O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot não estava em Brasília no dia 11 de maio de 2017, quando, segundo ele, entrou armado no Supremo Tribunal Federal (STF) disposto a matar o ministro Gilmar Mendes e cometer suicídio, revela o site Jota, especializado na cobertura de assuntos jurídicos, que aponta outras contradições na narrativa do procurador aposentado.
Em seu livro Nada menos que tudo, ainda não lançado, Janot afirma que a “mão de Deus” o impediu de praticar o crime. Em entrevistas à imprensa, ele detalha que seu dedo indicador ficou paralisado no momento de atirar. O ex-procurador-geral diz que, abalado psicologicamente naquele momento, acionou seu secretário-executivo para que convocasse seu então vice, Bonifácio de Andada, para que assumisse a cadeira na sessão plenária do Supremo.
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De acordo com o Jota, Janot viajou para Belo Horizonte na manhã do dia anterior (10) e só voltou de lá na segunda-feira, 15 de maio. Na capital mineira, cumpriu compromissos institucionais na Procuradoria da República e na Procuradoria Regional da República e fez uma palestra na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde se formou.
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A viagem, como mostra o jornalista Felipe Recondo, foi corroborada pela Força Aérea Brasília (FAB), “A Força Aérea Brasileira confirma que, no dia 10 de maio de 2017, houve ‘apoio aéreo determinado pelo Ministério da Defesa, por meio de ofício, datado de 04 de maio de 2017 em favor do procurador-geral da República para cumprimento de compromisso oficial, em que foi usada uma aeronave da Força Aérea Brasileira’”.
Recondo vê outra contradição no relato do ex-procurador-geral. No dia 10 de maio, Bonifácio de Andrada representou a PGR no plenário do Supremo. No dia seguinte, data indicada por Janot como da tentativa de assassinato, Bonifácio já estava confirmado como representante do Ministério Público Federal na sessão que discutiu um recurso do empresário Eike Batista.
Gilmar reagiu a uma declaração de Janot de que ele deveria se declarar suspeito para julgar o recurso porque sua esposa era sócia do escritório que o defendia. O ministro disse que o ex-procurador também era suspeito para atuar na Lava Jato porque sua filha advogava para a OAS, uma das empreiteiras investigadas na operação.
Outro problema identificado pelo jornalista – que estava no apartamento de Janot semana passada quando a Polícia Federal apreendeu sua pistola, suas munições, seu tablet e seu celular – é que o ex-procurador havia relatado a colegas a intenção de matar o ministro como um “mero arroubo”. Conforme a apuração do jornalista, Janot chegou a declarar a amigos e companheiros de PGR o desejo de praticar o crime.
“E disse que fora Bonifácio de Andrada quem o tirou a ideia da cabeça. Janot descrevia a história, portanto, como um destempero momentâneo. Era essa a versão que compartilhava com seus assessores mais próximos dos tempos de PGR. Nenhum deles nunca tinha ouvido esta narrativa paralela”, aponta o Jota.
O Salão Branco do Supremo, onde Janot diz ter preparado sua arma, é vigiado por seguranças e câmeras do tribunal. Segundo ele, seus movimentos foram feitos sob a toga, o que impediria os vigilantes de identificarem uma ação suspeita.
“A desconfiança de ministros em relação à história é tal que, ontem, antes de iniciada a sessão de Turma, um ministro demonstrava para dois capinhas a impossibilidade de isso ter ocorrido, simulando os movimentos que Janot disse ter feito. Ou seja, são poucos no Supremo que acreditam na versão de que Janot teria transformado em ação o seu arroubo”, conta Recondo.
O jornalista relata que, no dia da operação da PF, Janot lhe contou que havia uma única testemunha de todos os fatos. “Mais um problema na versão: alguém acredita que um assessor assistiria passivamente a uma tentativa de homicídio no Supremo e permaneceria silente? Ainda mais sendo um servidor do próprio STF cedido à Procuradoria”, questiona.
Segundo Recondo, colegas de Janot acreditam que a confissão dele não passa de um “wishful thinking”. Por esse raciocínio, o ex-procurador pensou em praticar um ato de violência e passou a acreditar que do mero desejo passou à prática.
“Janot não matou Gilmar Mendes, nem foi armado ao tribunal quando disse ter ido. Mas, uma parte da sua versão, figurativamente, condiz com a realidade: Janot cometeu um suicídio profissional e prejudicou, com sua história, a Lava Jato, o Ministério Público e seus ex-assessores”, entende o analista-chefe do Jota.
O Congresso em Foco não conseguiu localizar Rodrigo Janot para comentar o assunto. Dois emedebistas entraram, nesta semana, com pedido na seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Distrito Federal para cassar o registro profissional dele e impedi-lo de continuar na advocacia. As ações são movidas pelo senador Renan Calheiros (AL) e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
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Quem mandou acreditar em conversa de bêbado.