Muitos seres humanos justos e íntegros se manifestaram contra o descalabro da Federação Internacional de Falcatruas Associadas, que, não contente em excluir o melhor jogador uruguaio do Mundial 2014 por motivos que suspeito serem os mesmos da expulsão do argentino Rattín na partida contra os anfitriões ingleses em 1966 (o soprador de apito, juro, deu o “olhar em seu rosto” como um dos pretextos!), tratou Suárez qual um pestilento a ser mantido em quarentena, bem longe dos estádios.
Ao meu ver, a Fifa carregou nas tintas para fazer de conta que foi o falso moralismo e não o calculismo que inspirou a aberrante e inquisitorial sentença. Me engana que eu gosto.
Até mesmo a dita vítima, o chorão Chiellini, considerou “excessiva” a punição. E foi Maradona o autor da melhor frase: “Quem ele matou? Por que não o mandam para Guantánamo?”.
Não fico nem um pouco surpreso em encontrar o Pelé na posição antípoda e antipática. Alegou que, caso não houvesse rigor, episódios desse tipo poderiam se repetir durante a Copa.
Sorte dele que, naquele amistoso entre Brasil e Alemanha em 06/06/1965, a Fifa aplicou critério bem diferente: o alemão Giessmann disputou uma bola dividida com a rispidez habitual dos europeus, mas sem maldade, e Pelé, propositalmente, quebrou a perna do coitado, com toda a maldade do mundo.
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Meninos, eu vi (pela TV, que transmitiu para São Paulo a partida disputada no Maracanã e vencida pelos canarinhos por 2×0).
PublicidadeDaquela vez, a expulsão bastou. Se encarado com o rigor extremo aplicado à besteirinha do Suárez, o episódio justificaria até o banimento definitivo de Pelé dos gramados. Afinal, um coice que fratura o adversário é infinitamente mais grave do que uma mordida que nem sangue tirou.
Só que alguns sempre foram mais iguais para a Fifa. Que o diga Zidaine, cuja eleição como melhor jogador do Mundial 2006 foi mantida apesar de ele ter agredido o italiano Materazzi e sido expulso na partida final.
E há o preconceito, o terrível preconceito, tão bem descrito nestas palavras inspiradas do presidente Pepe Mujica:
“Os jogadores geniais frequentemente nascem nas entranhas do pobrerio. Nem sabem a alegria que nos dão. (…) A maioria deste mundo são os esquecidos, os que não têm voz. Quando um deles sobe, incomoda”.
* Celso Lungaretti é jornalista.
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