Bruna Hassan Kulik*
Água. Um bem comum associado à necessidade, sobrevivência, humanidade e afeto. Misturada com sabão, tem poder de afastar a covid-19. Serve para higienizar alimentos, fazer comida, tomar banho. Mata a sede e equilibra a temperatura do nosso corpo, 60% composto de água. Mantém o bom funcionamento das células, nos faz chorar, suar frio e ficar com a boca cheia d´água. Por tudo isso, a Organização da Nações Unidas (ONU) reconhece como direito fundamental o acesso à água limpa e segura.
Mesmo com a declaração da ONU, só no Brasil cerca de 18,4 milhões de pessoas não contam com fornecimento diário de água. Um problema que parece difícil de ser contornado e que tende a aumentar se a água continuar sendo vista como um recurso inesgotável, passível de ser desperdiçado, embalado e vendido.
O risco da escassez de água deveria estar no topo das discussões da sociedade brasileira. Mas a preocupação está, de fato, na mira da indústria. As grandes corporações fazem questão de participar discussões de políticas públicas. Em 2018, gigantes do setor de alimentos e bebidas marcaram presença no 8º Fórum Mundial da Água patrocinando o evento e participando dos debates.
Leia também
Ao mesmo tempo que se apresentam como guardiões da responsabilidade socioambiental, as empresas se aliam a políticos e governos para articular a privatização da água e assegurar a sobrevivência do negócio. De acordo com relatórios das próprias empresas, são necessários quase dois litros de água para a fabricação de um litro de bebida industrializada.
O uso racional dos recursos põe a questão da produção de bebidas no centro da discussão sobre desenvolvimento sustentável. O plástico surge como mais um ingrediente para ampliar o impacto do setor: pelo menos 1,5 milhão de toneladas de plástico são usadas na produção de garrafas PET. A indústria de bebidas é o quinto segmento que mais consome produtos plásticos. Atrás do comércio, em atacado e varejo, das montadoras de automóveis, das autopeças e dos alimentos.
A Associação Internacional de Águas Engarrafadas indica que a busca por plástico para produção de garrafas PET cresce 7% ao ano no Brasil. Ou seja, além de preservar a água do planeta, a queda do consumo de refrigerantes e bebidas açucaradas reduziria a fabricação e, consequentemente, o descarte do produto.
O Dia Mundial da Água, festejado em 22 de março, nos convoca a pensar no futuro do planeta. Resta saber se aceitaremos ser engolidos por um mar de garrafas PET, enquanto corporações sugam a nossa água e nosso dinheiro para produzir bebidas que não matam a sede. Ou se preferimos preservar rios e mananciais e, assim, garantir o acesso universal à água. O ambiente e a vida no planeta só estarão a salvo quando houver consenso que estamos lidando com um bem comum e não com um produto para ser desperdiçado ou comprado por quem pode pagar.
*nutricionista, consultora da ACT Promoção da Saúde
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
A redução da oferta de água não é por culpa das industrias mas sim por culpa dos SOCIALISTAS que permitiram e por vezes participaram da invasão e destruição de mananciais.
O próprio HADDAD em São Paulo permitiu a construção nessas áreas que deveriam ser preservadas.
https://noticias.r7.com/sao-paulo/em-menos-de-um-ano-represas-guarapiranga-e-billings-tem-32-invasoes-25092016
http://sosriosdobrasil.blogspot.com/2008/11/represas-billings-e-guarapiranga.html
https://uploads.disquscdn.com/images/caab72f3d2978a7d8e0791e5969570dd674ea33d841104c9226c32b08c2d42e4.jpg