Entidades que buscam ampliar a participação das mulheres na área de infraestrutura se manifestaram em repúdio a um vídeo que circula nas redes sociais, associando o desabamento da Linha-6 do Metrô de São Paulo, na última segunda-feira (1º), com a presença de mulheres na equipe. A publicação chegou a ser compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Veja a mensagem de Eduardo Bolsonaro:
“Procuro sempre contratar mulheres”, mas por qual motivo? Homem é pior engenheiro?
Quando a meritocracia dá espaço para uma ideologia sem comprovação científica o resultado não costuma ser o melhor
PublicidadeEscolha sempre o melhor profissional, independente da sua cor, sexo, etnia e etc pic.twitter.com/IGWvpa1Ys7
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) February 4, 2022
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Enquanto várias mulheres dão entrevistas sobre a participação no projeto e exaltando a oportunidade, são mostradas imagens do acidente ocorrido na obra, como se a presença delas no projeto fosse a responsável pelo ocorrido. O vídeo mostra a imagem, nome completo e cargo das profissionais.
No entanto, além da analogia estapafúrdia, a maioria das mulheres que são expostas atuam em áreas como comunicação, recursos humanos, segurança no trabalho e administrativo. Duas engenheiras, uma agrimensora — responsável por demarcar terrenos — e uma planejadora falam no vídeo.
A iniciativa independente Women on Board (WOB), que reconhece empresas que empregam mulheres nos conselhos administrativos, afirmou que o vídeo é “totalmente misógino e tenta diminuir e inferiorizar” as mulheres.
“O vídeo é mais um conteúdo machista em um mercado amplamente dominado por homens e que impõe inúmeras barreiras para a atuação diversa no setor”, segue a nota de repúdio.
“O WOB manifesta irrestrito apoio e solidariedade a todas as profissionais, engenheiras, técnicas e operárias que dedicam suas vidas para promover o desenvolvimento em todo país. Não podemos aceitar nenhum tipo de preconceito ou discriminação em nossa sociedade”, concluem as autoras.
O grupo sem fins lucrativos, Infra Women Brasil (IWB), destinado a promover e incentivar da presença de mulheres no setor de infraestrutura, também se manifestou. “Estereótipos machistas disfarçados em ‘piadas e brincadeiras’ são maneiras conhecidas e ultrapassadas para reforçar preconceito e discriminação”, reforça a entidade.
A Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos) repudiou o vídeo e classificou como “inaceitável” se aproveitar da situação de crise para reforçar mensagens preconceituosas e discriminatórias.
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) manifestou apoio às profissionais e afirmou que “não compactua com condutas preconceituosas, que incitam a circulação de informações falsas e o desrespeito”.
Segundo a concessionária responsável pelas obras de construção da linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, o desmoronamento ocorrido na obra não tem relação com as obras de ampliação do transporte subterrâneo.
“Com as informações disponíveis neste momento, o incidente ocorrido esta manhã na Marginal Tietê não está relacionado diretamente ao desenvolvimento das obras da Linha 6-Laranja. Trata-se de um rompimento de um interceptor de esgoto”, afirmou a nota da concessionária.
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