A proposta de aumentar a presença do gado no Pantanal para impedir o aumento das queimadas é equivocada. Na visão de ambientalistas, a estratégia do “boi bombeiro” se baseia em falácias, e leva a acreditar que o problema das queimadas no bioma, hoje, se resume às áreas de pastagem nas planícies alagadas.
“Se argumentam que os incêndios estão crescendo porque se diminui o número de bois – e isso não é verdade”, explicou Suely Araújo, que integra o Observatório do Clima e foi presidente do Ibama. “E o número de focos de incêndio tem variado sem relação com o número de bois. ‘Mais boi, menos fogo’, não é uma correlação verdadeira.”
No último dia 9, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, abordou a proposta em reunião com a comissão temporária que analisa os focos de incêndio no Pantanal. “Ele [o boi] é o bombeiro do Pantanal, porque ele é que come aquela massa do capim, seja o nativo ou plantado”, comentou a ministra.
Hoje (13), a ideia foi novamente debatida pelo ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, na mesma comissão. “Concordamos que há a necessidade do reconhecimento do papel da criação de gado no Pantanal, uma vez que o gado ajuda a reduzir a matéria orgânica”, disse o ministro.
> Salles defende uso de gado para reduzir queimadas no Pantanal
“Falar em boi bombeiro para justificar tamanha crise é equivocado, além do efetivo bovino ter crescido no bioma isso desvia o foco dos reais responsáveis pela situação”, explicou a gestora ambiental do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti.
PublicidadePara a ambientalista, diante de um cenário já previsto de seca severa que conta focos de calor muito superiores à média desde março de 2019, “não foram tomadas medidas efetivas de combate e prevenção aos incêndios, necessárias desde o primeiro semestre. Se não tivesse ocorrido um desmonte da gestão ambiental no Brasil, a situação não teria chegado à este nível de gravidade”. comentou. “Temos um governo federal falhando deliberadamente no seu dever constitucional de proteger o meio ambiente.”
Suely aponta outro problema para o bioma: apenas 4,6% do Pantanal está em unidades de conservação, segundo o Ministério do Meio Ambiente, o que seria extremamente temerário. “O Pantanal, principalmente em relação à fauna, é uma área muito especial, sendo uma planície alagada com características que não há em nenhum outro lugar do mundo”, comentou. “Deveria se ter mais área protegida ali.”
Há o entendimento de que a criação de gado na região é parte de uma cultura secular e equilibrada na região do pantanal – senadores, em audiência pública com o ministro Ricardo Salles, apontaram para o que seria uma cultura do “homem pantaneiro”, que deveria ser prestigiado como política pública.
“Ninguém questiona a questão da pecuária tradicional e extensiva do Pantanal”, disse Suely, “O que se questiona é o argumento que as autoridades estão usando. Levando o argumento às últimas consequências, seria melhor azulejar o Pantanal para que ele não pegue fogo.”
> Amazônia e Cerrado já queimaram, em 11 dias, mais que todo outubro de 2019
> Chefe de combate a incêndios do Ibama pede demissão após um mês no cargo
Deixe um comentário