceiros comerciais”, lamenta.
Ao responder sobre como o Brasil pode sair do isolamento social global, Giannetti aponta que o caminho passa por uma mudança na política brasileira. “Não vejo o país recuperando credibilidade se não tivermos a condição de aletrar a relação de forças que colocou no poder esse obscurantista. O grande desafio é nos unirmos no campo democrático e progressista para nos apresentarmos como um vetor para deslocar essa realidade que se instalou no país. O pior é repetirmos este quadro político raivoso que impede a democracia”, conclui.
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